© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 31 de julho de 2014

meco (again...)

Percebo a suprema necessidade de se encontrar um culpado para o caso do Meco. A busca da justiça, o despejo da revolta, o apuramento de um vivo que pague de alguma forma a morte dos mortos, a maior urgência de quem cá fica (ou a busca incessante de algum sossego). Faz-me pensar que já me cruzei com a ela (morte) tantas vezes. Não só quando a encontro num corpo ou quando a sinto chegar direccionada, quando a leio nos jornais ou quando a olho no cemitério, descansada (e enfeitada). Já a vi de frente em riscos que cruzo ou cruzei, inúmeras vezes, ao longo da minha vida. Haverá quem nunca tenha corrido algum? Existirá quem não tenha sujeitado o ser a algum excesso injustificado, perigoso e abusado? Demasiado abusado? Será frequente encontrarmos pessoas certas e formatadas, que saibam exactamente o que fazer para preservar o bem mais precioso que temos, sem inseguranças associadas? O factor sorte, algum bom-senso emergido no último instante, um rompante "milagroso", entre muitas outras justificações, poderão explicar o porquê de tantos de nós por cá andarem. Mas o azar, um descuido maior, um risco mais elevado do que o calculado, uma fúria do mar, um carro desgovernado, uma piscina cheia, podem cruzar qualquer caminho, e a culpa pode mesmo ser só da vida. Não sei se é o caso, mas se assim for, a única coisa sensata é deixá-la seguir (à vida, injusta mas soberana). O excesso de empenho na exteriorização da revolta está, se for esse o caso, mal direccionado. E o luto nessas situações pode ser bem mais complicado.

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