© Paulo Abreu e Lima

domingo, 20 de abril de 2014

Caxinas

Caxinas é um sítio onde se pesca não só com rede, mas também com a tradição e o coração. O sustento vem do mar que galga a costa, as casas, os barcos e tudo quanto se aproxime, mas a subsistência atida ao peixe fazem com a força não esmoreça, na terra onde os pescadores são devorados pelo oceano. O que me espanta não é a precisão entendível, é a vocação que encontro nas palavras de quem sabe o perigo. Nos homens que conhecem o mar que os pode matar em segundos, mas que ainda assim afirmam que o dia de hoje acolhe quem morreu, e os de amanhã servirão para entrar de novo na imensidão. Como se a vasteza da água fosse uma casa onde diariamente recebem o ar que respiram, e como se nenhuma outra lho pudesse dar. Não sei se é coragem, dedicação ou simples necessidade, nem julgo muito relevante catalogar sentires no que toca à lida em questão. Mas parece-me muito importante sentir que a terra vive e respira o mar que lhe leva os homens, e que as mulheres, desde sempre, rezam na praia a chorar. Amanhã é outro dia, cada um com o seu fado. O barco, a rede, as ondas, o mar, a memória, a recordação, a força, a fé. 

Sem comentários:

Enviar um comentário