© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Amor de Mãe


Ao contrário de uma maioria cosmopolita esperta, que liba com caçoada efusiva, nunca atentei contra quem um dia, noutros tempos e noutras guerras, picotou para sempre a frase "Amor de Mãe" no antebraço. Como nunca escarneci quem percorre, de joelhos esfolados e em agonia, o giro pela Capelinha das Aparições de Fátima, ou reza o terço de prata noite fora sem pregar os olhos nem a cruz. Na verdade, admiro e enalteço, com uma pontinha de inveja velada, quem acredita ferinamente em alguma coisa. Eu, por exemplo, acredito neles, numa mãe e num filho. E no que os une para sempre. Com franqueza, não me digam que não creio no Divino.


9 comentários:

  1. O amor de mãe, é seguramente a única vivência do amor total, incondicional, ilimitado. Há de resto um belíssimo poema de Drummond de Andrade sobre isto,chamado "Mãe não tem limite". E, de uma certa maneira, acreditar, seja no que for, engrandece a existência, digo eu, sei lá... Não importa!

    O seu post, lindíssimo! (como sempre...)

    Beijinho :)

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    1. Acreditar no "amor total" engrandece, sim. Por mim, até só observar deifica.

      Obrigado e beijinhos :)

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  2. Paulo,

    Tocaste a minha corda sensível mais uma vez....texto e música dum dos mais sublimes filmes que jamais vi.

    Realmente só se sabe o que é o amor por um/a filho/a que os tem e quem sofre na pele as mil e uma agruras, pequenas e grandes, que advém do facto de não se ser só....

    Também acredito mais no amor de mãe que em qualquer outra coisa. Porque esse vê-se.

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    1. Eu sublimo esta estranha espécie de amor, que mais alto não conheço.

      Obrigado e beijos,

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  3. Paulo
    Tenho, felizmente, não só a experiência de ter sido uma filha muito amada, como a de uma mãe que muito amou e ama. Mas estes amores, maternais ou filiais, inscrevem-se no campo da consanguinidade, da genética. Quando perdi a minha Mãe perdi um bocado de nós. Quando perdi um filho, perdi-me.
    Vou tentar explicar. A minha mãe, que foi a minha maior amiga, levou consigo bocados de nós duas, que só existiram porque nós os fizemos, os criámos. Quando morreu o Miguel, morreu uma parte de mim que eu lhe dei. Hoje eu não sou, não serei mais, a mesma pessoa. E aquela que eu fui, jamais se repetirá.
    Mas o amor carnal, chamemos-lhe assim, por ser o único fruto da nossa escolha, pode ser surpreendente. Pode amar-se alguém uma vida inteira. Perdidamente. Só que, neste caso, é este amor que sofre alterações. E no amor filial ou maternal ele mantém-se igual ao longo da nossa existência.

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    1. Helena,

      Perfeitamente de acordo quanto à sua belíssima distrinça entre amor filial e carnal. Em boa verdade, quis apenas neste pequeno texto realçar a emoção que sinto, não como filho, mas como observador directo, presente, quando vejo a relação entre um filho e uma mãe (e perdoar-me-á, mas refiro-me mesmo apenas a um filho do sexo masculino e uma mãe). Quase nada mais me comove tanto, me toca tanto, me pica até ao coração. Esta experiência, quanto a mim, é muito similar à Adoração do Divino; passa muito além do Humano, do reino dos pequenos afectos, da circunscrição do simples prazer. Como observador, repito, rendo-me à sublime evidência e creio em todos aqueles gestos, como um servo acredita e sublima Deus. O poder intra-uterino é para mim um mistério maior - não hão-de vós, Mulheres, saber tudo sobre nós, Homens, sempre filhos de um amor maior...

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  4. Muito bonito... eu tenho um pequeno e é o amor maior, sim.
    Também gostei do que a Helena escreveu - como não?
    E acreditar no divino é bom, essencial, se isso nos alenta e dá força. Qualquer divino que nos leve ao bem é bom. E o bem passa por muitas coisas, claro. Entre elas ser livre e deixar ser livre. Na escolha e no amor...

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    1. Também gostei muito do que a Fatinha agora escreveu... :)

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