© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

curiosidade (i)

Fala sobre a vida como quem constrói casinhas de lego meticulosamente alicerçadas no tabuleiro verde onde qualquer coisa pode crescer. Por lá, coloca pecinhas amarelas e brancas, umas sobre as outras, até ao telhado vermelho com águas furtadas. E, pelo meio, não se esquece das portas, das sancas, ombreiras e frestas, nem das portadas das janelas azuis. Porém, quando curiosa, fala ainda mais rápido, encaixando e sobrepondo muitas mais pecinhas num frémito sem se atrapalhar. As paredes ficam então mais altas, quase inacessíveis e, com elas, as janelas ultrapassam finalmente o cimo dos pinheiros sobre as margens do lago branco. O telhado, agora hexagonal, já faz cócegas ao céu, e ao meu ouvido. Na verdade, a sua curiosidade faz de singelas casinhas um sereno e imenso castelo, e das portas, um portão alto todo janota.

Não resisto. Vou até à entrada, toco à campainha, entro e espreito. Mas já não estava lá.

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