© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

a culpa

As questões sociais que desembocam na violência escolar desmedida mereciam debruce sério. Pertenço à fasquia da população que acha que todas as pessoas do mundo deveriam ser obrigadas a parar para pensar. E pasmem-se, não há quem aprecie mais a liberdade do que eu. O foco centra-se no respeito, condição essencial para que a liberdade exista além corpo, o que é isso de uma maleabilidade única e intransmissível, se ao nosso lado um miúdo se suicida na sequência de um episódio de bullying? Parar para pensar nas consequências de uma sociedade centrada no progresso profissional, mas completamente desmarcada dos valores sociais, a única verdade que realmente nos sustenta com alguma dignidade, assume um carácter de urgência, se não quisermos ver descambar a camada mais jovem, ou seja, o mundo daqui a uns tempos. Apetece-me às vezes perguntar quanto dinheiro é preciso para que se tratem pessoas doentes com dignidade. Quanto custa um desabafo, por quanto fica um abraço, quantas horas de trabalho são necessárias para uma palavra de apreço. Queria ainda saber quantos computadores são precisos para ficarmos preenchidos por dentro, quantas televisões temos de ter em casa para sermos felizes, de quantas playstations se constrói uma criancinha. Não me agrada muito o retrocesso como única análise válida de uma sociedade em evolução, mas também não me consigo desmarcar da infância que me ensinou a generosidade e o respeito ao próximo como forma de ser. Hoje, e se conseguirmos a paragem que nos permite a racionalização, percebemos que ensinamos a liberdade como um progresso próprio, não como um progresso social. Aconselhamos a generosidade como processo terapêutico para sermos felizes, usamos a troca de valores como um mero meio para atingir um fim, aproveitamos as fraquezas alheia para atenuarmos as nossas e assim elevarmos o próprio Eu a um patamar muito mais satisfatório, não há forma mais prática de melhorar a auto-estima. No seguimento desinvestimos na nossa real evolução para centrarmos a acção na mácula externa. Não há baixeza maior e, como tal, não podemos espantar-nos com os resultados. A indignação é um direito real quando há deveres envolvidos e empenhados. Caso contrário, é uma das mais puras manifestações da ignorância humana.

4 comentários:

  1. Estamos, de facto, a tornar-nos horríveis. Gostei muito de ler, Carla. Bom fim de semana.

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    1. Não estamos, Fátima, a meu ver estamos essencialmente ignorantes. Que bem vistas as coisas, não deixa realmente de ser uma existência um tanto ou quanto duvidosa... Obrigada Fátima. Um beijinho e bom fim de semana.

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  2. Ser livre não é, na minha opinião, impedimento para se pensar... Aliás, não vejo outra forma de se ser livre. Pode parecer uma contradição, mas não o é. Quem não pára para pensar, não realiza o mundo onde vive ou a sociedade onde se insere. Sem essa ligação, nem que seja meramente moral (e isso já é tão difícil...), não sei como se pode olhar para dentro e dizer: sou livre, porque não quero responsabilidades. Não é possível viver assim. Digo eu... se calhar é e tenho andado enganada toda a minha vida☺ beijinho

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    1. A liberdade é uma condição de vida e de pensamento, sim, portanto, não há enganos aí...

      Um beijinho para si também.

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