© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Lua de Novembro (e algumas explicações sobre outras luas)

A Lua, como único satélite natural da Terra, é, a par do Sol, um dos astros mais fotografados. Salvo raras excepções, todos almejam os melhores enquadramentos - sobre os picos dos pinheiros da serra, entre os arranha-céus das grandes cidades, rente ao mar reflectindo fantásticos luares. Em todas as fotos que encontramos pela net há uma obsessão por colocar a maior lua, a super-lua, a lua de todas as luas. No entanto, no interstício entre o perigeu e o apogeu ela mantém um quarto do tamanho da Terra e, não despiciendo, orbita, em termos médios, a mais de 380.000 km desta. Azarinho! Se utilizarmos uma objectiva sobredimensionada, perde-se o encantatório enquadramento; caso contrário, aparece a dita toda pequenina perdida no meio da paisagem. Ó Paulo, mas eu já vi fotos de luas gigantes a rebolar pelos mares de Tavira, por entre os cactos do Novo México e, até, com um lobo a uivar dentro dela! Pois, acredito, também eu já vi uma caganita de pombo a escorregar pelas crateras de uma delas. Com o advento das câmaras digitais e respectivos softwares, a manipulação de imagens passou a ser tão comum como o raio que atingiu a cúpula da Basílica de São Pedro depois da renúncia de Bento XVI.
 
Voltando à Lua e às montagens: nunca acreditem na veracidade de uma fotografia de uma lua alva reluzente sobre o horizonte. É astronómica e fisicamente impossível. Se tiverem dúvidas, perguntem a vós próprios se já viram algo semelhante. Melhor: já viram algum nascer ou pôr-do-sol em que este se mantém com luz branca? Não são todos laranja-cor-de-fogo-quando-foge...? Pois são, e a razão prende-se tão só pela espessura de camada de atmosfera que os nossos olhos percorrem até ao sol - este caminho é tangente à Terra. Com a Lua passa-se o mesmo. Logo, é completamente impossível que a senhora Glaucia Menezes tenha fotografado sem recurso a montagem (ainda por cima, mal feita), a 22 de Junho passado, uma das super-luas mais vistas e apreciadas em toda a net:
 
Daqui
 
Porque qualquer Lua que se ponha no (ou nasça do) mar (zero hidrográfico) assemelha-se à luz produzida, em décimas de segundo, por uma lâmpada de tungsténio quando se apaga. E, então, o que se vê, goste-se ou não, é isto, é a minha Lua de Novembro:
 

 
Nota final: não quis com este post dizer que não se consegue fotografar uma lua próxima. Claro que sim. Mas só a lua. Aliás, fiz várias.

5 comentários:

  1. Sou suspeita, na verdade, pois além de gostar sempre muito das suas fotografias, há já um tempo que sigo com particular interesse as suas luas de todos os meses. Elas são todas diferentes, mas todas lindíssimas.
    Esta, de Novembro, também não foge à regra. E é infinitamente mais bonita que a tal da Glaucia Menezes (que eu não conhecia), mas que soa mais a "falso", mesmo sem a sua interessante e instrutiva explicação.

    Obrigada por partilhar connosco a sua arte, Paulo!

    Ficamos à espera da lua de Dezembro.
    Beijinho :)

    (Já agora uma curiosidade - se me quiser responder- : publica as suas luas numa data qualquer, escolhida aleatoriamente,ou fá-las coincidir com a lua cheia, por exemplo?)

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    1. Isabel,

      A ideia de "uma lua por mês" é precisamente essa, a de mostrar a quantidade de fotos diferentes que se podem tirar do nosso único satélite: cheia, crescente, minguante, à noite, ao entardecer, de dia, no mar, na cidade, no campo, etc (gostava que a próxima fosse com nuvens...).

      Quanto à fotomontagem, foi hilariante a quantidade de pessoas que a tomaram como verdadeira (muitas igualmente entusiastas de fotografia, como eu). De resto, a coisa está tão mixuruca que até dava para fazer antes de aparecerem as digitais: basta recortar uma lua grande e colar no fundo em que se vê no mar o reflexo do luar...

      (Publico numa data qualquer desde que seja tirada no mês em questão. Neste caso, foi há cinco dias quando ainda estava crescente)

      Obrigado e beijinho :)

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    2. (Agora fui eu: "que se pode tirar" em vez de "que se podem tirar"...)

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  2. Esclarece a professorinha: "que se podem tirar" não está errado. Porque quando o sujeito é seguido de determinativo do nome, o verbo tanto pode estar no singular como no plural. Exemplo: "Há um grande numero de histórias que começa/começam por "Era uma vez". Ambas as hipóteses são possíveis.
    Na sua frase, pessoalmente gosto mais de "que se pode tirar", mas a versão inicial "que se podem tirar" não estava errada. :P

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    1. Mas sabe, Isabel, como já deve ter reparado, sou de raciocínio lógico e à pergunta "O que se pode tirar do nosso único satélite?", a resposta correcta é "Do nosso único satélite pode-se tirar uma quantidade de fotos diferentes", porque se pergunto "O que se podem tirar do nosso único satélite?", já estou a viciar a resposta. Ou seja o "que" refere-se a "quantidade" e não a "fotos diferentes". Mas, como disse, é o meu raciocínio lógico a funcionar e se a Senhora Professora diz que se pode ( ou podem?:) ) utilizar as duas versões, opto pela primeira: "que se pode tirar" :P

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