© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

crime e castigo

Conheço o discurso, sempre parecido, da moralidade. A arrumação das palavras certas, a frequência dos lugares correctos, a compostura que começa desde pequeninos, dizem ser de pequenino que se torce o pepino. Normalmente o porte não deixa lugar a grande reparo. Usualmente o discurso é escorreito e o raciocínio irrepreensível. Muitas vezes são bons alunos, frequentam as aulas de religião e moral, à quarta passam uma hora na catequese, ao sábado de manhã frequentam a equitação, o respeito ao animal é muito urgente de se ver. Sabem de cor e salteado as regras da boa educação, quando se encontram acompanhamos pelos progenitores situam-se ao meio, entre o pai e a mãe, trazem uma mão sobre o ombro, um sorriso discreto, são o orgulho da família. Curiosamente, no dia a dia, têm o poder de transformar num longo inferno o intervalo de quinze minutos, que para a menina da aldeia que não veste Timberland, parece durar uma eternidade. Convenhamos, justifica-se, ela nem sequer traz um tablet, uma camisola da Violeta, um casaco Gap, uns óculos cor de rosa. Porque motivo deveria penetrar a perfeição do grupo? 

(Também não percebo, nem me faz sentido. A perfeição da riqueza e dos valores que se dizem altos é uma linha intransponível que não passa da pele para dentro, nem atinge o coração. Soubessem os perfeitos o que lhes falta, e inverteríamos o sentido da violência. Um auto-castigo bem-falante, ignorante e bem vestido, que continua a ser confundido com evolução.)

6 comentários:

  1. Bullies são de todas as classes e géneros. Constatei que não são os queques que torturam os menos queques. Às vezes até pos contrários se atraem. Tudo depende das escolas, dos grupos - estes sim, poderosos - das notas, da vida em família, frustrações ou maldade intrínseca. Nunca viu um bando de rufias bullying um nerd?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já vi muita coisa Virgínia. O que realço aqui, para além da violência, é ela nascer também onde os valores, supostamente, residem. Ninguém espera muito do rufia da rua, por vezes até mais correcto... É mais ou menos como a velha história da beata, da igreja e do pecado. E às vezes do padre.

      Eliminar
  2. Desculpe as gralhas, CF. Não creio que os meninos bem sejam melhor educados em termos de valores que os das classes mais baixas. Os valores não se adquirem por osmose, mas pelo exemplo. E às vezes nas mesmas famílias há bullies e não bullies, tendo sido educados do mesmo modo. Penso que a ocasião ( e a frustração) faz o ladrão!!

    ResponderEliminar
  3. É tão difícil algumas pessoas compreenderem que toda essa performance que a sociedade aplaude pode estar tão desprovida de valores. É que para além da família quase todos os adoram, o que reforça o narcisismo e depois os que vislumbram essa falta de carácter, são os invejosos, porque o jovem é perfeito e um exemplo. Bahhhh :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É difícil de facto, é uma questão social. Honestamente, acho que uma boa parte da população contribui para estes fenómenos, mesmo sem dar por isso... :(

      Eliminar