Nascera em Moçambique, onde seus pais oriundos de Diu vieram a estabelecer negócio promissor de pescados, mas muito cedo chegou a Portugal. Os seus traços indianos eram indisfarçavelmente belos. Cabelo abundante negro ligeiramente ondulado e quase azul ao clarão dos raios solares, olhos cleópatras escuros de escleras alvas luzentes, lábios recortados marrons, corpo esguio de silhueta marcada. Esta é pra casar!, cuinchava o Luís, nascido todos os dias na Luciano Cordeiro, cada vez que aparecia com os mapas do pessoal e lhe tentava apanhar o cheiro viçoso a romãs frescas pela manhã. Já o Joel, arquivista dos Correeiros, não a conseguia olhar de frente e só à distância sussurrava boa tranca! enquanto falhava sempre o primeiro degrau da escada. Os piropos que Elisa recebia diariamente no trabalho eram fatelas, sem pontinha de graça, mas inofensivos e pouco audíveis. Qualquer coisa nela os remetia para o recato. Talvez porque juravam tê-la visto a caminho da mesquita ou, porque nunca a tinham visto a comer uma só maçã, achavam que jejuava o Ramadão ao lado de um chulo terrorista que lhe bombardeava o corpo e lhe raptava a alma. Porventura, estavam certos: Elisa vivia sozinha numa cave esquerda húmida sem electricidade com o seu filho faminto de dois meses e a visita diária do velho senhorio suicida que empunhava três meses de atraso.
Belo texto. Triste história. Vida real. Infelizmente!
ResponderEliminarNão sei quando se passa a história...mas a referência aos traços indianos de Elisa, mexeu qualquer coisa em mim.
ResponderEliminarCabelos negros assim, havia-os na minha família...ainda há, só que não os vejo agora.
Os portugueses são racistas, sempre foram e durante anos não confessava que o meu Pai nascera em Goa, sobretudo aqui no Norte, apesar de ele ser quem era.
Sei que isto não tem nada a ver com a tua narração, mas o meu sangue ainda me ferve nas veias.
Bjo
Bjo
Helena,
ResponderEliminarNão consigo "agradecer" o texto: os nomes são fictícios, mas a história verdadeira é profundamente muito mais infeliz...
Beijinhos,
Paulo
Virgínia,
ResponderEliminarOrgulhe-se do seu sangue quente! Goa era a região mais culta e esclarecida da Grande Índia. Influência secular jesuíta. E não pergunte, eu sei!
Bjo
Paulo