© Paulo Abreu e Lima

domingo, 22 de junho de 2014

loucura ou maldade?

A minha avó defendia a loucura, introduzia na teoria a generalidade do mundo, assim poderia banir a maldade e viver sossegada. Não sei se teve culpa das minhas selecções, não sei sequer se a minha escolha adveio de uma necessidade suprema de lhe desvendar os mistérios da alma, de lhe explicar a essência do homem, de lhe dizer que na vida há gente boa e gente menos boa, e que a loucura, a pobre da insanidade, é um local medonho mas não tão medonho como a desalmada da maldade. Porém o problema, a minha única e permanente questão, é de onde surge esta última dimensão. Qual é o segundo exacto onde começa a acção, se nasce no corpo ou se medra com os anos, se aparece por obra e graça de um Espírito Santo danado ou se algum demónio, transeunte ou naufragado, toma de assalto os malditos que a partir dessa hora flagelam em nome do mal. Por vezes também não distingo maldade de necessidade, mas o caso em questão não me parece caber aqui. Se foi o caso, se uma mãe encenou um desaparecimento de um filho para posterior venda, onde cabe tal acto? Num desespero, numa maldade, num foco supremo em si própria, numa loucura insana? Para mim, e acima de qualquer grandeza, cabe num desapego e num desamor. Num abandono puro e duro, interessado e com fim à vista, uma premeditação, um meio para atingir um fim ambicionado, uma transacção de um ser humano, por acaso seu filho. 

E agora, haverá maior loucura ou maior maldade? Eis a questão. 

( No seguimento penso na suposição da reabilitação. Aí, assumo, creio mais na da insanidade do que na da maldade. Tudo porque o raciocínio, nesta última, tem objectivos específicos e direccionados. Eventualmente, digo eu, será um dos critérios que destrinça verdadeiramente ambas as realidades.)

8 comentários:

  1. No caso vertente, nem loucura, nem maldade, nem insanidade, nem necessidade. No caso em causa foi um conjunto de factores quer pessoais, quer culturais, que primam pela falta completa de valores. Ou se quisermos, valores invertidos que a interditam na condição de mãe. Mesmo a pobreza extrema jamais justificaria a enormidade...

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    1. E a interdição de ser mãe não será por uma loucura? O que leva uma mulher, mãe, a vender um filho? É claro, eu sei que serão um conjunto de factores, como aqueles que referes. Mas será só isso? E o apego e o amor, aquele que deveria ter nascido naturalmente, após (ou mesmo antes) o nascimento? Esse não é cultural Paulo, é intrínseco. Ou deveria ser, se não houvesse um qualquer desvio preocupante. Ou uma maldade e um egoísmo prepotente...

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    2. Mas quem disse que o instinto e apego maternal é certo? Quantas mães não o têm? Isso é um desvio? Aquela senhora não deveria ter tido filhos. Ponto.

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    3. A questão é delicada. Se é um desvio? A partir do momento em que acabam os limites e o respeito por uma vida, neste caso de um filho, só consigo realmente encontrar dois cabimentos: ou loucura, ou maldade. É claro que não deveria ter filhos, mas uma interdição do género tem de ter um cabimento legal... O mundo, por perfeito que seja, não resolve por si estas situações...

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    4. A questão é delicada, mas não complexa. Repara, quando na amoralidade não cabem valores (ou os inverte), sendo no caso um valor absoluto - a Vida Humana -, estamos perante um crime. O móbil deste não tem necessariamente de ser subjectivado como maldade ou loucura. Falamos de factos (alegadamente). Quanto ao cabimento legal, não se trata de a interditar como medida preventiva, mas de lhe retirar guarda parental e esta está explicita na letra da Lei.

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    5. Plenamente de acordo, quanto à questão da guarda parental. Mais, ia até às medidas preventivas e, quanto a mim, actuava-se também nesse campo.
      O resto da destrinça é a minha veia profissional a trabalhar com afinco: preciso de saber em que terreno cabem as coisas. Uma mania como outra qualquer... :))

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  2. Entregar um filho para prosterior adoção, é um acto de amor ou de desamor?! Eu não sei.
    Vende-lo, para mim é um acto criminoso. E quem o vende tem uma dose de maldade tão grande como quem o compra. Só podem ser completamente egocentricos. Ambos deviam ser proibidos de ter filhos. A ganancia de quem vende e a loucura egocentrica de quem compra, não são compativeis com amor.
    Beijinho CF
    Sabe CF, este tema é de alguma forma dificil para mim. Faço parte de uma familia em que temos algumas adopções em diferentes gerações.

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    1. Para mim, entregar um filho para adopção pode ser amor ou desamor, dependendo do contexto em questão. Há tanta situação difícil na vida, será que conseguimos julgar todas? Jamais me veria a fazer uma coisa dessas. Mas será que não constitui, em casos extremos, um acto de amor? Pensemos nisso com cuidado...

      A venda e a compra é outro território. Condenável, egocêntrico, como tão bem diz, de um lado e do outro. Uma manifestação pura de desprezo pela vida e pela humanidade, sem dúvida alguma...

      Um beijinho Maria João. E um bem haja à sua família... Adoptar é sem dúvida um acto de amor...

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