© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

homens tristes

 
Não há nada mais triste que um homem vencido pelas circunstâncias, pelos outros, pela vida. De repente deixa de ser pai porque já não é exemplo para os filhos e de ser avô porque já não faz sorrir os netos. Deixa de manter o emprego e de conseguir outro. De ser empreendedor porque já não dispõe de crédito, de ser sustento, de ter património ou matrimónio. Não há nada mais triste que um homem derrotado e que numa vaia muda passa a coitadinho, a peso pluma e a fardo pesado. Subsistirá sempre a dúvida se teve azar ou se foi fraco; se foi alvo de tramóia ou se já era o elo frágil; se quis ir mais longe e não teve arcaboiço. Quando muito, em surdina, dirão os espertos que foi um pouco de tudo isto, mas o estrépito que lhe implode é tremendo, quase indesculpável – não merece piedade! – e, excessivas vezes, não resiste e afasta-se. Sente como ninguém a culpa bem dentro, mesmo que nunca ninguém à sua frente lhe tenha alvejado. É homem: sai de casa, sai de si e vai morrer longe. Sem que lhe tenham encontrado mesmo ao lado a sua esmagadora presença. E dignidade.

7 comentários:

  1. :) Um sorriso ao texto. E ao conteudo.

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  2. A vida não é uma estrada escorreita e livre de escolhos. Talvez a maior fraqueza seja a de quem deixa que estes homens fiquem tristes, sozinhos. Podemos e devemos ficar tristes acompanhados. Seguros, na firmeza dos laços que nos unem aos outros Sejam eles de que tipo forem.
    Infelimente cada vez vivemos mais numa sociedade que se quer de "festa".E a festa,não dura sempre, na vida de ninguém.

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  3. CF,
    :) Outro para ti também. Obrigado.

    Filipa,
    Ora nem mais! Foi ao fundo do post: que sociedade hipócrita é esta que na primeira curva volta costas aos que ficaram para trás...? Só mesmo numa sociedade europeísta...

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  4. Disseste bem "homens tristes"...porque as mulheres nunca o são totalmente, há algo nelas, seja os filhos, seja o instinto de sobrevivência ou as ilusões em que acreditam piamente, que as impele para a frente e faz arriscar tudo para não serem derrotadas.
    Os homens precisam de companhia, de suporte ou muleta... em especial das mães, sem as quais são incapazes de reagir em momentos difíceis, sobretudo quando as mulheres os abandonam a meio da vida.

    É um tema tramado,sabes?

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  5. É sim, Virgínia. Conheci (e conheço) alguns. São calados, sem brilho nos olhos mesmo com lágrimas... Tramado e triste.

    Bjo

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  6. Conheci um homem assim, que se fastou para morrer sozinho, tal como descreveu. A solidão no masculino é mais pesada que no feminino, tem qualquer coisa de dramático, especialmente quando associada a fenómenos o como desemprego.

    Mas isto não tem que ver com a sociedade ser europeísta, tem a ver com a própria raça. Há um lado animal nesta atitude, um lado de orgulho ferido, de fim de linha, o animal que se afasta para morrer longe do seu grupo.

    E, já agora, Paulo: texto muito bem escrito.

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  7. Cara UJM,

    Não sabe o que me tem custado este pequeno texto nestes últimos dois dias. Ele é comentários anónimos com conteúdos extremamente pessoais e personalizados que me impedem de publicar; ele é hate mails que sabe-se lá por que razão me foram endereçados... olhe, enfim, às vezes não apetece muito escrever se com isso povoo mentes e presentes complicados...

    Mas obrigado, na mesma, UJM.
    Beijinhos,

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