© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

a escolha

Há processos solitários, e a escolha é um deles. Poderemos escutar manifestações, receber juízos, comprar opiniões, mas a tomada de decisão final pertence apenas e só a nós próprios. Não conheço muitos caminhos, existirão outros para além dos meus, tenho por certo. Deambulo por um período, intercalo ganhos e perdas, analiso vantagens e desvantagens, chego a colocar itens no papel. Tudo é fácil se houver uma certa sintonia, se a razão e a emoção convergirem, se o querer e o saber se direccionarem, ambos, em busca de uma mesma direcção. Está feito! Se a razão se insurgir perante a emoção, estamos menos bem, mas uso habitualmente escutá-la. Percebo-lhe a lógica das letras, sinto-lhe a força do rigor, sereno e por vezes travo, perante a clareza da lucidez. Quase perfeito! Se por outro lado a emoção se assume como mais preponderante, assusto-me com a dinâmica imponente do vendaval. Permitir ao corpo transparecer os âmagos do que somos pode ir de encontro à lógica, pode fazer-nos recuar perante o risco, pode amarrar-nos à estagnação. Nestes últimos casos o período mais fácil surge apenas quando a razão e a lógica são engolidas pelo nosso interior, ou seja, quando o sentir fala de tal forma alto que corremos atrás de um amor que viva do outro lado do mundo, que largamos a segurança insatisfatória pela partida e o trajecto até à chegada, que acreditamos no que somos e não no que os outros esperam de nós. É eventualmente a maior prova de confiança connosco próprios, e certamente a mais difícil de ser conseguida. Poderemos perder ou eventualmente ganhar, mas vamos com certeza ser. E aí sim, julgo que tudo será perfeito!

12 comentários:

  1. Perfeitamente de acordo. Escolher, por exemplo, fugir de um amor que viva ao nosso lado também pode envolver a digestão da razão e da lógica, tendo como certo que a segurança é insatisfatória, e mesmo que o destino seja incerto, pode permitir muito mais ser. Só que aqui nem tudo sairá perfeito. Escolher é também abdicar.

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    1. No amor não entra a lógica, Paulo. No amor somos com quem amamos...

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    2. Entra, sim. A lógica do amor.

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    3. Se quiseres um dia, explica-me o que é que isso é... :)

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    4. A música explica muito melhor :)

      http://youtu.be/QNMzi1CPaVQ

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    5. Hum... Não creio...

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  2. Talvez porque sou uma pessoa precipitada em geral, gerindo-me mais pela emoção do que pela razão, não me parece que as minhas escolhas obedeçam a um processo tão moroso.....

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    1. Que sorte a sua Virgínia... Quer ensinar-me? :)

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  3. CF. Escolho muitas coisas espontaneamente e precipitadamente, depois às vezes arrependo-me. Mas as grandes escolhas que fiz na vida foram pouco pensadas, fi-las mais por rompante, pelo desejo de mudar algo na minha vida, pela necessidade de evasão do quotidiano, do hábito ou do cansaço. Daí não ter reflectido muito. Podia dar-lhe exemplos, mas não gosto de falar da minha vida íntima....nm profissional aqui. Bom fim de semana!

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    1. Claro Virgínia, há coisas que não são para partilhar... A indecisão talvez seja das minhas maiores fraquezas, muito embora muita gente nem perceba isso. Por isso admiro a coragem do impulso, ainda que por vezes o dito nos possa trazer dissabores...

      Um bom fim de semana para si.

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  4. Carla
    Escolher é abdicar. Não há uma sem outra. Daí que a maioria das pessoas "acumule" dúvidas e incertezas.
    Há um lado germãnico em mim que impõe a escolha, porque não consigo viver no conflito que a dúvida traz. Mas, uma vez feita, não me permito a ousadia de pensar como seria se tivesse escolhido de forma diferente. Jamais volto à dúvida. Ou seja, no meu caso, só existe escolher A ou B, sem qualquer hipótese de arrastar a escolha. Creio que foi uma das grandes mais valias do meu processo analítico!

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    1. Grande mais valia, mesmo... Também não volto à dúvida depois de escolher. A minha questão é prévia, e assume-se no seu esplendor em situações de carácter muito significativo, ou seja, muito poucas vezes na minha vida. Ainda assim, é um facto, a dúvida dá cabo de mim. A luta interna pode ser de tal forma que nos coloca num lugar que chega a doer. Talvez por isso, também concordo, quanto mais depressa surgir a decisão, melhor...

      Um beijinho para si.

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