© Paulo Abreu e Lima

domingo, 28 de agosto de 2011

As bárbaras invasoras

O arquipélago dos Açores é constituído por nove belíssimas ilhas. Quase que poderíamos afirmar que cada uma delas é um imenso jardim. Contudo, as espécies mais associadas às ilhas não são endémicas, mas fruto da introdução pelo Homem ao longo dos últimos 600 anos. Há quem veja nelas espécies invasoras, que vêm ocupar o habitat das autóctones. Não sou tão dramático.
 Em primeiro lugar, o que é um jardim senão a interacção esteticamente harmoniosa entre o Homem e a Natureza? Nenhuma espécie vinga em solo e em clima que não sejam compatíveis com as suas necessidades; da mesma forma que nenhum homem escolhe variedades que não ornamente e embeleze o espaço ao seu redor segundo os seus parâmetros estéticos. Os edílicos Jardins Suspensos da Babilónia (uma das sete maravilhas do mundo antigo) não foram mais do que uma demonstração de Amor que Nebucadrezar ofereceu à sua mulher Amitis, ou seja, por detrás de um jardim, há sempre um acto de amor, um propósito maior, um esforço de se abeirar ao belo. Em segundo lugar, muitas das espécies não autóctones extinguiram-se nas suas regiões de origem, fazendo desta intervenção humana uma forma de as perpetuar noutros locais com idênticas condições ambientais, privilegiando quer a Natureza, quer o Homem. Em terceiro, na generalidade da Macaronésia, donde é originária a floresta Laurissilva (loureiro e cedros), e em particular nos Açores, estas novas espécies não ameaçam de facto a riqueza endémica, porque acima dos trezentos metros praticamente não vingam. Por último, chamá-las de invasoras acaba por parecer menor, quando comparadas às grandes queimadas que desde os primeiros habitantes se executaram para o cultivo agrícola e de forragens para pastagens.


1-  Hortênsia (Hidrangea macrophyla), originária da China, introduzida como quase todas as espécies no Séc. XIX, abunda nas bermas de quase todos os caminhos das ilhas – uma das ilhas, o Faial, é conhecida por ilha azul precisamente pelas extensas manchas de Hortênsias. A cor das suas flores variam consoante o ph do solo: solos mais ácidos produzem flores mais azuis a raiar o violeta; solos mais alcalinos produzem flores mais rosa, mesmo brancas;


2-  Conteira ou Roca-da-velha (Hedychium gardnerianum), provenientes dos Himalaias e também introduzidas no Séc. XIX, disseminam-se facilmente através dos pássaros – talvez, de todas, a que mereça mais atenção quanto à possível ameaça à Laurissilva, na medida que convivem muito bem com altas altitudes;

3-  Incenso ou Faia-do-norte (Pittosporum undulatum), oriundo do sudoeste da Austrália, introduzido há séculos, não tendo sido possível determinar exactamente quando, com o intuito de separar terrenos com sebes e proteger pomares, tem um odor extremamente agradável e pelas suas folhas lustrosas e perenes adquirem particular beleza;

4-  Feto Arbóreo (da família das Cyatheaceae). São todos os fetos com troncos que se podem elevar até aos vinte metros de altura, do tempo do Jurássico (há-os fossilizados). Não se sabe ao certo quando foram introduzidos nos Açores, mas são oriundos da Nova Zelândia, Austrália e Malásia. Têm pelos e as suas frondes podem atingir os 4 metros, fazendo copas de 8.

Dá vontade de afirmar que com invasoras assim, muito dificilmente alguém poderá fazer melhor do que se render!
Vejamos então que espécies mais conhecidas, qual bárbaras, invadiram aquele território:

2 comentários:

  1. Olhar para estas fotografias dá água na boca...que lindo, dá vontade de lá ir sem pestanejar...vai ser já a minha próxima viagem de verão...
    Adoro plantas, muito mais do que animais - desculpem a heresia - e uma Natureza assim, seja ela burilada pelo Homem ou pelo Criador (?), é um hino a tudo o que existe à face da Terra.
    Como aguentar então as imagens que nos chegam pela TV do Corno de África ou da Líbia?

    Bjo

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  2. Essa de gostar mais de plantas do que de animais é quase tão bizarra do que gostar mais de animais do que de pessoas... :)))

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