© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 6 de junho de 2014

o bobo

A questão é simples: os bobos faziam rir pessoas na idade média, divertiam nobres e acreditava-se que espantavam o mau-olhado e traziam sorte para o castelo. Na generalidade das vezes eram loucos, anões ou corcundas, e tinham por tarefa entreter os monarcas com fantochadas e, principalmente, com as suas informidades. O poder e a opulência assumia-se assim em todo o seu esplendor, e quanto maior a macacada, maior a risada. Hoje, muito além do séc. XIV, continua, muitas vezes, a gozar-se a imperfeição. Mais discretamente, como quem não quer a coisa, assume-se com fineza o papel do consórcio e bate-se com as mãos nas costas, para fazer agrado e mover mais um pouco a palhaçada. Como com os bonecos de corda. Do “lado de cima” assiste-se no coreto e em primeiro plano, enquanto o bobo, alegre e contente, sorri sem saber para quem. - Está feliz, gosta tanto de nós, uso escutar ao longe. - Olhem como se diverte… E o teatro prossegue, enquanto o bobo faz a festa e a assistência deita os foguetes, apanha as canas e bate as palmas, crente no seu papel, distinto e elevado. 

A vida deve ser isto, haja quem os faça acreditar, certificando a toda a hora o merecido lugar de cada qual: de um lado a grandeza, do outro a pequenez, de um a lucidez, do outro a fraqueza, de cima a caridade, de baixo o reconhecimento (a bem da verdade, de baixo o gozo e o menosprezo, de cima a genuinidade e a generosidade).

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