© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

pela boca…

Tinha o hábito mediterrânico de fechar negócios à mesa. Brunches, buffets, jantares ou ceias, tanto fazia, desde que finalizados com Fernet Branca, que o homem era avisado e não possuía vesícula. Em tempos de máximos históricos, ditos bullish, o tornedó rossini sabia-lhe a aston martin; o parfait de lavagante e funcho, a duplex sobre o central park e o filete de salmonete, a bahamas. Mas em alturas de aperto financeiro até os blinis a derrear beluga lhe cheiravam a penhoras; o carpaccio de tamboril, a arrestos e a sela de borrego, a injunções. Há algum tempo atrás convidou-me para um jantar no Ritz, mantinha o especial frisson por locais onde se é visto, mas acabara aparentemente de vez com os repastos mont blanc. O jantar decorreu frugal, quer nas palavras, quer no palato. Até que chegou a sobremesa, uma multifacetada mousse de frutos silvestres e quiabo em mirepoix, soberba aos olhos e perfeita ao olfacto. Adormeceu ali mesmo na cadeira sobre a mesa à minha frente. Consta que há já algum tempo andava a desjejuar com comentadores televisivos.

4 comentários:

  1. Vá lá saber-se porquê, esperava uma fotografia a acompanhar o texto tão "gastronómico" ;)

    Beijinho :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ora, não ando de máquina em punho nos restaurantes :))

      Mas, sim, conheci uma pessoa que associava pratos às últimas coisas que aconteciam durante a degustação dos mesmos. Muito chato: pensava e sentia pela... boca!

      Beijinhos :)

      Eliminar
  2. Como os sabores mudam ...
    O Fernet Branca ajuda sempre ... mesmo quando os sabores se tornaram amargos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ora, ora, a vida é feita de mudança e o Fernet Branca anestesia...

      Eliminar