© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

amanhã à mesma hora

Observo à minha volta que confiar no outro pode ser bem complicado. Confiar no que sente, no que quer, no que precisa, no que ambiciona. Por vezes, tantas vezes, escolhemos testar. Preferimos, estrategicamente e com forte carga egoísta, arriscar até deixar de rastos, visualizar até que chão vai cair, quantas lágrimas vai deitar, quantas noites passará em claro, visíveis a olho nu. É claro que se pesam os resultados em quilos de substância. Aumentam de peso os que se arrastam muito tempo, os que encharcam caixas de kleenex em lágrimas e ranho, os que parecem ir morrer para sempre (voltem, estão perdoados). Os que não se manifestam a olhos vistos são leves e descredibilizados. Porque não demonstram logo não sentem, uma análise de funcionamento que pode perfeitamente equiparar-se à avaliação de sinais exteriores de riqueza. Não consigo, nunca consigo deixar de rematar. A confiança (sim, farto-me de falar sobre ela), ou vive connosco ou jamais nos chegará, mais ou menos como qualquer outra substância que nos escorra nas veias: ou o corpo a fabrica sozinho ou necessita de constantes comprimidos, momentâneos, apaziguadores, calmantes ou excitantes. E amanhã outra vez.

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