© Paulo Abreu e Lima

sábado, 3 de maio de 2014

a certeza

Não aprecio que me forcem pontos de vista, ideias concebidas e universais, coacções obcecadas com rigores próprios ansiosos por se venderem, fundamentalismos alicerçados nas fragilidades da convicção. No meu mundo acredito no que eu quero, e há permanentes imposições que me aborrecem, como a dos corpos esculpidos, a dos pratos quase vazios, a de politicas determinadas, a de credos obcecados. Até porque eu posso variar com o tempo e com a vontade sem que tal facto implique incoerência, e tão-somente por percepção. A constante venda da certeza é uma invasão de espaço da qual me defendo a todo custo, mas para isso necessito de me desviar da publicidade exagerada, dos “artigos científicos” nas revistas cor-de-rosa, das vozes que fabricam o culto do que bem entendem em detrimento do resto do mundo, que gira naturalmente ao contrário. Uma salada num artigo pode ser encarada como saúde e incentivo, e sou bem capaz da tolerância, mas um prato insistente de legumes verdes e desenxabidos todos os dias deixa-me o corpo desgovernado, preciso de uma boa mesa, farta e regada, e isto em mero título de exemplo. Não me incomoda a informação, e como tal apresentem-me ideias e pontos de vista, mostrem-me planos de acção e transmitam-me opções, ensinem-me os prós e os contras de cada irmandade que infiltraram, mas jamais me empurrem numa direcção pela força da exaustão. Vender certezas é um risco tremendo, e talvez por isso eu tenho poucas, quase nenhumas. E essas são minhas, tão preciosas que não as vendo a ninguém.

2 comentários:

  1. CF
    Não podia estar mais de acordo consigo. E acabei a rir-me de uns vendedores de banha da cobra que, ao mesmo tempo que a lia, vendiam o seu produto, que mais não era do que a sua douta opinião sobre o recente DEO, cujo título infeliz me lembra sempre um desodorizante que também por aí se vende.
    Também eu só tenho um mínimo de de certezas/convicções que, por serem poucas, só interessam a mim própria.
    Bom dia da Mãe!
    Bjo da Helena

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :) Banha da cobra é o que há mais por aí... Enfim, tirando em uma outra situação em que achamos piada pelo ridículo, são realmente situações enfadonhas, pelo menos quando persistentes...

      Desejo-lhe também um bom dia da mãe, Helena. Com toda a paz, amor e tranquilidade que a nobre condição merece. Um beijo para si.

      Eliminar