© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

sempre mais qualquer coisa

Gosto de incrementar a proximidade com a escola e com os professores. Sou mãe interveniente na comunidade educativa, dentro do que me parece prudente e sem exagerar. Conheço os professores de nome, figura e método de acção, e mesmo quando divirjo com este último, faço questão de tentar perceber e jamais opinar contra, sei bem o que isso significa em consequência no processo educativo. Mas às vezes deparo-me com imprudências e discursos a rasar o insensato, ditos aos alunos e devidamente comprovados, como pormenores extremamente pessoais da vida privada do professor. Pormenores esses que os mesmos não tinham nem como nem porque saber, mas sabem. Isto entre outras manifestações de inabilidade que não vou por ora dissecar. O que me pasma é o conjunto de alterações e avaliações feitas nos últimos anos. O que me pasma ainda mais são os exageros que certificam a competência técnica de quem ensina crianças (que deverá e muito bem tê-la), quando comparada com o desnorteio com que se deixa ao Deus dará as competências sociais e educacionais dos professores. É claro que as vozes se levantarão a dizer que educar é em casa e a escola serve mesmo é para ensinar. Serve, claro que serve fundamentalmente para isso, mas a verdade é que há realidades que não emparelham nem à lei da força e uma delas é o ensino e a insensatez, porque implica uma exigência de rigor imposta por alguém que não sabe a noção do limite. Eu sei que não é produtivo, mas ensinar limites deveria fazer parte do programa escolar. Poderia ser que no mínimo se cuidasse mais o assunto e o carácter de normalidade deixasse de entrar ligeiro e subtil no meio de atrocidades significativas e de diversas ordens, que invadem certos deveres. Não, nem tudo é normal, e a situação seguinte que se colocaria em relação ao posto de trabalho do professor é um facto que nada tem a ver com escola nem com os alunos, mas que deveria ter apenas a ver com o sistema e a pessoa em questão. Assim, de olhos bem fechados, o problema não é do professor que mantém o seu posto de trabalho, mas sim dos alunos que ele deveria ensinar e da escola onde ele lecciona de forma desadequada. Avaliar competências é muito mais do que calcular conhecimento técnico. Um professor, e por muito que deva ensinar, tem de ser muito mais do que matemática. Tal como um médico tem de ser muito mais do que uma ciência, um advogado tem de ser muito mais do que uma lei, um filósofo tem de ser muito mais do que um pensamento e um padre tem de ser muito mais do que uma religião.

8 comentários:

  1. Este é um assunto que tem muito que se lhe diga, CF. A sua exposição é, no entanto um pouco vaga (ou foi como eu a entendi, pelo menos) e não fico com a certeza exacta do que quer dizer. Mas centro-me numa das suas frases "um professor e por muito que deva ensinar, tem de ser muito mais do que matemática". Concordo em absoluto e é por isso que não calo relativamente a uma tendência que há hoje para avaliar introduzindo uma fórmula matemática niuma grelha excel, sob pretexto de objectividade (como se o trabalho de um aluno pudesse reduzir-se a isso), embora julgue que não se possa cair também no exagero oposto de esquecer o que é suposto ensinar para tratar apenas de competências sociais e outras coisas no género.
    O assunto é inesgotável, mas não sei se não me afasto do seu ponto principal. Se assim é, peço desculpa.

    Beijinho

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    1. Falo da insensatez na globalidade sem querer entrar em demasiados pormenores, porque aí está, podem ser imensos ( neste caso mais específico é simplesmente uma professora que partilha informação muito pessoal em demasia). Tive alguns professores muito afastados de um modelo adequado e encontro-os agora também no meu filho. Daí achar que há muita preocupação em avaliar competência técnica, e muito pouca no restante, que é também tão importante. E o assunto é mais grave ainda, porque me parece que há pouco a fazer. Se no recurso a um técnico, como um advogado ou um médico, é mais ou menos fácil mudar em caso de insatisfação, no caso de um professor o caso é bem mais complicado... Não se afasta nem se aproxima, porque realmente os pontos são mais do que muitos, e todos eles cabem no que se pode dizer...

      Um beijinho para si também Isabel.

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  2. Ai CF ... quantos 'sapinhos' engoli quando vezes sem conta, tive que dizer às minhas filhas que professor respeita-se ... sempre!

    "- Mas mãe, o professor vai para a sala de aulas contar historias da vida dele. Que seca!!!!"
    "- Pois... acredito ... mas tu estás atenta, para quando ele nos intervalos da sua história ensinar qualquer coisinha, tu aprenderes! Fácil!"

    Ups ... dificil mesmo!

    Sempre me fez confusão que um professor se assuma como não responsável na educação dos seus alunos. Mas não somos todos educadores?
    Quantos professores em alguma altura da vida dos seus alunos, têm muito mais empatia com eles que os próprios pais?! Tantos!
    E na minha opinião deviam sentir-se orgulhosos disso!

    É realmente um assunto muito complexo.
    A primeira responsável pela educação das minhas filhas sou eu, mas muitos professores ajudaram, e muito(!), e outros tantos desajudaram ...

    Sou neta de dois professores, e como já não sou propriamente muito nova ;) estou a falar de dois professores do antigamente.Pelo que me lembro, tinham muito orgulho em serem educadores!
    Educadores dos filhos, dos netos, dos alunos ...
    Todos temos o nosso "papel".

    Beijinho CF
    O Paulo arranjou uma boa 'parceira' para o blog ! ;)

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    1. Pois é Maria João. Nós, enquanto pais e do lado de cá, devemos fazer o papel da sensatez, quando por vezes o que apetece não é nada disso. É claro que ser professor não é fácil, mas é sem dúvida uma profissão deliciosa (falo com conhecimento de causa, pois já leccionei), se for vivida em plenitude. Mas para isso é necessário, entre outras questões, não se fazerem clivagens fortes entre o que é ensino e o que é educação. No crescimento de um jovem ambas convergem, e só assim pode ser...

      Quanto aos excessos de informação partilhada, enfim. No caso em questão parece-me realmente um problema, e a questão central é que transborda para as aulas, para os alunos e para a motivação da turma. Apaziguar, todos os dias, é o que tento. Pedir atenção e paciência, só mais um bocadinho... Vai dando frutos, eu sei. Mas às vezes, realmente, não apetece mesmo nada... :))

      Um beijinho para si também Maria João. E muito obrigada pela sua simpatia... :)

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    2. CF, desculpe voltar ao assunto e até de certo modo estar a "meter a foice em seara alheia", mas este assunto é, de muitas maneiras, aquilo com que lido todos os dias.
      A sensatez é boa, neste caso, como noutros, mas por vezes não chega. E coisas destas não se podem admitir, porque têm às vezes consequências inimagináveis e prejudiciais a muitos níveis. Não concordo pois quando diz que há "pouco a fazer".
      Sabe, às vezes, muitas vezes, os professores "servem-se" do facto de estar fechados numa sala de aula para fazerem o que muito bem entendem. E, apesar de haver às vezes entre os professores um absurdo corporativismo, também é verdade que se ninguém diz nada a direcção não tem conhecimento e não pode intervir.
      Por isso, não sei se já o fez, mas sugiro que comece por falar nisso com a Directora de Turma e, se achar que ela não é suficientemente receptiva ou sensível diante do assunto, fale com a direcção da escola e revele-lhes as suas preocupações de mãe, tão legítimas.
      Há às vezes pais que não gostam de ter este tipo de inciativas por temerem que a questão se possa voltar contra os seus filhos e eles virem a sofrer alguma "consequência". Se for esse o caso, mande-me um mail a relatar o assunto, que eu própria posso falar com a direcção da escola sem referir o seu nome. Vou mandar-lhe por mail os contactos para o caso de achar que isso possa ser solução.

      Beijinho

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    3. Isabel, muito obrigada pela sua disponibilidade. Se o assunto não atenuar de outra forma, utilizarei as directrizes que me forneceu... É claro que há sempre algum receio de que os filhos venham a sofrer de alguma forma, na sequência do processo, mas cabe à direcção da escola delinear a acção de forma prudente, e parece-me estar a ser o caso. Vamos ver...

      Obrigada, mais uma vez :) beijinho para si também.

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  3. Boa noite! compartilho e compreendo o teu pensamento mas o problema é que o caso é mais complexo do que isso.
    Penso que tbm não dá para comparar as competências de outras profissões com a de professor até pq isso engloba
    horas trabalhadas, salário, o dom, amor pelo que faz etc.
    Venho de uma família de 04 professores fui a única que abandonei; depois de muitos anos; a questão do limite era algo
    que eu me questionava; o limite dos alunos para comigo e vice-versa. E outras tantas questões que nem vem ao caso agora.
    Uma escola não é feita só de professores e alunos a toda uma dinamica, que faz com que muitas das vezes o ato educacional
    de verdade vai parar em terceiro ou quarto lugar.
    Muitos pais dizem que filho devia vir com manual; imagina só mais de 40 manuais em uma unica só turma. Acho que sería bem mais
    fácil realmente.
    O até que ponto é algo que todo o professor questiona. O problema é que deveria existir manual de bom senso para todas as categorias.

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    1. Cara Casa de Madeira,

      há profissões que necessitam de ser feitas com o coração, e algumas delas são uma ou duas que refiro, como médico ou professor. A questão centra-se na responsabilidade assumida, longe de ser fácil, claro está. Percebo obviamente as dificuldades, como não perceber? Eu própria já estive anos suficientes em escolas e sei bem o que é. Há inúmeras famílias, inúmeras personalidades, inúmeras questões para gerir. Mas a questão que falo, mais concretamente, é quando o próprio professor tem limitações que implicam com o ensino e ultrapassa determinadas barreiras que deveriam existir. Se o aluno os ultrapassa, que o faz e vezes de mais, existem meios de intervenção. No caso inverso a situação é bem mais complicada...

      Obrigada e volte sempre :)

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