© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 16 de julho de 2013

Boa como o milho

Esta expressão, brega como a maçaroca, tem origem obscura – todas as explicações que encontrei são fantasiosas ou não convencem. Avancemos então para o domínio especulativo e comecemos pelo significado. No género contrário surge "ele é um pão" ou "[ele] é um gato", com a nuance de que o primeiro come-se à dentada, sendo ou não de milho, e o segundo contempla-se com a devida vénia (não vá arranhar ou ter dona). Sem grandes deduções, estamos nitidamente no domínio do palato mas, mesmo assim – sabe-se –, há estômagos para tudo; não sendo líquido (neste caso, sólido) que milho seja liminarmente apetecível para qualquer um, será todavia matéria-prima para muita e boa coisa. Quando aquece dá pipoca; quando moído, farinha. E desta faz-se bolo, broa e paparoca. O que pode ser um piparote de estalo. Sem sublime explicação plausível, "boa como milho" é uma expressão que se basta a si própria e, com sinceridade, contenta ou, pelo menos, enche a boca de apaniguada gente. Segue-se foto ilustrativa:


15 comentários:

  1. Ahahah! Muito bom, Paulo! Adoro estes posts das expressões...
    "Boa como o milho" é um bocadinho "à pedreiro", ou "brega", como diz o Paulo. Acho que nenhuma mulher se sentirá particularmente lisongeada se lhe disserem "és boa como o milho", porque há nisto uma vulgaridade a que também não se pode ficar indiferente. Digo eu...
    Quanto ao "pão" e ao "gato", a segunda parece-me mais da variante brasileira e ainda assim prefiro o pão, por causa dessa ideia de se ir saboreando aos bocadinhos ("a dentada", pois, consoante o apetite e o resto. Porque há também aquela expressão: "os olhos são os primeiros a comer"... ;)
    E depois há ainda as expressões que já não têm a ver com o palato, como diz, mas com transportes: "ser um avião", no português do Brasil ou "estar como un tren" em Espanhol.
    Enfim, o assunto é inesgotável e dá "pano para mangas".
    Fico com curiosidade de saber a origem de cada uma, o que daria, sem dúvida, um interessante estudo sociolinguístico ou assim.

    Beijinho :)

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    1. Não estou assim tão seguro que um sussurro "... boa como o milho" seja assim tão contraproducente, dependendo do contexto e tom...

      Um avião tem graça. "Estar como un tren" nunca ouvi, mas fica o registo :)

      Beijinho :)

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  2. Não gosto da expressão "ele é um pão" ... "ele é um gato" é uma expressão muito brasileirada.
    Acho que gosto mesmo é da expressão da minha mãe "...é todo jeitoso..." !;)
    Perde o brejeiro mas ganha 'a pinta'!!!!

    Nota : essas espigas de milho cozidas com manteiga ... hum hum .....

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    1. Certo, mas o contrário: "Ela é toda jeitosa!", dá um ar meio démodé, anos 50/60, e só falta o "inha", "... toda jeitosinha" :) "Boa como o milho" (que eu não uso, note-se) enche a boca, salvo seja.

      Nota: e assadas, não ia bem...?

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    2. Depois de escrever pensei mesmo isso Paulo! Quando era pequena, na quinta dos meus avós, eram assadas no fogão a lenha ... que maravilha!!

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  3. Assadinhas e regadas com molho de manteiga e limão, uma delícia!

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    1. Helena,

      Com este seu comentário matou de uma vez por todas a charada: o milho é muito bom! :-)

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  4. A expressão parece-me ligada à fartura, não te parece?... De resto, nem a considero particularmente brega. Depende de quem a diz, depende do contexto. Dita de forma desapropriada é de mau gosto, de facto. Mas não tem de ser necessariamente assim...

    (Assadas ou cozidas, com sal e manteiga, é por aí. Estou com a Helena...:))

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    1. À fartura? É capaz; à fartura de formosura com certeza...

      (Está visto que se, vocês mulheres, gostam tanto de milho, há ainda quem aprecie mais :))

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    2. A essa, claro. Tal como pão, no sentido inverso. Temos tendência a essas ligações que nos fazem sentido, mesmo sem darmos por isso...

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  5. Meu caro Paulo, tenho uma explicação bem mais chã. Boa como o milho, porque no ser boa está implícito o conceito de misteriosa. E o milho é a única planta, que eu saiba, que ainda hoje suscita dúvidas sobre se é uma infrutescência ou um fruto múltiplo. Boa como o milho pode ser uma analogia, assim, de que a mulher é a parte misteriosa que releva da criação do homem e da Divina inspiração de lhe arranjar companhia. Mas tão rebuscada foi essa criação, que ainda hoje não sabemos se elas são uma infrutescência do homem ou um fruto múltiplo. Pelo sim pelo não, há que comer a infrutescência ou os aquénios todos, um a um e com deleite. E pensar no assunto só depois ou, de preferência, nem pensar, assumindo que a mulher será sempre, voluptuosamente, impossível de perceber. E tão boa como uma maçaroca assada numa fogueira do mato :))

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    1. Meu caro Nelson, de chã talvez tenha pouco, mas a lhaneza da sua explicação foi de uma infrutescência de tal ordem que nos direciona para um anexo de inspirações e, principalmente, de interjeições múltiplas... Preferencialmente, do mato. Sempre :))

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  6. A minha Mãe tinha uma expressão excelente para classificar um homem bonito: O Clark Gable não é disparate nenhum.....adorava o tom....
    quanto ao milho ainda ontem comi umas maçarocas assadas aqui em Leeds, que maravilha.....

    Boa semana!

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  7. A expressão "Boa como o milho" depende mesmo do contexto, mas não a tenho no "lote" dos piropos brejeiros!

    Isabel BP

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