© Paulo Abreu e Lima

sábado, 20 de agosto de 2011

Pobres e mal agradecidos

Mário Soares, enquanto Presidente da República, num dos seus muitos périplos, declarou, suponho que maravilhado, que todos os portugueses deveriam ir ao Brasil pelo menos uma vez na vida. Concordo com a sugestão – meu avô paterno emigrou por uma melhor vida na década de sessenta; meus pais tiveram de fugir ao prec pós vinte e cinco de Abril e eu já lá voltei (tenho dupla residência) éne vezes –, calculo mesmo que se hoje o actual PR a reiterasse, a Quinta do Lago estaria às moscas e Vieira da Silva teria aplaudido a deserção turística em prol do não proteccionismo. Só encontro um senão, um grande senão, ou afinal, uma condição: ide sim ao Brasil, mas começai primeiro pelos Açores. Muito mais do que pela Madeira, há muito uma pérola acinzentada pelo betão desarmado e pelos túneis financeiros.

Não sei se é culpa dos dirigentes autónomos açorianos (o anterior era apagado e o presente é encapelado); da grande quantidade de ilhas que formam o arquipélago (escolher entre nove baralha); da ideia generalizada de que aquilo é passeio de velhos (só vaquinhas e montes verdejantes); ou se mesmo do boletim meteorológico que escarrancha por lá nuvens, chuva e temperaturas medíocres a eito. Sinceramente não sei. Mas por lá fiquei uma semana e garanto-vos: não se fala de política, nove ilhas são mais nove motivos de orgulho, aquilo é para todas as idades e muitas das coisas que por lá se podem fazer é mesmo para jovens em excelente condição física e, por último, o mau tempo é pura ficção romancista de Nemésio.

Querem ver arqueologia cartaginesa? Mini-vulcões em actividade? Nadar em águas de 40 Cº? Descer por crateras idênticas à da “Aracnofobia” com ecossistemas únicos? Degustar o melhor peixe, carne, queijo, ananás, chá e águas do mundo? Contemplar a mais extensa arquitectura sacra? Contemplar a mais bela colecção de scrimshaws do mundo? Conhecer gente afável e frontal sem pretensões de enganar turista? Avistar verdadeiros “lobos do mar”? OK, então querem conhecer a Atlântida, entrar no Paraíso, arriscar o mundo e conhecer os Açores.



3 comentários:

  1. Foi sempre uma das minhas metas e já lá poderia ter ido mais de uma vez pois uma sobrinha minha é de S. Miguel, o seu casamento foi lá, mais os baptizados dos filhos, para os quais fui sempre convidada. Mas não. Sou muito mal agradecida, ainda que não tão pobre que não possa ir aos Açores!
    Prometo-te....vai ser no próximo ano e vou sozinha...sem família...para gozar tudo até ao último gole.

    Ontem escrevi aqui um comment a desapareceu.....:(((

    Bjo

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  2. Não, Virgínia, não vá sozinha: é um dever partilhar tamanha beleza!

    (Quanto ao comment, não sei... o blogue ainda está a carburar, sei lá.)

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  3. Gostei muito de ver o seu blogue. Foi-me reenviado por um amigo e vou partilhá-lo com muito mais gente. Gosto da sua maneira de escrever. É original e intensa. Obrigada.
    Gabriela Silva

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