© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

azul

( Imagem retirada do google)

Às vezes não sei de que cor é o mundo. Não sei de que tons se pintam as lágrimas, de que pinceladas se tinge o amor, de que salpicos se contornam os dias, de que tinta se cobre a vida. Quando tal acontece o norte não prescinde de si e regula-me os caminhos que subitamente se molham de azul, uma cor que muito mais do que o verde me traz a esperança (pormenores...). Dizem amiúde que é a última a morrer e eu acho que a razão tem um propósito divino. É vã de conteúdo mas plena de intenção, e a verdade verdadinha é que nos movimenta em torno do séquito estonteado, mesmo que o desnorteio venha nascido de uma força maior. É válido na saúde e na doença, na sanidade e na loucura, no medo e na certeza, na vitória e na derrota. Não é exactamente por isso que eu gosto do mar, mas é exactamente por isso que eu amo o céu e a incerteza do que se encontra para o lado de lá. A razão chega-me com planetas e vias lácteas, enfarta-me com a plenitude do Sol e a beleza da Lua, tenta sossegar-me com o rigor da gravidade que dimensiona o mundo num local impossível de explicar, mas possível de existir. Mas não sei, fico com dúvidas. Preciso delas, até, porque me socorro da ausência de respostas para me enquadrar o indizível da vida, me sossegar dos terrores da noite, me situar as vontades inexplicáveis e impossíveis, me nortear o inconsciente da existência. 

Mas apesar desta entrega obscura busco sempre a explicação numa incessante viagem sem fim e sem rumo, vire-me para a direita ou para a esquerda, para a frente ou para a retaguarda, para o chão ou para o céu. Sempre ciente de que no dia em que o sentido me invadir o corpo chegarei à lógica pura, à razão absoluta, ao local sagrado (certamente, ao fim do caminho). Lá, não deve haver forma de prosseguir. 

2 comentários:

  1. Este seu post começou por me fazer sorrir. Porque me lembrou que lá muito atrás eu também tinha feito um post assim, com este nome e uma fotografia muito parecida com esta. E fui à procura dele. Foi mais ou menos há um ano (já!). Quanto ao resto são diferentes, como nós seremos diferentes também (e ainda bem), ou se calhar não tanto assim.
    Seja como for, azul é sem dúvida a minha cor, a primeira em que penso sempre, evocativa do mar e do céu, da imensidão onde solto o olhar e me sinto em harmonia e em paz e imagino e acredito que ir mais além é sempre possível. Provavelmente será por isso também que no meu quarto há uma parede pintada de azul.
    Bonito texto, CF!

    Beijinho

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    1. Vou procurar o seu texto, fiquei curiosa... :) Gosto desde sempre muito de azul, é uma cor que de alguma forma me sossega...

      Se sorriu e gostou ainda bem Isabel. Um beijinho e obrigada pela sua simpatia...

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