© Paulo Abreu e Lima

sábado, 30 de junho de 2012

a geração marc johnson

No seu espelho, vê um homme du monde. Influente, abastado, movendo-se nas rodinhas certas. Um connoisseur de restaurantes, vinhos, máquinas potentes, "gajas" e essoutros adornos que lhe enfeitam o aplomb. Tem convicções, claro: a sua geração produziu mais convictos por milímetro quadrado que ratos o navio. Todos francófonos, por defeito. Excessivement ennuyeux, à Steinbroken. Chatos que nem hóstias, à moi.

Um tipo perfeitamente tolerável, em doses profiláticas, por efeito vacina. Em certos domínios e em particulares coutadas, quase inevitável: vem com a mobília. Sobretudo com a cadeira magistral. O que hoje me caiu em penitência, no entanto, é um híbrido: foi cruzado com porteira. Sabe rigorosamente tudo sobre toda a gente, do primeiro ministro ao último moicano. Tudo, no caso, é o pormenor insalubre, o mexerico fica-entre-nós, o guloso não-devia-contar-isto, o impante ninguém-sabe-mas. Seguro em fontes credíveis, fontes em primeiro ou segundo grau de proximidade, que o biltre conhece meio mundo e a outra metade não tem que conhecer.

O prazer que retira da bisbilhotice é quase físico. Estremece na gargalhadinha púbere, os olhos reluzentes de gozo, enquanto pela boca móbil de garoupa lhe escorre sumo de malícia, com um soupçon (hélas! a francesice é altamente contagiosa) de peçonha. Vibrante de picaresco revisteiro, invade o interlocutor com palmadinhas nas costas inundadas de cumplicidade balofa enquanto debita adultérios sem graça e intrigas rascas. É constitucionalmente impossível fazer-lhe entender que a maledicência não é a oitava arte. Plus ça devient vieux plus ça devient con...

reeditado

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