© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 19 de junho de 2014

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As mulheres e os homens são iguais e são diferentes. São um corpo construído sem preceito de arquitectura, uma mente projectada sem o rigor da matemática, uma construção genética aprimorada por dominante e recessivo, ora mandas tu ora eu, dependendo da conjuntura e da carga imponente da possível questão. E dos astros e das vontades e da hora da concepção. No final do encontro chegamos à definição inicial que norteia o caminho incerto, entramos no cubículo reservado a sermos, fechamos a identidade dentro de um local secreto, todos diferentes e todos iguais. Mas o mais certo, o que sinto como sabido, o que me acrescenta e diminui enquanto pessoa que sou, é a diferença que encontro na minha condição. Não me incomodam os movimentos feministas que apregoam a igualdade a todo o custo, não me perturba a insistência da paridade entre o que para mim é diferente, entre um género e o outro, entre uma pessoa que nasce num corpo homem e outra que surge num corpo mulher. A única coisa que insisto é no respeito e na tolerância, no resto sou diferente, e se a sociedade me exige o contrário sinto uma enorme invasão. Ninguém consegue ser os dois géneros ao mesmo tempo. Ninguém consegue o primor de um lado e a sensibilidade do outro, a compreensão de um lugar e a ligeireza da desordem, o amor e a autoridade, tudo, num corpo só. Um corpo não é um local onde cabem todas as demandas do mundo. O corpo é o sítio onde crescemos numa direcção.

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