© Paulo Abreu e Lima

quarta-feira, 2 de julho de 2014

perigos

Deram-mo de bandeja nas minhas mãos. Traçaram-me metas, coordenadas, tempos e direcções. Marcaram a trajectória inundada de vontades expressas e consagraram-me as palavras moldadas a uma vontade improvável, digo eu, dentro daquilo que nos é possível saber ao certo. A vida é imprevista, bem sei. No limite os sonhos podem ganhar rumo, erguerem-se com vida própria, contrariar a tendência definida à partida, e simplesmente acontecer. Raras vezes, muito poucas, naqueles que são realmente uma improbabilidade. E agora, pergunto eu? Reservo o espaço à razão, aniquilo a esperança, mato a vontade e restabeleço a verdade com base na realidade possível? Ou permito a existência de uma fantasia que transporta corpos parados pelo mundo afora, que os ergue do chão, que possibilita a existência de um desejo, quase extinto pela veracidade? Fico-me sempre por esta última, devo confessar, a não ser que a interposição se imponha interventiva ao ponto de ser necessária a clarificação. Caso contrário vou ainda mais longe, e chego a entrar no devaneio. Idealizar não mata ninguém. Deixar de acreditar é de longe bem mais perigoso.

( Matar sonhos é com a vida. Quem assume essa tarefa, de forma incauta e implacável, assume mal.)

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