© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

etc...

Há palavras que acolhem um sem número de sentires tão díspares, que uns podem ser verdade enquanto outros são mentira. Também nenhuma delas existe isolada do mundo, havendo portanto alturas em que se juntam e encostam ao de leve, aumentando a imprecisão. Muito mais do que o que o que elas dizem é o que eu sinto, e esbarro inúmeras vezes num dicionário incompleto demais para mim, uma exigente assumida, aqui, nas horas de sono, nos sapatos de salto, entre outras minuciosidades. Socorro-me dele quando procuro catalogar as formiguinhas do medo que me calcorreiam o corpo, para enquadrar o desconforto que me come as entranhas nos dias inseguros, para arrumar as sensações enormes que me atravessam de dentro para fora, dado que as outras, as de fora para dentro, são sempre muito mais classificáveis. A não ser quando entram e esbarram no feitiço do inconsciente, claro, um mago virtuoso e capaz de manipular a vontade do mundo, quanto mais a de uma pequena e humilde mulherzinha. Entro em guerrilha inúmeras vezes, armo espingardas, bazucas, caçadeiras e metralhadoras, coloco-me em posição de ataque, atiro a matar e caio para o lado, mortinha, consciente de que a dureza do que acarto dentro, precisa é de jeitinho e paciência. Para além de competência, obviamente. 

(Oiço dizer que a inteligência é superior, devendo então ser a única capaz de acabar com receios, ansiedades, ciúmes e outros males que minam o Homem; só não consigo é perceber a frouxidão da digna, perante os vómitos do id. Bem o sei dono de um esguicho poderoso, análogo ao da doninha, capaz de nos cegar durante dias e dias a fio. Leviana, eventualmente, ignorante, certamente, e quase concluo que superioridade não é isto (ou será então mais uma questão de dicionário, imprecisões e etc, que outra vez se me atravessam no caminho...).

4 comentários:

  1. Cara CF
    Durante longos anos o meu culto pela inteligência foi enorme. Até quando amei profundamente alguém, não sei se amei o ser ou a sua magnífica cabecinha. Depois, o tempo fez o seu trabalho e eu fiz o meu. Hoje, o culto de então, foi substituído pelo da bondade, da rectidão, da tolerância. É isso que, agora, me fascina e me envolve!
    Bjo

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    1. Helena, percebo-a perfeitamente. A inteligência pode valer, mas por si só não chega. Seguindo o seu raciocínio, e para além das que refere, considero a genuinidade qualquer coisa de grandioso. Talvez porque não abunda por aí. O ideal? Encontrar bondade e todas as outras, acomodadas numa certa intelectualidade. Sabemos que não é impossível, só é pouco frequente... Um beijo para si também.

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  2. A inteligência é um impulso eléctrico a resgatar as imprecisões do raciocínio... Tudo o resto é memória...
    A.G.

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    1. A inteligência existe no nosso corpo para regulamentar tudo o resto. Sem ela, não haveria vida, só com ela, também não...

      Cumprimentos.

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