© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

As Lagoas, todas boas

Das sessenta e sete lagoas existentes no arquipélago, vinte e três encontram-se em S. Miguel. Têm todas origem nos abatimentos das crateras ou caldeiras vulcânicas, embora algumas delas não se situem no cimo dos cones, mas em simples abatimentos com a mesma origem. Muitas delas estão associadas a lendas muito interessantes. Interessantes, criativas e com ensinamentos morais ao longo dos séculos. Visitei quase todas, mas só vou aqui falar das três maiores e mais importantes da ilha e de duas outras que me merecem um destaque especial.

Lagoa das Sete Cidades

As suas duas caldeiras siemesas constituem o maior reservatório natural de água de todo o arquipélago, alimentando-se de inúmeros leitos que correm pelas falésias de mais de 800 metros. Uma das caldeiras tem espelho verde devido às algas da mesma cor que habitam o seu fundo; a outra apresenta-se em tons de azul. Ambas são separadas por um pequeno canal rochoso - em cima do qual foi contruída uma estrada que nos conduz à pequena povoação Sete Cidades, mesmo no interior da caldeira. São inúmeras as lendas associadas a este lugar desde os fenícios. No Séc VIII, com o reino ibérico dos visigodos em decadência ante as invasões muçulmanas, surge em Porto-Cale (actual cidade do Porto) um manuscrito de um clérigo cristão que identificava a existência da Sete Civitates  no atlântico ocidental. O arcebispo local, procurando o exílio em terras católicas, decidiu partir levando com ele uma frota de mais vinte veleiros. Dizem que chegou são e salvo, ele e mais cinco mil seguidores...


Lagoa Azul
  
Lagoa Verde (não, infelizmente, não sou eu)

Separação rochosa sobre a qual foi construída a estrada que nos leva à pequena freguesia Sete Cidades


Lagoa do Fogo

Esta lagoa, a segunda maior da ilha, com uma área de 1.360 ha, encontra-se no cume de uma montanha com mais de 950 metros de altura. A última erupção ocorreu em 1563. O desnível das suas falésias interiores ascendem a 575 metros e não se pode lá chegar senão em escadas pedestres em terra batida e desnivelada com degraus de mais de 50 centímetros. Ora, 1.150 degraus de meio metro, descer e subir  o equivalente a 150 andares, não é para todos. Mas vale mesmo a pena! Lá em baixo há um belo e extenso areal e a temperatura da água à volta dos 26Cº.

  
Panorâmica obtida do Miradouro da Serra da Barrosa
 
Lá ao fundo é visível o extenso areal que circunda o pontal

Aqui em baixo as águas são extremamente transparentes, límpidas e... quentes! E há que retemperar forças e pensar em subir o equivalente a um prédio de 150 andares sem corrimão
Lagoa das Furnas
Esta lagoa localiza-se na parte oriental da ilha, no concelho de Povoação. Em suas margens, existem pequenas caldeiras de água em ebulição com um intenso cheiro a enxofre. Ali perto é confeccionado o tradicional Cozido das Furnas. De todas as que visitei, esta é a mais fantasmagórica; não só pelas lendas associadas, pela presença do Masoléu de José do Canto que já aqui escrevi, mas por toda uma luminosidade verde escura e enevoada que confere a todo aquele local algo de sinistro, de gótico, de sobrenatural. Uma das lendas mais conhecidas diz que antes da lagoa existia uma feliz aldeia em que os seus habitantes faziam quase todos os dias festas de arromba com farta comida e bebida. Em três dias, montes deslocaram-se, terrenos revoltos moveram-se e no lugar da aldeia surgiu a actual lagoa. O borbulhar e o fumo das águas quentes nas caldeiras da margem, seriam a evidência que na aldeia soterrada ainda se encontravam os festivaleiros habitantes que, em contínuo, cozinhavam lá de baixo, deixando aromas de milho e pão cozido.




Lagoa do Congro

Próximo da Lagoa do Fogo, situa-se a lagoa que mais me surpreendeu. Imaginem uma área relativamente plana e densamente florestada por espécies seculares. Do nada, surge um trilho pedestre que, entre árvores e arbustos intocados pelo Homem, nos leva por ali abaixo sem vislumbrarmos para onde nos dirigimos. Vinte minutos depois encontramos isto:



Muitos açorianos desconhecem esta esmeralda gigante. Água tépida verde-musgo sem qualquer impureza (banhei-me por muitas horas), numa harmonia desconcertante com todo aquele arvoredo. Guardei segredo quanto à sua precisa localização.

Lagoa do Ilhéu de Vila Franca do Campo

Deixemos agora a ilha e... vamos para um ilhéu. A pouca distância de Vila Franca do Campo existe um ilhéu que ao contrário dos outros, as encostas viradas para o mar são muito mais altas do que o centro. De forma anelar, o centro do ilhéu não é mais do que a cratera extinta de um pequeno vulcão, em que a água marítima entra por uma pequena entrada, fazendo da caldeira uma lagoa de água salgada. Por dia, só podem ir quatrocentas pessoas para o ilhéu, não se pode usar cremes bronzeadores e fumar só mesmo de cinzeiro plástico na mão. Conclusão: águas transparentes e límpidas cheias de peixes de considerável tamanho, numa piscina circular natural com fundo em areia branca. Ao longe, Santa Maria à vista.

6 comentários:

  1. Paulo:

    Desculpa, mas as tuas fotos chegaram numa altura má do meu dia, fiquei sem palavras ao ver tanta beleza, tanto verde num local que afinal é nosso. Tenho de conhecer essas ilhas, é urgente. Irei lá logo que possa...

    As fotos deram-me um enorme desejo de evasão porque conseguiste transmitir-lhes aquela sensação de virgindade convidativa, mas ao mesmo tempo misteriosa.

    Adorei toda a entrada...continua, please!

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  2. Falta um post sobre o turismo, os açorianos e Ponta Delgada.

    Obrigado Amiga,
    Paulo

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  3. Escreve antes do dia 12, em que me vou embora...

    Vou comparar os preços demáquinas....lembrei-me duma amiga minha do Woophy que vive em Londres e já combinei com ela encontrar-nos lá. Ela é mergulhadora e tira fotos debaixo de água:))

    Bjo e boa semana....

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  4. Não me canso de olhar estas fotos....são tão inspiradoras....aquela da água dá-me vontade de mergulhar.

    Cheguei à conclusão de que as Canon são mais baratas cá do que em Londres, na Pixmania custam 599 euros, estão com grande desconto. Lá 600 libras!!
    O que achas? E qual a objectiva a comprar? Ando mesmo com vontade de mudar, esta já tem tres anos , é muito prática, mas limitada.

    Bjo

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  5. Sou cliente da Pixmania (preços imbatíveis. Quanto à objectiva, ficava-me por uma 18-50 mm, ou seja, por uma grande angular. Só quando a Amiga Virgínia quiser fotografar os jogadores do seu FCP no treino é que comprava um tripé e uma objectiva superior a 200 mm :)))

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