© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 20 de março de 2015

Mitos urbanos (III)

Imagem retirada algures da net

Hoje, dia de eclipse solar total dentro do Círculo Polar Ártico (paralelo da latitude 66º33'44''N) e parcial em Portugal, uma jornalista da TSF perguntava ao seu correspondente, pousado no norte da Noruega, se o Sol já estava completamente tapado pela Lua e, desta forma, voltava a ser noite. O colega, a tiritar de frio (estavam 24º negativos), disse que ainda não, que o Sol ainda não tinha desaparecido, porquanto ainda não ficara noite.

Meus caros, ainda não ficara, nem nunca irá ficar noite. Acaso quando o sol está completamente coberto por nuvens escuras fica noite? Não só não fica como posso assegurar que a visibilidade é menor do que num eclipse total do Sol. Quando este ocorre são visíveis duas porções: a umbra e a penumbra. A umbra é a parte do Sol completamente sombreada pela Lua; a penumbra, ou fímbria, é aquela luz em forma de auréola que denuncia a presença do Sol atrás da Lua. Esta luz faz mais claridade que qualquer dia intensamente nublado.
Estes mitos, muito enfatizados pela comunicação social, fazem-me lembrar aquela parte de "As minas do Rei Salomão", traduzido por Eça de Queiroz, em que o herói é salvo por um eclipse que diz ao chefe da tribo dos indígenas ter profetizado, fazendo dele uma espécie de deus. Aqui, os indígenas e os papalvos somos nós.

8 comentários:

  1. Mitos ou desatenção!? Já presenciei alguns e nunca esperei ver o dia tornar-se noite! Penso que houveram sítios que nem se deu conta, devido ao cinzento do céu!

    Bom dia Paulo

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    1. Desatenções que geram mitos. Isto é como os boatos, ou como os contos: cada um acrescenta um ponto.

      Bom dia, CQMT

      ps: não tem um nick ou nome menor...? :)

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  2. Muito bom, Paulo! Sou fã desta sua série...

    Beijinho :)

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    1. Acho verdadeiramente fantástico em pleno século XXI a persistência de tanta informação errada, Isabel. Como sabe, a obra que cito é do século XIX. Como é possível tamanho desconhecimento... daqui a nada voltamos à Idade das Trevas.

      Beijinho :)

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    2. Paulo, bem pior do que a ignorância - porque quem não sabe está sempre a tempo de aprender - é não querer saber e dizer qualquer coisa, só por dizer.
      Eu, que lido com isso diariamente, acho que é um maiores flagelos do nosso tempo.

      Quanto ao seu "mito urbano", gostei tanto deste que o levei "para casa"... ;)

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    3. Aí é que está o segredo, eles não dizem por dizer, eles provavelmente sabem que nunca iria ficar noite, mas como é longe, têm de "rentabilizar" ao máximo o correspondente nos confins do ártico e têm de causar frisson para ser "notícia", não falam verdade. Até na TV vi uma "quase noite" porque fecharam o diafragma da câmara de reportagem. Isto é fraude.

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  3. Também há uma cena no Tintin, em que ele está prestes a ser executado e se dá um eclipse do sol. YTintin é salvo , escusado será dizer :)

    Já vi um eclipse há uns anos em Ofir e impressionou-me pois ficou muito frio e o mar muito escuro. Foi giro. Este ano já tinha visto outro muito parcial em Stanford no campus. Os estudantes estavam lá com telescópios observar.....

    Nada de muito especial.....mais bonito é o sol da meia noite na Suécia.

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    1. Mas no Tintin, tudo é possível :))
      Vi um total na Argentina. É como se de repente tudo ficasse fortemente nublado e, claro, a temperatura sem sol desce.

      Nunca vi o Sol da meia-noite, como nunca vi as auroras boreais, deve ser fantástico fotografar aqueles tons verdes e azulados à noite... :)

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