© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

street photography: cuidadinho...

Quem por aqui me visita já reparou que nunca publico fotografias de e com pessoas. Não sou misantropo ou coisa similar; muito pelo contrário, a natureza humana muito "m'espanta" e agrada, sucessivamente e cada vez mais.

A denominada fotografia de rua atingiu o seu apogeu até à década de oitenta, onde nomes como Garry Winogrand, Robert Doisneau e Josef Koudelka muito dignificaram este tipo de arte, e em que os instantes capturados dos transeuntes pelas ruas das grandes metrópoles atingem verdadeiras narrativas e indizíveis histórias. Henri Cartier-Bresson, considerado o pai do fotojornalismo, foi o seu maior expoente. Ele e sua famosa Leica de 35mm. Hoje em dia, com o advento das novas máquinas digitais, são mais os que munidos as empunham do que os apressados e desconfiados que lhes fogem. A dinâmica das grandes ruas e avenidas é outra. A atenção e a preocupação, também.

Surge de imediato uma questão: podemos andar por aí a fotografar pessoas anónimas em locais públicos? Sim e não. Sim, se a pessoa objecto da foto não se insurgir no momento; não, caso contrário. De qualquer forma, nunca o visado pode reter ou mandar apagar a fotografia. Já quanto à sua publicação em blogues, redes sociais e outros meios de difusão, o artigo 79º do Código Civil é bem claro: só com expresso consentimento do fotografado, à excepção de locais públicos ou de "personalidades públicas". Mesmo assim, a qualquer momento, o visado pode opor-se à publicação ou à sua permanência no meio da difusão.

Numa das muitas amenas conversas que travei com o excelente fotojornalista Paulo Petronilho, editor no grupo Impresa, ele manteve a seguinte opinião: podemos fotografar qualquer pessoa num espaço público desde que, ao procedermos à sua publicação e difusão, não atentemos ao seu bom nome, boa imagem e intimidade.

Já eu, enquanto fotógrafo entusiasta, não me norteio apenas pela parca legislação, mas sobretudo pelo bom senso. E quem diz bom senso, pode acrescentar bom gosto – a avaliar por o que vejo por aí, um como o outro subjazem bens escassos…

(As fotografias que se seguem não só não foram alvo de oposição imediata, como foram consentidas para difusão neste blogue. Cada uma delas conta uma história: uma de desânimo com a maldita crise e a outra de ânimo com a bonita época)







19 comentários:

  1. Seja bem (re)aparecido, Paulo!
    Como sempre, belíssimo post, instrutivo sem ser maçador e esteticamente irrepreensível.
    Adoro as fotografias de Robert Doisneau (os outros não conheço tão bem) e quando estive em Paris em Março só a longa fila me fez desistir da exposição no Hôtel de Ville.
    Beijinho :)
    Isabel Mouzinho

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    1. Todos estes fotógrafos têm as suas fotografias mais emblemáticas. Doisneau ficou conhecido com o "Beijo de Hotel de Ville", mas há mais, muito mais. Tenho para mim que qualquer deles retrataram uma época, os chamados trinta anos de ouro, desde a Segunda Grande Guerra até ao primeiro grande choque petrolífero.
      A despropósito, creio que somos da mesma geração, Isabel. Dos anos oitenta, não...?

      Beijinhos e obrigado pela gentileza :)

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    2. Sim, também acho que somos da mesma geração! eheh ;)
      Beijinho

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  2. Sempre tirei fotos na rua, muitas vezes por mera necessidade de perpetuar o momento, a expressão de olhar, a cena, mas é raro usa-las nos blogues, a naõ ser que estejam a uma razoável distªancia, na praia, nas ruas, etc.

    Não sou apreciadora de retratos de pose....

    Como estas tuas tenho várias...;)

    Gosto delas!


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    1. O fotógrafo, por definição, é um voyeur, mas não um stalker. Pesca e caça instantes, mas nunca os come e, muito menos, vende como os paparazzi. Virgínia, sei muito bem da sua ética (para não dizer moral) e nunca vi nada seu fora desta conformidade. Somos curiosos, só isso... :))

      Beijos

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    2. Estas minhas fotos foram sem pré-aviso, como é óbvio. A pose estraga qualquer foto...

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  3. Ah mas a senhora das castanhas esta a sorrir para a camara :D

    Tadinha da senhora das flores :(( nao se vendem?... as fotografias foram tiradas em que sitio?Eu tiro fotografias a toda gente e nunquinha fui processada.. pois pois!!

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    1. Marta, foram tiradas na Baixa de Lisboa, Rua Augusta. Olhe o título: cuidadinho...

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  4. Que me perdoe o sorriso, mas a tristeza retratada é sempre qualquer coisa. Mas ambas estão fantásticas, claro, ou não fora o fotógrafo excelente.:) Um dia também quero uma sessão, pode ser? Prometo que não faço poses... ( beijinhos...)

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    1. Obrigado, Carla.

      Uma sessão...? Depende. Em estúdio, só para a GQ; ao ar livre, só para a National Geographic... :):)

      Beijinhos

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  5. Meu caro Paulo
    Devo confessar que ser fotografada é um dos meus grandes martírios.
    Por dever de ofício - de quem publica livros -, sou submetida a esse processo doloroso. E sinto-me sempre idiota quando me vejo. Naturalmente sou e não dou por isso...
    A foto, ao contrário do filme, retrata "um momento" que passa e jamais volta. Nesse sentido tem algo a ver com a morte...

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    1. Helena,

      Não fica idiota (muitíssimo pelo contrário, fica muito bem, é muito fotogénica) e muito menos o é (mas isso todos nós sabemos...). Depois, a Helena tem o que se chama uma "boa imprensa", mas isso é, única e exclusivamente, virtude sua!

      Também não concordo nada com a fotografia associada à morte, mas não vamos discutir isso hoje... :)

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  6. Belíssimas fotos, Paulo. Já estou como a CF, sempre sonhei ter uma foto belíssima (a beleza da foto, quer dizer), artística... ::)) Quando é o casting? :) Também é dos anos 80?:) Grande década e fornada!

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    1. Qualquer pessoa pode ficar fantástica em fotografias com luz controlada (sem nenhuma pós-produção de edição). A minha filha, por exemplo, vai forrar as paredes do quarto com uma foto gigante de NYC tirada por mim numa das paredes e com várias outras dela ao longo das várias idades noutra. Quanto ao casting da CF, ela que decida se quer fotos no exterior ou no estúdio, ou seja, fotos tipo GQ ou National Geographic :):) (Apareça, Fátima: o fotógrafo é boa pessoa, é dos anos oitenta :)

      Beijinhos,

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  7. Na primeira foto o contraste entre as flores, cheias de cor e fragrância e a figura humana a preto e branco, triste e desconsolada, é o aspecto que mais me atrai.

    Na segunda quase se sente o cheiro das castanhas...

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    1. Querida amiga, foi exactamente essa a ideia: contrastar o presente estado dos dois negócios... A senhora das castanhas mal me viu com a máquina, fez pose... azar!

      Bjos

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  8. Ai Meu caro Paulo, essa da boa imprensa mata-me! De facto a maioria das pessoas que se manifesta, gosta de mim. Bondade exclusiva delas. A imprensa, será outra história!
    As suas duas fotos são os dois lados da vida: o desalento e a esperança. Curiosamente, na primeira a cor das flores contrata com o olhar vazio da vendedora. Na segunda o fumo e a cinza contrastam com o sorriso benévolo de quem ainda parece acreditar.
    Duas belas fotos. Duas importantes mensagens. Falta uma terceira que ligue as duas mas não tenha que ver com elas.
    Estou filósofa hoje!

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