© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 20 de maio de 2014

the end

Acredito na harmonia como base da construção e autorizo os números, os meus principais inimigos, a comprovarem-no: mais com mais dá mais, menos com menos dá mais, menos com mais, depende.  Na construção da natureza existem princípios básicos que permitem a continuidade, sempre indexados à concordância e complementaridade da diferença, as mulheres amparam os homens, por exemplo, e os homens amparam as mulheres. As mulheres amparam no sentido de cuidar, os homens amparam no sentido de proteger. Não acredito na indefinição de papeis, na eficácia omnipotente independente do género, em capacidades genéticas que se aprimoram a despropósito. Acredito no ajustamento, no crescimento e na resiliência, e por isso creio na adaptação necessária ou evolutiva em sentidos dispersos. É a vida, a individualidade, o carácter, a resignação. Ainda assim, e além caminhos, não podemos nunca abdicar da harmonia indispensável à coexistência. É por isto (e por muito mais) que a violência doméstica me assusta. É por isto que não consigo olhá-la de frente e tratá-la por tu, dar-lhe um soco e derrubá-la, matá-la com teorias e enterrá-la, e prefiro manter-me na incredulidade quando me falam em recomposição. A partir do momento em que se destrói o respeito e a perda de consciência de papéis se assoma, não há retorno. Não há frase que acalme, não há esperança que valha, não há regresso possível ao papel principal. The end. 

(O sonho, esse, pode não morrer nunca. Nem sei se o venere pela maravilha da fantasia, se o amaldiçoe pela pobreza da limitação.)

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