© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 24 de março de 2015

quem não passa, não sabe

Quem não passa por elas, não sabe a realidade que escondem as estradas internas do País. Quem faz Lisboa ao Porto numa auto-estrada ou num Intercidades, não conhece o que são ramos de flores colocados diariamente num local criterioso da berma de uma estrada, com rosas frescas e muito coloridas. Quem atravessa o País por vias rápidas não encontra as pequenas capelas erguidas, em locais onde alguém um dia perdeu a vida. Também não vê os restaurantes onde se apregoam bifanas, sopas, sandes e pão com chouriço, nem se depara com sofás, cadeiras e outras mais discretas sinaléticas, que denunciam que naquela estrada de terra há uma mulher que espera quem dela precisar. Quem não atravessa o País devagar, com olhos de ver, não percebe que a cada curva da estrada convergem um conjunto de grandezas que nos definem na nossa natureza mais animalesca, sofredora, perdedora, ganhadora e ávida. Quem não atravessa o País de uma ponta à outra talvez esqueça que a perfeição da evolução é totalmente inversa, ao que somos na realidade.

8 comentários:


  1. Conheço bem as estradas a que se refere.Fi-las durante 5 anos em que andei pela província, quando levava 2 horas para fazer os 24km de S. João de Madeira ao Porto. Do Porto a Chaves levava 4 hora, hoje leva hora e meia numa estrada sem vivalma....
    Houve positivo e negativo.....mas o maior escândalo é o sistema de portagens. Só quem não anda nelas é que sabe!!!

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    1. Claro que há pontos positivos, Virginia. Mas faz bem passar nas lentas de vez em quando, faz-nos chegar mais perto da realidade...

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  2. Belíssimo texto, Carla. É verdadeiro. Há muita gente que vive uma vida inteira de olhos vendados...
    Bjo

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    1. Isso mesmo, Helena. Nunca descobri se é ignorância verdadeira ou induzida...

      Obrigada. Um beijinho para si.

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  3. Não sabe mesmo. Adoro passear pelas estradas e caminhos. Parar num pequeno café da aldeia, ir espreitar uma capela que se viu ao longe, apreciar as gentes da terra, cheirar os recantos longe das cidades, tanto para ver, ouvir e cheirar!
    Tenho a sorte de ter uma casa no Geres, perto de Castro Laboreiro. Não me
    canso dos caminhos que precorro ate la chegar e encontro sempre um novo quando la estou.
    É tao bom!
    Beijinho CF

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    1. São estes locais é que contam história. O resto são caminhos, rápidos, é certo, mas sem o calor da população...

      Tem uma casa num lugar magnífico. Que maravilha... :)

      Um beijinho para si, Maria João.

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  4. Tem toda a razão. Lá diz o ditado: o pior cego...
    E também é mauzinho aquele que se "agasalha" à primeira espécie de perfeição que lhe impingem para ver. Nesse aspecto continuamos todos muito "platónicos" e a caverna é o nosso conforto.
    Os óculos de sol azul, que agora se usam muito, são capazes de ser muito giros não são?
    Cumps,
    G.S.

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    1. Seremos mais do que platónicos, egoístas e ignorantes. Desculpe a dureza do termo, mas quem lida com pessoas demasiado perto pode ficar assim. Hoje já não me espanta a frieza do carrasco, confesso. Não há nada como olhar de frente...

      Cumprimentos

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