© Paulo Abreu e Lima

domingo, 10 de novembro de 2013

acasos

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)


Há muito muito tempo nasci num conto de fadas Orianas que nada tinham a ver com Shopia. Uma pena, os livros têm sempre um encanto escondido nas linhas mestras dos textos, que intercepta as almas de pessoas a crescer no tempo que não acaba, porque existem varinhas de condão. É mais ou menos o livro em cada inicio, há o rigor do instinto, o colo da casa, a página que se segue, uma atrás da outra, um, dois, três... Quando tudo começa, é relativo. Começa quando a concepção acontece, no frio da noite, a meio de um Inverno, numa cama sem fim? Ou quando a cabeça espreita um mundo sem forma e com vozes, que afinal existe para fora da mãe? Que bem vistas as coisas não é mais do que um prolongamento do filho, mentalmente analisando. Que por sua vez e curiosamente, é um prolongamento da mãe, fisicamente falando.

Pode ainda começar mais tarde, quando o mundo ganha corpo na nossa cabeça, pontos cardeais, directrizes capazes de nos governar os instintos que afinal não pertencem só aos bichos. Caramba, também nós vivemos de tendências e impulsos que diminuem a exactidão dos instantes, não fosse assim e a matemática tomaria conta de um mundo recto e banal, puro desperdício. Para mim, é exactamente aqui que tudo começa a sério, e se me permitem a leviandade de uma apaixonada do inconsciente. Mas não percamos excessivo tempo com isto, a casa é essencialmente masculina, não há lugar para complicações. O objectivo é simples, calma, necessitei apenas de um enquadramento harmonioso: deixá-los acontecer espontâneos, aos instantes e aos acontecimentos, permitir que a livre vontade também nos construa, a par e passo com a razão da coerência. Esquecer o sumo exagerado de explicações e planeamentos, ainda um dia gostaria de saber para quê. Não esquecer as questões, claro, quem pergunta mesmo sem resposta elimina os trajectos inconvenientes, ainda que nem dê por por isso.

Haverá outros percursos, falaciosos, enganadoramente mais firmes, quase capazes de nos unificar na experiência, tudo o que queremos. Mas a nossa desenvoltura, e por firme que seja, nunca abrange em plenitude a constante frustração. E por fim especialmente para as senhoras, é assunto maioritariamente nosso: gostamos de mandar o corpo e a alma em consonância com a vontade ideada a um ror de distância, até no vestido a usar no próximo acontecimento social, daqui a uns meses, em vez de confiarmos na casualidade de uma loja ao acaso, detentora de um assombroso modelo que nos assenta a matar.

O nosso mando, às vezes, tantas vezes, pode mandar contra nós. E nós, ufanos, deixamos, cientes na certeza que não há, deixando a harmonia do incerto a passear ao nosso lado.

Passeios bons lado a lado, são outra coisa e nada disto, e pasmem-se, começam sempre inesperados. E mesmo depois, já esperados, podem acontecer sem ser nada no rigor do dia certo, ou serem tudo quanto se quer, num acaso apenas fortuito.

2 comentários:

  1. CF:
    Mesmo considerando que as melhores e maiores coisas da vida acabam por ser fruto de um acaso qualquer e, por isso, concordando consigo num certo sentido, não é tanto o seu post que quero comentar. Apeteceu-me, antes, saudar o seu início de percurso aqui, agora como autora. (porque como comentadoras já nos tínhamos ambas cruzado por aqui várias vezes... ;) É que, como certamente já terá reparado, eu diria parafraseando o que li hoje no DO, escrito por Marta Spínola que este é um blogue onde eu "gosto de estar". Daí que a minha presença seja por aqui muito frequente.

    Aqui fica um beijinho, pois.

    Isabel

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    1. Isabel, já nos tínhamos cruzado, sim, que também eu gostava de cá estar... :) Agora, e num "estar" diferente, só posso agradecer-lhe as suas saudações, aguardando que a frequência com que nos visita, continue com a assiduidade habitual. Um beijinho para si também.

      CF

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