© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 8 de abril de 2014

(não se iludam) somos um número

Somos um número indiferenciado na matemática do mundo. Representamos uma ínfima parte de uma totalidade que se gere em torno de dinheiro, interesse, objectivos criteriosos e definidos a medidores exactos de satisfação e qualidade de vida, um mísero indicador vazio de conteúdo e consistência. A nossa função é mantermos o significado produtivo da eficiência no bem comum, competentes no emprego, complacentes na amizade, infalíveis na sociedade. Nas épocas de prova tudo se mede em unidades de avaliação, e no caso de excessos ou desleixos somos preteridos em prol de um outro número mais favorável, na relação qualidade preço. A fronteira entre sermos gente ou só gestores mora aqui, na vertente emocional que consigamos impelir aos actos. Curiosamente, exactamente a mesma que nos torna vulneráveis à acção conjunta da administração mundial. 

6 comentários:

  1. À primeira vista é uma visão impiedosa, CF, demasiado crua, mas nem por isso menos verdadeira. A "vertente emocional" de que fala é que baralha tudo e nos salva, concordo consigo, mesmo quando tantas vezes nos trai. Com tudo o que isso tem de bom e mau...

    Beijinho

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    1. A humanidade é crua Isabel, não há que ter medo de a olhar como ela é. A vertente emocional é o pau de dois bicos que permite que o mundo seja um lugar possível, não fosse ela, e já teria secado. Perigoso será se com medo recolhermos...

      Um beijinho para si também.

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  2. Mesmo CF....infelizmente :(

    À vezes fico com dúvidas se a vertente emocional me ajuda a sobreviver com alguma dignidade, ou se só atrapalha por não me deixar ser parte integrante desta sociedade de números .
    Eu sou, como todos nós, uma parte integrante, é claro(!) , mas contrariada.
    A frieza dos números faz vitimas mesmo ao nosso lado e … nada se passa! No minuto seguinte está tudo igual ao minuto anterior. Houve um sobressalto de um minuto enquanto a vitima caiu.
    Incrível como nos adaptamos a esta realidade.

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    1. Ajuda Maria João, claro que sim, é a principal responsável por conseguirmos viver neste mundo... Cultivar essa vertente a um nível mais abrangente seria um remédio prudente, mas eventualmente impossível. A frieza dos números seria necessária se não se tivesse massificado ao ponto de se tornar um estorvo sério para a humanidade, mas a verdade é que me parece que o caminho é um tanto ou quanto irreversível. Às vezes e em alguns dias. Noutros, estou de tal forma crente que julgo possível o recuo até ao sensato... :) Será??

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  3. Não CF. Eu tenho mais esperança no mundo, à medida que caminho na idade. É que encontrei ao longo da minha vida seres excepcionais, que nunca me desiludiram. E os que desiludiram já eram assim. Eu é que não via. Ou não queria ver, que é um direito que assiste a todos. Como o de fazer disparates.
    Sabe? O problema maior reside em nós, que nos projectamos sempre naqueles que amamos. E não devíamos...

    Abraço

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    1. Não falava propriamente de amor Helena, falava sim da mecânica do mundo, que me parece funcionar de forma demasiado racional e matemática, especialmente no mundo profissional e social. Também já encontrei muita gente boa e ai de mim se não fosse esse o caso. É claro que existe emoção, é claro que há excepções a confirmar regras, o que há escala mundial significa muitíssima gente. A questão central talvez seja de facto alguma desesperança, como de resto diz, fruto de inúmeras questões. Velem-me portanto vozes experientes que me vão chamando para a esperança da vida. A sua, como algumas outras, infelizmente não tantas quanto eu precisaria... Também por isso, vai um abraço para si também. :)

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