© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A uma certa distância

Como dizia o meu pai, há certas pessoas a quem não se deve dar confiança, por quem devemos guardar as devidas distâncias e a quem nunca se deve tratar por tu. Não me ponho numa posição de soberba, de complexos bacocos de superioridade, mas de parcimónia e, sem pruridos, de cuidado. Acautelar uma relação – de que tipo for – não acarreta riscos dispensáveis, apenas resguarda futuros equívocos. Embora a analogia não seja vistosa, ou até possa ser, costumo comparar uma qualquer relação a um processo de striptease venial, em que ao longo do tempo as pessoas são exultadas a deixar cair algumas roupagens, mas que a qualquer momento da exibição, esta pode e deve acabar, com muitas ou poucas vestes, dependendo dos teasers, e não mais do que deles. Alguns ainda nem tiraram o sobretudo e outros já se encontram em pêlo. É aqui que reside o predicado da percepção e da prudência, já sem referir o do bom senso.
O descenso está no abuso, e este no desuso da bonomia que, por caldos e cautelas, se quer a uma certa distância. Et pour cause.

6 comentários:

  1. Nós sabemos sempre identificar o abuso do outro.
    Dificil é identificarmos o nosso.

    Ainda bem que voltou, Paulo.

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    1. Totalmente de acordo, Maria João. Principalmente se estivermos focados apenas em nós próprios.
      A disponibilidade para o Outro não acarreta abusos, mas compreensão.

      Tenho a estranha sensação de estar a começar do zero.
      Obrigado, Maria João.

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  2. Não sei se gosto muito da palavra compreensão, Paulo. Acarreta um certo esforço que tem que estar longe da relação com o Outro, quando este é realmente importante na nossa vida.
    Há momentos de compreensão, claro. Mas têm que ser momentos.
    Se soubermos ser/viver com as nossas próprias diferenças, sabemos estar com as diferenças dos outros. Sem esforço! E os momentos de compreensão diminuem naturalmente.

    Desculpe esta pequena 'divagação', :)
    Um beijinho



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    1. Ó Maria João, divague, por favor, o seu divagar é muito bom :) (Tolerância serve?)

      Prepare-se para uma visita minha ao seu blogue, já vi dois posts novos desde a última vez que o visitei.... Tenho imensa pena que não o alimente, muita mesmo.

      Beijinho :)

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  3. Concordo plenamente em manter alguma distância, mesmo conjugal. Aliás, depois de se acabar o amor (?) , essa distância que se foi gerando, cria a possibilidade de amizade, de entendimento e até de alguma cumplicidade que é salutar.

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    1. Pode ser, Virgínia, mas aqui não escrevia de conjugalidade especificamente. Abarca qualquer tipo de relação entre colegas, amigos, camaradas, hierarquias, eu sei lá... :)

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