© Paulo Abreu e Lima

quinta-feira, 26 de março de 2015

quem sabe e queira viver

O mundo parou incrédulo a olhar para quem, com um golpe de egoísmo inacreditável, arrasta cento e quarenta e nove vidas com ele. Os actos insanos atingem nos dias de hoje uma dimensão catastrófica, e a sanidade mental nunca esteve tão em causa. O que leva alguém a assassinar deliberadamente tanta gente, não sabemos. Desde um acto terrorista a um acto de triunfo próprio, tudo pode ser, e nada faz sentido. O que assusta é a impotência em controlar a mente humana. O que é necessário é encará-la, cada vez mais, como facilmente adultera, rapidamente modificável, naturalmente circunscrita a estados de alma danosos. Soluções não sei se encontro, mas fingir que nada se passa também me parece arriscado. Quem tem a seu cargo centenas de vidas de uma só vez, precisa de ser atendido e acompanhado. Quem se entrega às mãos de um piloto precisa que do lado de quem sabe esteja quem sabe e queira viver, não quem sabe e queira morrer. 

10 comentários:

  1. Arrastou cento e quarenta e nove vidas consigo e destroçou centenas de famílias com o seu ato insano. É inacreditável como um ser humano é capaz de tamanha atrocidade. Alguém que é capaz de cometer um suicídio desta natureza tem certamente um desejo insano de morrer, de matar e de ser morto, tudo a mesmo tempo. Isto vai para além do que é concebível. Acredito que este ato foi planeado ao pormenor, na insanidade de uma força autodestrutiva desmedida. Por isso, e não podia estar mais de acordo consigo, alguém que tem a seu cargo centenas de vidas tem de ser atendido e acompanhado por especialistas que estejam atentos a eventuais sinais de risco. Para que o grito de socorro seja ouvido antes de a tragédia acontecer.

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    1. Isso mesmo, Miss Smile. O grito não ouvido, pode ter sido o cerne da questão. Estes actos só podem revelar um total desespero, eu acredito nisso, e acredito ainda que a pessoa estivesse em sofrimento. Só não posso conceber ser possível essa pessoa ir a pilotar um avião, sem que ninguém percebesse o estado em que se encontrava. Se é possível alguém enganar nestes casos? Com certeza. Mas com o funcionamento que existe, nem é necessário enganar ninguém, porque não há ninguém a avaliar... Uma tragédia... :(

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  2. É tao macabro CF. Só consigo pensar que neste mundo esta tudo louco. Se é que eu sei o que é loucura. Acho que não sei 😞

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    1. Não estará tudo, mas estará muita gente... E passa despercebida, que é o mais grave de tudo isto... Isto choca-me. Ao fim de ver tanta loucura, há coisas que ainda me chocam verdadeiramente...

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  3. Há doenças do foro mental que enganam muito bem, durante dias e horas ninguém da conta de que o indivíduo vive uma vida paralela, desconexa, paranóica e sem sentido lógico. Sem medicação estas pessoas são capazes de entrar numa escalada de actos irracionais só porque sim. Não vale a pena perguntar ou querer saber as razões porque elas não existem. Só existe a vontade de destruir e aniquilar, destruir e aniquilar-se. Não sou psicóloga, mas já li muito sobre doenças mentais e infelizmente ou felizmente aprendi a lidar com elas.
    Neste caso, penso que deveria ter havido uma comunicação entre os médicos ou psicólogos e a companhia, mas não sei se isso é deontologicamente possível.

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    1. É possível deontologicamente, sim. O nosso segredo profissional pode ser quebrado em situações devidamente fundamentadas, como o risco de perigo para terceiros. O que me desconforta, o que não pode acontecer, é um potencial suicida a pilotar um avião, tal como não pode conduzir um comboio, ou comandar um barco. Se é difícil a previsão? Com certeza que sim. Mas deveremos utilizar os recursos disponíveis para tentar monitorizar e controlar quem tem este tipo de profissões. As falhas que pudessem surgir seria isso mesmo, falhas no sistema. E não um certo deixa andar...

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    2. Depois de escrever isto já li muita informação no Das Bild, que é o que dá mais notícias sobre o assunto. Havia muitos problemas de saúde física e mental que o piloto não soube ou não quis enfrentar. Se os médicos tivessem informado a companhia do seu estado ou fragilidades, talvez se tivessem poupado 149 vidas. Ele próprio poderia talvez ser mais acompanhado por colegas ou amigos. Não consigo deixar de pensar neste acidente e sinto uma angústia grande quando penso naquelas famílias.

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    3. Concordo consigo Virgínia... Era uma enorme desgraça que poderia ter-se evitado...

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  4. Defeito absoluto meu, que não acredito em fadas, em gnomos, em personagens feitas à medida da massificação da comunicação.
    Também não sou muito crente em suicídios colectivos, preparados milimetricamente por pilotos fabricados à pressão, de perfil germânico- fashion e, sem historial. Seja ele clínico, ou não.
    Proponho um termo: terrorismo. Não sei se se podia ter evitado... mas temo que não.
    Cumps.
    G.S.

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    1. É possível, com certeza. E aí, sim, entramos directos no nível supremo da loucura...

      Cumprimentos.

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