© Paulo Abreu e Lima

domingo, 2 de fevereiro de 2014

o direito ao egoísmo

Dentro de um limite razoável, temos o direito ao egoísmo. A palavra pode parecer soberba, detentora de culpa, é de resto um termo conotado com uma negativa conduta individual, suprema a qualquer outra realidade. É originalmente contrária à convivência social proactiva, indicando uma vontade e uma razão muito própria ao indivíduo, pouco válido por si só. Eu própria a condeno, em caso de exagero declarado, mas não posso deixar de lhe prestar um merecido louvor em tempo certo. Há uma estreita ligação entre a mesma e uma adequada auto-estima, há uma precisão dos seus serviços para a edificação concreta e completa de uma estrutura mental alinhada, demasiadamente frágil se der tudo de si, há um caminho paralelo entre uma evolução social e uma evolução individual, em que o foco no próprio constitui uma condição sin ne qua non, para que depois do amor próprio nasça o amor social. Parente pobre dos vocábulos apreciados pelo Homem, ocupa um local religiosamente censurado e sobejamente criticado.

E agora pergunto: e os nossos tempos e as nossas vontades? Mais: onde moraremos, se no percurso do bem comum relegarmos demais o individual, em prol do social? Se o risco do exagerado interesse próprio pode ser elevado em questões internas e de convivência, o inverso também pode ser dramático em dimensões individuais, e por conseguinte sociais. O peso da questão insiste e subsiste pela carga da palavra, nada nobre em condição. 

(Em caso de dúvida persistente é aproveitar o embalo e referendar a questão.)

8 comentários:

  1. A palavra tem uma carga semântica negativa que lhe está indelevelmente associada, de facto, mas no fundo todos somos egoístas, podendo o egoísmo variar em grau e/ou frequência. Será talvez aí que reside a diferença.
    Percebo o que diz; e concordo. Ser egoísta às vezes, ou um bocadinho, pelo menos, pode até ser positivo :))

    (Já quanto ao referendo é que não há necessidade :D )

    Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É positivo sim, Isabel. Mas a carga é de tal forma má que por vezes, quando o somos, sentimos no seguimento uma culpa pesada...

      ( A piada do referendo era só mesmo piada. Um tanto ou quanto sarcástica... :))

      Um beijinho para si também.

      Eliminar
  2. Eu ando numa luta interior para conseguir ser mais egoísta, porque ao mesmo tempo que acho fundamental consegui-lo ser um pouco mais, é-me difícil ir contra a natureza do que sempre fui toda a vida. Tenho dias (e noites) de autêntica guerra comigo mesma. Mas lá chegarei, para meu bem. E tenho certeza absoluta que não será um egoísmo negativo ☺

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A questão é que não é fácil, dai as lutas internas... Um harmonia, um meio termo, é sempre o desejável. E se assim for, não tem como ser negativo...

      Um beijinho Anita

      Eliminar
  3. Saber dizer não, é uma forma de egoismo. Absolutamente necessária.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas às vezes tremendamente difícil, cara Helena ( quase tanto como dizer sim a nós próprios...).

      Um abraço para si também...

      Eliminar
  4. Não podia concordar mais! Excelentemente colocado. Bom domingo, amanhã, Carla :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom Domingo Fátima (apesar da chuva:))... Um beijinho.

      Eliminar