© Paulo Abreu e Lima

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Lua de Maio (como os nossos olhos a vêem)


Já me confrontaram algumas vezes sobre o facto de as fotografias da Lua que aqui publico não corresponderem à imagem que se vê a olho nu. Indagam se faço alguma alteração na câmara por forma a ver-se com mais detalhe e sem aquele brilho todo. Respondo que a máquina fotográfica tem um sistema óptico muito idêntico à visão humana; e passo a explicar: quando olhamos para o Céu, tendemos a focar para o infinito. Aqui, a Lua surge muito luminosa e nem sequer vemos os seus mares e crateras – sem falar na auréola difusa que a circunda. Esta imagem está estampada na foto acima. A partir do momento em que apenas focamos a Lua, esta já aparece mais definida; até conseguimos ver algumas manchas e a coroa luminosa desaparece – foto seguinte:

 
Experimentem, ainda assim, continuar a olhá-la fixamente durante um a dois minutos… Passado algum tempo vemos muitos mais detalhes e constatamos que a bola branca que antes parecia quase um sol está cheia de manchas mais escuras e outras mais luzentes – terceira foto:


 
Afinal o que aconteceu? Uma adaptação à luz durante a convergência. Ou seja, no escuro as nossas pupilas (as bolinhas escuras dos nossos olhos) estão mais abertas, mais dilatadas, por forma a captar toda a luz possível. Quando fixamos a Lua, de brilho intenso, elas vão progressivamente diminuindo na exacta medida em que para focarem aquele corpo luminoso têm de captar menos luz. Neste sentido, as pupilas são o diafragma da lente da máquina fotográfica. E a fantástica diferença é que a visualização onde é produzida a imagem é captada no sensor, no caso da câmara; e no nosso cérebro, no caso dos nossos olhos.

Esta divergência leva-nos a uma outra questão, muito debatida no mundo fotográfico: sendo a fotografia, antes de mais, uma forma de comunicação e de expressão, deverá ser o mais fiel ao que realmente vemos e queremos transmitir ou deverá ir muito além e revelar o que sentimos? Dito de outra forma, deverá figurar no âmbito do jornalismo ou no da arte…? Fica para a próxima.

6 comentários:

  1. Começo pela questão que coloca no final: para mim a fotografia está claramente muito mais perto da arte do que do jornalismo e é comparável à literatura e em particular a poesia. Explico porquê. Uma e outra partem da realidade, mas alteram-na . E o que nos oferecem não é realidade; é já outra coisa, que vai muito para além dela. Não há nunca por isso, acho eu, o tal "retrato fiel do que realmente vemos" porque há sempre um dimensão do que sente quem vê, na singularidade daquele instante que pretende captar e imobilizar. E por isso uma fotografia, boa ou má, de que gostamos ou não, transporta sempre em si uma carga emotiva, uma escolha (motivo, ângulo, luz, aproximação e todos os outros pormenores técnicos de que eu não sou especialista) que é o que lhe confere dimensão artística, no efeito estético e na capacidade de tocar de muitas maneiras diferentes a sensibilidade de quem a vê (ainda que não saiba porquê, onde como e quando ela foi tirada - nem isso importa).

    Sabe o que eu acho das suas fotografias, Paulo, não quero estar sempre a repetir-me, mas tenho, tal como a Teresa, uma predilecção muito especial por esta série das luas, que me surpreende e encanta a cada mês, em cada nova publicação.

    Sinceramente, já não me lembro assim de cor quando foi que isto começou, mas acho que devia pensar seriamente em fazer um livro com uma selecção das suas luas de um ano inteiro, por exemplo, juntando a fotografia e o(s) texto(s) que a acompanham.
    Havemos de voltar a falar disto, mas prometa que pensa nisso (e não me diga que não tem tempo...)

    Post lindo de morrer, Paulo, como sempre! Parabéns.

    Beijinho :)

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    1. [Isabel, antes de mais, as minhas mais sinceras desculpas por aprovar o seu comentário e não lhe responder de seguida. Saliento esta ocorrência porque detesto que me façam isto. Prefiro que não me aprovem ou que não me respondam nunca]

      Tendo a concordar consigo quanto à fotografia como forma de arte, embora ambas asserções me parecem, isolada ou conjuntamente, válidas. Estou-me a lembrar da chamada fotografia conceptual que descura totalmente a forma e alimenta apenas o conteúdo, a ideia, que quer transmitir. Mas isto dá pano para mangas e muitos posts...

      Quanto ao resto, muito obrigado. O texto foi essencialmente informativo e "ao de leve", tentando explicar a diferença entre olhar e fotografar, e como ambos podem ser tão semelhantes.

      Beijinho :)

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  2. A Isabel tem razão. Este seu lado devia ser mais conhecido. Embora deteste ser fotografada - fico mesmo sem jeito - gosto muito de fotografias. São momentos, são emoções, são até palavras que falam mais do que aquelas que dizemos. As suas fotos são lindíssimas e devia publica-las, sim. Havemos de falar nisso.
    Bjo

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  3. Um grande beijinho para si, Helena. Até dia trinta.

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  4. TERESA PERALTAmaio 26, 2014

    Maravilha!.. Não posso estar mais de acordo com a Isabel e com a Helena. Falamos dia trinta.
    Beijinho.

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