© Paulo Abreu e Lima

domingo, 16 de março de 2014

a saúde

A questão da utilização do Serviço Nacional de Saúde versus serviços privados, impõe-se cada vez mais. Se por um lado no público encontramos respostas mais eficientes, mormente em situações de maior importância, por outro, e em questões de gravidade relativa, o serviço privado responde com uma prontidão significativamente mais célere, o que significa muitas vezes uma melhoria da qualidade de vida do paciente em questão. Muito embora conheça os meandros de ambas e tenha serviços que utilizo em cada um dos lados, há situações que me fazem pensar, como por exemplo as relacionadas com intervenções cirúrgicas que poderiam (ou não) ser evitadas. A questão é delicada porque é na maioria das vezes relativa. Senão vejamos: o que salvaguarda o médico particular, acusado com frequência de querer ganhar dinheiro à custa dos doentes? O que lhe legitima a acção, o que o enquadra na ética e no profissionalismos, o que o defende da imagem de oportunista? Por outro lado, que lei protege o médico do serviço nacional de saúde, que tem os exames auxiliares de diagnósticos controlados, as consultas cheias até ao próximo ano, e uma carteira de utentes que ultrapassa o desejável em muitas dezenas? Será que a ganância do particular rouba a competência e o discernimento, apetece perguntar? Será ainda que a falta de recursos pode deixar arrastar problemas que se solucionariam em meia dúzia de semanas, se a pessoa pudesse pagar, urge questionar? 

A visão parece-me ir numa outra direcção, e centra-se mais no médico do que no sistema. Talvez por isso, relego por completo opiniões extremistas que se encaixam em um ou em outro, e não admitem a existência de técnicos capazes em cada um dos lados da barricada. Já encontrei excelentes profissionais em ambos os serviços, e já encontrei profissionais péssimos. Já houve desleixo e competência em cada um deles, e continuo a usar os dois, dependendo do contexto e da circunstância. Mas confesso que me preocupa quem não pode de todo usufruir de uma consulta mais pronta de alguma especialidade, quando dela necessita. Quem espera muitos meses para ser atendido num problema que limita o dia a dia e que faz o paciente desesperar, e muitas vezes piorar. É aqui que o sistema público resvala sem salvação. Não é no serviço de urgência, não é sequer nas doenças mais graves, a não ser em algum caso de carácter mais excepcional, que também os há. É na demora da resposta do que não é grave. E é aqui que o privado entra, recebe de quem pode pagar, e actua em conformidade.

No seguimento haverá de tudo um pouco, e considero o abuso de entidades com fins lucrativos, tal como considero a limitação das outras, por questões diversas, por ventura difíceis de solucionar. Em ambas, como refiro, haverá zelo e competência, bem como o contrário. Usar com cuidado, moderação e alguma inteligência, será o que se recomenda, para além de olhar sempre tudo com muita atenção. Acredito que quem não pode de todo pagar, como sempre, fique limitado. Tal como acredito que quem fala de mais e sem critério, como sempre, é exagerado.     

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