© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

o humor pode não ser culto, mas convém, no mínimo, ser informado...

... caso contrário, não só não tem graça como cai em desgraça.

Sou contra o Acordo Ortográfico (AO), mas só depois de ter lido o documento que lhe dá corpo. Já muita gente é sumariamente contra algo que desconhece ou que "ouviu falar". Depois dá nisto:


Com o novo AO, "cágado", sendo uma palavra esdrúxula, mantém o acento gráfico na sílaba tónica, no primeiro "a", e "facto" passa a ter dupla grafia conforme o falante (uma barafunda, portanto), ou seja, com ou sem "c".
 
Não sendo propriamente um desconfiado, procuro ser avisado e, muitas vezes, desconfio qual das partes (a favor ou contra o AO) se dá ao trabalho de difundir estas baboseiras.

6 comentários:

  1. Respostas
    1. É, não é, Helena?
      Às vezes até parece que são os fervorosos defensores do AO que mandam sair estes dislates para, ao estilo doutoral, explicar que estamos errados. Outras vezes, a ânsia da chalaça (ou do ter razão a todo custo) atropela a verdade dos factos.

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  2. Tem muita razão, Paulo, e faz bem em referir isto, de que se fala pouco.
    Hoje, não há quem não tenha opinião sobre o AO, mas quer entre os que são contra (que me parecem ser a maioria - ou pelo menos de acordo com os meus conhecimentos e relacionamentos), os que são a favor e um grande número daqueles a quem isso (como outras coisas) tanto lhes faz, o que impera é o desconhecimento. Na verdade, para a maioria das pessoas, o AO consiste apenas na supressão de TODOS os cês ou pês antes de consoante. E pronto.
    Mas o que é grave é que em nome do acordo, ou por causa dele, se chegou a uma situação de caos total em que vale tudo e se aceitam como mais ou menos válidas todas as grafias, pré e pós acordo e ainda outros erros dos quais esse do "cagado" é mero exemplo, com graves prejuízos na língua e na cultura portuguesas e consequências difíceis de imaginar. Muito triste, tudo isto... :(

    (Como sabe, este é um assunto ao qual sou particularmente sensível, como será para todos os que ainda prezam a nossa língua como nosso património ... E ainda somos muitos, apesar de tudo!)

    Beijinho :)

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    1. Exacto, Isabel. Noutro dia vi o "corrutos" que o Pedro Correia, muito bem, denunciou, mas eu já vi pior e na imprensa. "Fição" em vez de "ficção", uma vergonha... A questão das consoantes mudas, não sendo o grosso das alterações deste AO, é sintomática. Para mim, não só negligenciam o étimo das palavras e a sílaba tónica que antecede, como, no meu caso, muitas não são realmente mudas. Por exemplo, não pronuncio "EgiPto", mas prolongo o "i" duma forma subtil muito para além dum "Egito" seco (não sei qual a designação fonética para o que escrevo). Mas casos como "Para!" significando um imperativo do verbo "parar" (Pára!") são paradigmáticos de como a coisa foi muito mal pensada. Não sou contra novos acordos ortográficos (a língua, como tudo, evolui - não conseguiria voltar ao "fôr" ou ao "àvidamente"), mas que não se perca a raiz etimológica. E a cabeça.

      Beijinho :)

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  3. Desde o início deste debate, que sou contra o AC. Continuo no entanto, espectadora atenta (não espetadora) de tudo quanto é autor da praça, a publicar de acordo com as conveniências. Ou seja, de acordo com o acordo que fazem imensa questão de condenar.
    Não sendo autora da praça, pelo menos posso-me orgulhar de que tudo aquilo que publico, só o faço numa condição: ninguém altera uma vírgula do que eu escrevo. E eu não escrevo com acordo nenhum, nem em acordo com nada.
    Com esta atitude achei que ninguém iria publicar coisíssima nenhuma do que eu escrevo. O que não faria diferença nenhuma à humanidade em geral e, a mim em particular, uma vez que escrevo porque me apetece, quando me apetece e como me apetece, justamente e só, pelo gosto de escrever. Espantosamente, têm "encomendado" escrita. Sem exigências, sem acordos, sem lançamentos de preferência (também não sou muito dada a croquetes. A não ser os alheios, por gentileza e, na última fila). Pelo que daqui depreendo que sim, é possível, apesar de não ser recomendável e não ficar nada bem na fotografia.
    Olhe, lá vou eu a mais um lançamento de quinta feira, já sem croquete que a crise oblige: as flores, as águas, os discursos, de um autor da praça, muito em desacordo com o acordo. (pelo menos, tanto quanto possível)
    Diz-me que desta vez, deu a volta à "coisa" e escolheu as palavras que menos se pudessem "acordizar". É uma "técnica" e parece que dá imenso trabalho. Imagino que se trata de usar sempre tartarugas e, acabar de vez, com animais inoportunos.
    Que falta nos faz o Miguel Torga!

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    1. Filipa,

      Escrever, como falar, gritar, sussurrar, deve ser sempre um acto de liberdade; depois "consome" quem gosta, quem comunga e, com o autor, consegue voar. Detesto qualquer tipo de espartilho que me desnorteie a raiz do pensamento, além de que sempre privilegiei o conteúdo em vez da forma. Tartarugas há-as aos montes mas cagados muitos mais (cadê Marquesa de Carabás...?). Os maiores sucessos, Filipa. E Torga, sempre!

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