© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Às estrelas, deixem o Céu (iii)


 
Fotografia nocturna de longa exposição (duração 3:00h)
 
Não gosto de excessos. Particularmente de pessoas excessivas. Excesso de bondade, de solicitude, de agressividade, de frontalidade. Excesso de qualidades e excesso de defeitos. Não me suscitam repulsa, reparem – as únicas coisas neste mundo que me repugnam são a indiferença e a estupidez, esta atrás da outra –, mas desinteresse, e eu não gosto de desapegos. A minha atitude diante do excesso é singela: egresso. Dois exemplos diametralmente opostos. Uma zaragata comicieira com permuta de vitupérios e um assédio camuflado de cortesia. Em ambos viro as costas e tranco a porta. Há contudo excessos que me tiram do sério; o da superioridade do alheamento é o maior deles todos, uma espécie de desinteresse interessado onde predomina uma pontinha de esperteza rústica que me sulca a razoabilidade e me faz voltar atrás, abrir a porta e cravar dois berros. Depois de administrada, a coisa compõe-se. Em não havendo excessos. De resto, exulto-me com o equilíbrio mediano da harmonia meridional, tentando e deixando viver, pois tudo isto já é bastante curtinho e apertado para demasias (lá está), e os vírus, como os cometas, andam por aí.

27 comentários:

  1. Hoje comecei por ouvir o Morricone pela voz instrumental do fabuloso YO-YO-Ma - excesso de talento? Nele não falas, talvez porque o talento nunca pode ser excessivo, nem em Mozart, não é?

    Depois olhei para a foto e comecei a cogitar se não teria sido tirada na nossa Luz, junto às palmeiras que morreram há dois anos...excesso de mar e sol? Lindo este céu...saudades de o ver sem nuvens à noite.

    Por fim li o texto que me pareceu excessivo:))

    Quando te conheci há doze anos, não eras nada disto que aqui dizes. Bem sei que dos 30 para os 40, vem a sabedoria e a temperança, vão-se as loucuras e as paixões.

    Mas não serão os excessos algo impossível de conter?

    Também há excessos que me fazem transbordar a taça, sobretudo a adulação do outro ( comum dos mortais) com vista a um feedback afectivo ou social que nos torne contentes connosco próprios... ou a estupidez saloia, que pretende passar por cima dos outros, a mediocridade instalada, bem patente nos desgovernos do nosso país. São excessivamente odiosos.

    Mas há excessos que são benéficos. Os meus netos são excessivos em tudo porque são crianças e eu adoro os seus excessos.

    A harmonia sem excessos é uma seca, Paulo!

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    1. :))

      Sou, como sabe, um homem de excessos (por vezes, de loucuras e de paixões), mas não me creio uma pessoa excessiva. Sou de excessos nas convicções, nos afectos, na procura da serenidade e na sua harmonia. Procuro a felicidade possível, mas não tenho obsessão em alcançá-la por todas as vias e pessoas.

      O talento, como a beleza, nunca é excessivo. Os excessos das crianças são exactamente o que as define em todas as fases de crescimento.

      Associo tudo o que é excessivo à obsessão quase patológica de determinadas atitudes que ferem e afrontam a tranquila existência dos outros. É por aí...

      Beijos,

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    2. Não sofro desse sindroma.....não sou nada obsessiva...largo de mão qualquer coisa desde que chegue à conclusão de que pode ser útil a outros.

      Sou excessiva numa coisa: em manter a minha liberdade em relação às minhas decisões e à minha pessoa. Não admito que ninguém me obrigue a fazer coisas.

      Bjo.

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    3. Sempre a conheci independente, Virgínia. Com muita admiração.
      Bjs,

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  2. E' impressao minha ou este post tem destinatario?..Por estas bandas passou ao lado mas nao fiquei indiferente a beleza da fotografia.Como e' qu e' ficou 3 horas a espera?? <3

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    1. LOL

      É obviamente impressão sua, Marta.

      (Não fico três horas à espera. Programo a máquina, faço o enquadramento e bazo. Quando achar que já está razoável, volto e desligo. Simples...)

      O que é "<3"? Um símbolo asteca...?

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    2. Que engraçado.. e' mais que um Like, e' um Love pela sua fotografia!.. E aquelas circunferencias no ceu sao efeitos especiais?.. <3 :DD

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    3. Os riscos são os rastos das estrelas durante três horas.

      (Corações, bocas abertas... cuidado com os enfartes do miocárdio)

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  3. Então não gostas de mim :(

    (se bem que não enfie a carapuça de algum dos teus exemplos, a verdade é que sou uma pessoa de extremos, por mais banal e mediana que seja a vidinha)

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    1. Gosto, gosto :)
      O simples facto de teres consciência dos teus próprios excessos faz de ti uma pessoa muito pouco excessiva. Já quanto a teimosias... :P

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  4. Um excesso é normalmente um descontrolo, parte integrante de nós, portanto. Há os bons e os menos bons, e se os primeiros serão desejáveis, os segundos poderão ser um desconforto significativo. De resto, e a bem ser, serão sempre um estado transitório, que o nosso corpo precisa da simplicidade da calma, não vive no eterno rodopio. Dos excessos que me cercam, sorrio a uns e fujo de outros a sete pés. Há os que me apetece sorver até mais não, e aqueles dos quais me apetece escapar. Mas esses, dos quais fujo, merecem a minha atenção, ainda que meramente profissional. Os excessos de bajulação descabida, por exemplo, não são isentos de culpa no cartório das relações sociais. São um caminho que na volta pretende retribuição. :) Desculpa-me lá a dissertação " de psicóloga que tem a mania", anda. Mas é que à minha volta há gente assim que nunca mais acaba. E cansa... Ó, se cansa...

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    1. Ora bem, um "estado transitório" importantíssimo na vida consoante a sua natureza. De resto, nada como a tranquilidade da calma ("pleonasmei"!) e o doce prazer do merecido descanso. Até porque se o dizes, a psicóloga és tu... eu cá só sei de números e muito pouco marcantes. Há muita gente assim à tua volta? Não me admira nada... :)

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  5. Também não...também não :)
    O <3 é a maneira de se conseguir um coração, Paulo, a partir do teclado:) Nunca usou ou viu no FB, por exemplo? Eu já usei mts vezes... excesso? :) :)
    Bjs qb :)

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    1. Pois é... um coração deitado. Um outro excesso, por sinal :)
      Beijinhos moderados, Fátima :)

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  6. Como sempre, começo por deter-me longamente (não sei se excessivamente) na fotografia, cuja beleza me deixa sempre mais ou menos estarrecida. Mas parece-me lógico, uma vez que, segundo diz (e eu concordo) "o talento, como a beleza, nunca é excessivo", o que é aqui o caso...;)
    Depois passo ao texto (e deixo a música para o fim). Desta vez não tenho a certeza de ter compreendido inteiramente o que quer dizer. Concordo com a Virgínia, no sentido em que os excessos podem ser "odiosos" quando associados a "abusos" de qualquer tipo, mas há também excessos "benéficos"; e tudo demasiado moderado pode não ter gracinha nenhuma.
    Não entendo a distinção que faz entre ser "uma pessoa de excessos" e "uma pessoa excessiva".
    Mas pronto! Fico com beleza da fotografia (e da música) e esqueço o resto.

    Beijinho :)

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    1. Uma pessoa de excessos é toda aquela que é capaz de os cometer. Uma pessoa excessiva, toda aquela que só os comete. A primeira abarca todos os estádios transitórios e a segunda é superlativa em tudo (no bom e no mau sentido). Pelo menos, foi este o registo que quis dar.

      "Esquece o resto"...? O texto? Pois, a fotografia (e a música) é melhorzinha.

      Beijinho :)

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    2. Ó Paulo, acho que agora fui eu que não me fiz entender. Peço desculpa pelo "esquecer o resto", mas o que quis dizer não tinha nada de depreciativo, porque eu NUNCA menosprezo o que dizem e ou fazem as pessoas por quem tenho consideração e estima. Mesmo quando não o entendo completamente (e foi o caso - "erros meus"), ou quando não concordo (que não definitivamente o que se passa aqui).
      O que quis dizer com "esquecer" foi mais do género: ponho entre parêntesis, enquanto aguardo a clarificação, que eu sabia que havia de chegar. É que já estou habituada à clareza das suas explicações. Não me enganei! O seu comentário é absolutamente esclarecedor quanto ao que eu não tinha entendido no post. E assim sendo, concordo com o que diz, embora não tivesse antes pensado muito nessa diferença. ;)

      (Aliás, Paulo, sem querer parecer "excessiva", sabe bem que eu gosto muito da maneira como escreve e do que escreve, que sou fã número um das suas belíssimas fotografias e que o seu blog é para mim o mais bonito de todos, a grande distância de todos os outros e sem qualquer desdém pelos demais, que também há alguns outros de que gosto muito. Fiz-me entender?... :P)

      Beijinho. Grande! :)
      Isabel


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    3. Também depende muito da idade da pessoa em questão. Qual é o adolescente que não resvala para excessos de vez em quando. Qual é o amante que não morre de ciúmes excessivos ou preocupações excessivas sobre a fidelidade do seu conjuge? Qual é a Mãe que não se excede na protecção dos filhos a ponto de cometer loucuras só para os salvar de tudo e de todos?

      Na minha vida cometi excessos deste género e não me considero excessiva, sempre larguei barcos e redes se necessário e sempre me protegi obsessivamente da interferência de terceiros na minha vida pessoal. Reconheço que nas redes, há um upgrade cada vez maior de elogio , bajulação, dar graxa ( em gíria estudantil), como se desejassem que o/a outro/a fosse logo "comer-lhe à mão", seja ele um anónimo qualquer ou uma personalidade conhecida.

      É isso que me aborrece ....

      A foto onde foi tirada?

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    4. Isabel,

      Eu percebi, era mais um fishing for compliments...

      Beijinho :)

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    5. Virgínia,

      A foto foi tirada no lugar que lhe disse.

      Bjs

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  7. Esta resposta não é para ti, Paulo. É para a Gi, com quem não concordo, ou não concordo totalmente. Não penso que o excesso tenha a ver com idade; antes com o objecto de afecto ou desafecto. Ou a velha história do amor e o ódio serem as duas faces da mesma moeda.

    (Quanto a ti, meu caro, essa da teimosia parece-me o roto a apontar o dedo ao nu :D)

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    1. (O roto pelo menos tem roupa, mas esquece... pela gíria prefiro ser o nu :)

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  8. Curiosíssimo o texto e os comentários.
    Excessos? Quem os não tem? E quem os classifica como tal? O que para mim é excessivo para o meu vizinho pode não se-lo. Porque a definição de excesso tem que ver com educação e meio social.
    E o excesso também pode ser "de menos" como, por exemplo, o excesso de contenção. Polémico, o tema. Há situações em que gosto de pessoas excessivas!

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    1. Bom, a "classificação" será sempre subjectiva e, neste caso, é do autor do post, moi-même, tendo em conta, entre muitas coisas, a minha educação e o meu meio social (esta do meio social é politicamente incorrecta...). De qualquer forma, acabei, nos comentários, por fazer uma distinção entre pessoas excessivas e pessoas de excessos. Creio que sou de excessos, mas sem ser excessivo. Isto, claro, de acordo com aquilo que me dizem... :-)

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  9. Pois experimente, uma vez por outra, ser excessivo e...carregue-a de flores. E aproveite para, em cada ramo, deixar uma mensagem. Com elas poderá formar uma frase. Aquela que você gostaria de ter dito, mas não ousou. E veja lá se o "excessivo" gesto não é mesmo delicioso?!

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    1. Ai, Helena, não há nada que não tenha ousado dizer e fazer. Se lhe contasse tudo, a Helena escrevia numa penada um outro livro. Sugiro um título: E tudo o homem levou... (Calma, não me chamo Gaspar :-))

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  10. Há sempre qualquer coisinha lá bem escondida dentro de nós. Por isso o meu lema foi e continua a ser "não morras com palavras por dizer ou gestos por fazer"...

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