© Paulo Abreu e Lima

sábado, 9 de maio de 2015

regra de três simples

O entendimento nasce-nos quando queremos entender. Quando o alinhamento A se cruza com o alinhamento B, quando a linha recta se aninha ao formato, quando a esquina se atenua e a distância diminui. Para entendermos é necessário desmancharmos o todo em partes, desfazermos o nosso eu e sorver as chuvas que correm, em torrente e de enxurrada, num baldio qualquer. É preciso escutar sem encaixar no nosso mundo, soltar as amarras do próprio, sentir e acreditar. Acreditar, é muito por aí. Crer que o outro não é nossa imagem e semelhança, esquecer o espelho dos livros, os gomos das laranjas, as folhas da oliveira e as cores foscas do pó. A confiança é um lugar perdido entre o que queremos e o que ansiamos, e nela reside a possibilidade de alguma coisa vir a ser. Não confio, dizem-me amiúde, entre uma lágrima, um ruído, um desespero, um grito enraivecido ou um sussurro quase morto. Ensino sempre o mesmo, não me custa, está escrito em todo o lado, mas às vezes canso-me de regras e perco-me também. Quando me encontro outra vez, chego sempre ao mesmo local de inicio. O entendimento nasce-nos quando queremos entender. Quando o alinhamento A se cruza com o alinhamento B, quando a linha recta se aninha ao formato, quando a esquina se atenua e a distância diminui. É uma regra de três simples, onde a incógnita pode ser um resultado perfeito, em vez de uma ignorância solitária. 

( Há quem busque aceitar, eu preciso de entender. Aceitar pode ser egoísta, entender é sempre dual.)

2 comentários:

  1. Não obstante este texto lindíssimo, entre muitos outros alinhamentos, entendo a maior parte das vezes, já a aceitação nunca a invoco :)

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    1. :) O entendimento vai muito mais longe na direcção do outro... Para entendermos precisamos de implicar a nossa vontade e direcção, aceitar pode ser só passar ao lado...

      Obrigada. Gosto quando apareces aqui "em casa", nos meus devaneios...

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