No mês em que só se fala de liberdade, talvez seja importante pensarmos que a mesma não é fazer o que bem entendermos, isso apenas seria possível no limite do isolamento social. Liberdade implica acima de tudo respeito a nós e ao próximo (como de resto o dicionário refere), caso contrário será irrealizável falar num mundo livre. Prezo a minha acima de um patamar elevado, considero-a a base da minha forma de ser e de estar, mas somente porque efectivamente me rejo sobre ela de forma direccionada ao bem estar comum. Gosto porém de ouvir os pregões que afirmam ditos como, sou livre, e por isso faço o que eu bem entender. Isso, apetece-me dizer, não é liberdade, pode mesmo ser egoísmo. Ou pode ainda ser uma ignorância suprema de considerar que livre é quem toma as opções isoladas da realidade circundante, é quem proclama a vontade acima do custo alheio, é quem se esquece que o mundo entraria em colapso se todos nós celebrássemos esse género de independência. Não encaro como prisão a consideração pelo próximo, o cuidado com a cultura, o respeito pela personalidade. Não me incomoda ponderar o meu mundo encaixado numa realidade abrangente, onde outras pessoas detêm outras vontades, outras verdades, outras certezas. Quem serei eu perante os outros? Apenas um ser que conhece o seu ponto de vista, livre de pensar e de agir em conformidade com a humanidade e as suas precisões. Maior liberdade seria utópica, ou melhor, seria um lugar sem rumo onde tudo quanto é relacional perderia o sentido da existência. Um preço demasiado alto, diria eu.
(É claro que aprecio a revolução do cravos e outras manifestações de liberdade. É claro que prezo as opções de escolha sadias, as análises continuadas dos caminhos, as persistências por convicção. Só julgo ser provável que na euforia desses sentimentos, tenhamos esquecido os limites a partir dos quais a mesma se torna invasão. O excesso é inevitavelmente uma doença.)
Concordo consigo. E não há pior excesso que aquele que advem de se não saber o que é a liberdade.
ResponderEliminarBjo
Pois é Helena. E o País deveria aproveitar a época para pensar nisso. Não perderia nada, apenas engrandecia...
EliminarUm beijo para si também.
Não podia concordar mais, Carla. Um belo texto que vou destacar lá no AE. E isto lembra-me os alunos rebeldes e difíceis que tenho como DT este ano. Precisam de assimilar isto, urgentemente :) Boa Páscoa para ti e para o Paulo :)
ResponderEliminarFátima, muito obrigada pelo destaque no AE. :) É sem dúvida um tema actual e a necessitar de reflexão, que passa por vezes esquecido. Votos de boa Páscoa também para ti. E muitas amêndoas doces... :)
EliminarUm beijinho
Todos os excessos são doenças. Ás vezes, são é doenças fantásticas...:)
ResponderEliminarFez-me sorrir George Sand. :) Tem muita razão, sem excessos não há limites para ultrapassar. O problema é quando surgem em eixos fundamentais da sociedade, como é o caso. Ai, podem mesmo ser perigosos...
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