© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

prémios

O que mais me assusta nos olhos de alguns jovens é a falta de objectivos. Isto porque ninguém caminha sem o rumo de uma estrela guia, na direcção do que se pretende alcançar. Importuna-me especialmente sentir que do lado de fora não encontram o rigor que procuram internamente, demasiado insustentado para que tudo faça sentido (a dicotomia interno-externo é uma realidade irrefutável). Deixar os jovens na mercê do percurso desorientado pode ser uma entrega cruel. Pode sujeitar quem avança a uma incongruência capaz de desconfortar o interior, que para segurança se socorre do tédio (um sossego), como forma de ocupação (chamam-lhe provavelmente preguiça). Usualmente é nesta fase que o redor percebe a inércia e se desassossega. Une-se em debandada e é vê-lo vaguear, ciente de que a solução miraculosa irá emergir algures de um local inerte e vazio, incumbido de momentaneamente nortear novos e velhos no percurso a seguir (pelo destino, sempre pelo destino). No discurso percebem-se pequenas fragilidades maquilhadas de palavras correctas, erros camuflados de circunstância impossível, limites balizados nas máximas correctas do bom senso que afinal se conhece (ninguém diria), apesar do desmazelo. O desmazelo pode ser um estado de espírito quase permanente. Uma negligência exercida sem intento próprio, como se a tarefa de encontrar caminhos na infinitude do mundo fosse um jogo de sorte, sem azar. Depois, mais para o final da catarse, surge o ex libris apoteótico: o destino final é sobejamente conhecido e escolhido de todos, só não interessa como lá chegar. Nestas alturas, quando a emoção galga pais acima e deixa a nu toda a vaidade extrema e ditadora, apetece-me perguntar se pretendem que os filhos só corram a maratona da vida e mais nada. Vistam o fato uniforme no inicio da distância, bebam água só quando for preciso, sigam o trilho e concentrem as energias na meta, sem olhar a percursos, dificuldades, limitações ou necessidades. No final de tudo, e após chegarem cegos à linha que os levou ao ouro, já podem desfalecer: o filho é deles, mas a medalha também. 

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