© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 24 de junho de 2013

fazer amor ou fazer sexo...?

 
(fotografia nocturna de longa exposição - 4:00h)
 
Estas duas expressões são absolutamente ridículas. Não se faz amor, dá-se e recebe-se. Não se faz sexo, praticam-se relações sexuais. Fazer amor, como fazer sexo, não passa de um eufemismo serôdio e estrangeirado que pretende significar actos sexuais, expressão que também repudio; faz-me lembrar actos notariais que obrigam ao pagamento de emolumentos, transação que, convenhamos, nos remete de imediato para qualquer coisa que tem de ser paga e, lá está, não combinando muito bem com o tal fazer amor, é desde os primórdios muito condizente com fazer sexo.
 
Para significados específicos, devemos usar expressões exactas. Copular é muito científico (vamos copular, querida…?), fazer o coito ou coitar (do latim, coitus, união) soa estranho – vamos fazer um coito interrompido, linda…? Fornicar, palavra muito antiga, soa a castigo e vingança (…então, forniquei-o todo!). Resta-nos uma miríade de calão que, como tem sido meu hábito, me abstenho de escrever. Ou não, veremos. Os brasileiros, exímios malabaristas da língua portuguesa, usam comumente transar (a popozuda transa…?). É certo que deriva de transacção, mas não de qualquer uma, tem de ser gostosa (‘tou transando sua música, cara…).
 
Por fim chegamos à palavra certa, a qual, muitas vezes, segue em inglês. Dizem que não fere tanto as susceptibilidades alheias: fuck. A sua origem, muito obscura, é praticamente desconhecida. Como o OK, surgiram alguns acrónimos justificando a sua origem. O mais conhecido conta-nos que durante a grande peste negra, na idade média, tinha de existir consentimento real no seio das populações para procriar com vista a não disseminar a doença. Casais não contaminados levavam com uma tabuleta na porta da casa com a frase "Fornicating Under Consent of King"… Julga-se, contudo, que todos os acrónimos têm por base uma etimologia falsa e a origem da palavra virá das gentes da Dinamarca e da Alemanha.
 
Não deixa, porém, de ser intrigante que a palavra certa – agora em português – foder mantenha dois significados tão distintos: penetração sexual e tramar alguém. Melhor, não será bem assim. À luz de uma sociedade predominantemente machista, preconceituosa e expiatória faz todo o sentido cogitar, depois de uma relação íntima que se quer satisfatória e especial, quem é que afinal fodeu quem.
 
Se calhar, prefiro mesmo o ridículo fazer amor. Ou talvez não.

15 comentários:

  1. Ahahah! Muito bom, Paulo!...
    Tenho uma predilecção por estes posts que abordam questões linguísticas, porque há imensas expressões e palavras que eu também detesto e que nunca uso. "Fazer sexo" e "fazer amor" são dessas. São ridículas, de facto e nem sei qual das duas é pior. "Praticar relações sexuais" também é mauzinho, convenhamos. Na verdade, parece-me que todas as palavras que se referem ao assunto não conseguem adequar-se convenientemente à "coisa" em si.
    Na sua extensa lista de palavras falta ainda "comer" e todos os sentidos denotativos e conotativos que lhe estão associados.
    Também não gosto de "fuck", nem do seu equivalente em português, que nos fere mais os ouvidos porque, naturalmente, somos mais sensíveis à carga que as palavras trazem consigo quando elas pertencem à nossa língua materna. Neste caso, prefiro as palavras correspondentes em francês (baiser, que até é bonito sonoramente) ou em espanhol (follar). Mas lá está: para nós são mais desprovidas de segundos sentidos que o nosso f...
    Entre amigos, usamos às vezes a palavra "palhaçada" ;))
    Mas eu diria que neste caso o melhor mesmo é fazê-lo em vez de dizê-lo. E se for mesmo muito bom, nem é preciso falar sobre isso - eheheh!

    (Por acaso parece-me que a escolha da música está muito de acordo com o ridículo destas duas expressões. Espero não estar a "ferir susceptibilidades", Paulo, mas eu odeio o Bolero de Ravel, que acho chato, comprido e demasiado repetitivo. Se calhar era essa a ideia. Ou não...)

    Beijinho :)

    (Pode fazer mais posts destes, sobre expressões horríveis, que eu adoro!... ;)

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    1. "Praticar relações sexuais" é muito sociológico... Não há de facto nenhuma palavra/expressão que defina na plenitude o acto em si restringindo-se única e exclusivamente ao significado que todos conhecemos.

      O Bolero de Ravel foi propositado: "fazer sexo" é poucochinho e monótono. Não encontrei música mais circular e sem golpe de asa (também lembrei-me do filme da Bo Dereck).

      Beijinho :)

      (prometido ;)

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    1. Virgínia, tremendo equívoco o seu. Aqui deste lado o procedimento com Senhoras sempre foi de cuidado e apreço extremo - como de resto atesta o histórico. Conclusões desviantes terão outras justificações, externas à minha pessoa, sob as quais não me pretendo debruçar.

      Did I make myself clear?

      Cumprimentos,

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    2. Olha que não, Paulo, olha que não....( You're the great Pretender....)

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    3. Virgínia, leia de uma vez por todas pois não vou repetir:

      Deixe de ser maledicente e insultuosa. Comigo não adianta. Não tenho censurado nenhum dos seus comentários por um módico de respeito que ainda mantenho por si, mas se persistir esta insídia, deixará de ser bem-vinda a este meu blogue. O seu comportamento último denota fragilidades às quais sou alheio e que são única e exclusivamente problemas seus. Aqui nenhuma sua provocação terá réplica, porquanto contenha-se. A vida não está fácil para ninguém. Preservemos, ao menos, uma certa dignidade.

      Agradecido.

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  3. :) Não sei porquê, mas analisando todas as palavras que referes, acho que não há nenhuma que me satisfaça plenamente. Assim, falando em palavras, claro, palavras satisfatórias para o assunto em questão. Fazer amor será uma atribuição específica extremamente romântica, enfim, a consumação de qualquer coisa invisível para os olhos, que dita assim ganha consistência que se veja. Ai, por Deus, esta língua portuguesa e as diversas interpretações. Consistência de sentimento, é isso. As outras denominações mais científicas, são qualquer coisa técnica e sensaborona, nada aplicáveis, portanto a um tema de tal importância, física e mental. Culminando na palavra fuck, e ficando em Inglês, desculpa lá, sou uma senhora, parece-me de um uso um tanto ou quanto particular, remetendo na generalidade para o sexo pelo sexo. Pela minha parte, acho que cada um use a que bem lhe aprouver, e de acordo com o que lhe apetecer. Ridículas serão todas e não será nenhuma, a bem da verdade. Até porque de resto, há coisas que a serem feitas de olhos fechados, também poderão ser concretizadas de bocas fechadas. Sem baptismo de nome, só isso, que se entenda. Ai de nós se a boca só nos servisse para falar.

    Um beijo...

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    1. Ora muito bem e "mai'nada"!

      (Fiz um esforço muito grande para não pegar em algumas das tuas frases, olha que o Português é mesmo traiçoeiro... :))

      Beijo,

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  4. Ahhhhh, mt bom :) A fundo, e politicamente incorreto como sabe tão bem, também, por vezes:) Prefiro transar, os brasileiros para mim são certeiros e mestres nas palavras. As "fazer" são mazinhas mesmo e o resto tb não me seduz, credo. :) Assim sendo, prefiro queca, mesmo. Em inglês gosto da palvra fucking para adjetivar, parto-me a rir. E olhe é isso - This post is fucking great!

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    1. Fucking para adjectivar é de estalo :)) Thanks

      (Sem entrar em pormenores, uma queca também está bem metida, quer dizer... pois :D )

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  5. Podes-se fazer amor, ter relações sexuais, copular, coitar, ir para a cama com este ou aquele, transar, faire l'amour, dar uma queca, fuck, screw ou que quer que seja, mas como dizia uma Lady qualquer, cujo nome me escapa: O sexo faz-se , mas não se fala dele.

    D'accord!

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  6. " ... faz todo o sentido cogitar, depois de uma relação íntima que se quer satisfatória e especial, quem é que afinal fodeu quem.”
    Não concordo Paulo … se se ficar a cogitar em quem fodeu quem, é porque a relação não foi satisfatória nem especial ! Por isso, não vale o tempo perdido a cogitar ….
    Adorei o texto! … mas como se costuma dizer as palavras leva-as o vento! O que fica ( o suor, o cheiro, o cansaço, a paixão, o amor … ) isso o vento não leva!

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    1. Olá, Maria João.

      Faz todo o sentido não truncar a circunstância anterior: «À luz de uma sociedade predominantemente machista, preconceituosa e expiatória faz todo o sentido cogitar, depois de uma relação íntima que se quer satisfatória e especial, quem é que afinal fodeu quem.». Ou seja, mesmo depois de algo tão saudável e íntimo, o "mundo" estraga tudo e desfaz o encanto. Foi com este sentido algo sarcástico que quis vincar a duplicidade de significados da palavra.

      Quanto ao resto, muito obrigado!

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  7. Tem razão Paulo, mas a verdade é que trunquei a frase conscientemente. Talvez esquecendo a sua intenção e focando-me num momento de ruptura....
    Afinal quem é o "mundo" que estraga tudo e desfaz o encanto? Não somos nós mesmos?

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    1. Sim. Nós enquanto sociedade, repletos de vínculos relacionais pejadinhos de questões morais, religiosas e éticas e outras. Muitas, segregadoras.

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