© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

circo

Hoje em dia vende-se felicidade estampada em fotografias, em revistas, em blogs e redes sociais. Procura-se a imagem certa, junta-se a melhor frase, veste-se a melhor roupa, vive-se o melhor amor. A mim, que estou de fora deste rol da perfeição, fica-me sempre a ideia, eventualmente infeliz, de que esta gente não tem tempo para viver o que apregoa. Que deve acordar cedo a pensar no que dizer, que se concentra com afinco nas fotografias a postar, que escolhe a dedo as frases a mencionar, que olha para a câmara vezes sem conta, em poses estudadas e treinadas, como um cão de circo no seu melhor (nunca fui amiga de circos). A alegria espontânea e vivida é bonita de partilhar. A felicidade que vem empacotada de acordo com o socialmente esperado parece-me frágil, fátua, não bastante em si mesma. E sentir bom, que é sentir bom, basta por e para nós. Mesmo que a vizinha, a prima, a amiga, a inimiga, o senhor da mercearia e a dona da loja da esquina, não saibam, não imaginem, não vejam e não invejem.  

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