Não conheço ninguém totalmente imune à lisonja. Parafraseando La Rochefoucauld – intriguista e sentenciador apreciado por Nietzsche –, quem diz recusá-la procura repetição. Confesso-me permeável ao piropo dependendo de quem o profere; não incomoda e sabe bem. Noutro dia disseram-me que tinha olhos de lince. Assenti sem grandes observações. Um predador de pequeno porte não perde tempo com herbívoros de grande dimensão.
Fishing for compliments is almost universal...
ResponderEliminar"A raposa observando-o de longe sentiu uma enorme inveja e desejou de todo, comer-lhe o queijo. Assim pós-se ao pé da árvore e disse: Por certo que és formoso, e gentil-homem, e poucos pássaros há que te ganhem. Tu és bem-disposto e muito falante; se acertaras de saber cantar, nenhuma ave se comparará contigo.
O corvo soberbo de todos estes elogios, levanta o pescoço para cantar, porém abrindo a boca o queijo caiu-lhe. A raposa apanhou e foi-se embora, ficando o corvo faminto e corrido da sua própria ignorância."
Olhos de lince é uma expressão usada para dizer que uma determinada pessoa possui grande habilidade do sentido da visão. Consegue ver além do alcance.
Outra expressão semelhante a olhos de lince é olhos de águia. Ambas significam ter uma ótima visão, podendo observar detalhes que muitas outras pessoas não conseguiriam ver.
Satisfeito esse ego?
Ora nem mais: quem se perde pela lisonja corre o risco de perder tudo (não conhecia essa fábula interessante).
EliminarQuanto aos olhos de lince, não me parece ter sido esse o significado, até porque quase sempre uso óculos :)
(O meu ego é pequeno, Virgínia, já teve melhores dias :)
Não posso atribuir à expressão olhos de lince outro significado, pois nunca vi os teus olhos ao vivo. Apenas fotografias. Mas deduzo que devem ser dum verde acastanhado e grandes, próprios dum felino. Se os vir alguma vez poderei confirmar. Para já não passa de conjectura :)
EliminarEntão temos de combinar isso, Virgínia. Só não diga que são de leão :)
EliminarPiropo é daquelas palavras com uma definição que pode ser demasiado redutora. Tendo a vê-la assim. E não gosto de piropos. Mas gosto de elogios :)
ResponderEliminarLisonja, elogio, piropo, whatever. Ou vais invocar a "criminalidade" da coisa...? :)
Eliminar(Muito bem-vinda à blogosfera, amiga Hipatia!)
Concordo com a Miss Smile: lisonja também não é a mesma coisa :)
Eliminar(se fosses mulher, pensavas duas vezes antes de pôr as aspas; eu penso, mesmo não concordando com os excessos)
Para mim, lisonja tem um significado negativo, porque implica um enaltecimento exagerado que pode resvalar para o falso. Em contrapartida, o elogio é uma manifestação positiva em favor de alguém. Eu também não sou impermeável a elogios e tenho consciência de que o elogio tem os seus “perigos”. Sei que o que me pode fazer refém do elogio não é o outro e as suas intenções (sejam elas quais forem - agradar, ficar bem na fotografia, conquistar terreno, manifestar sincero apreço, etc.), mas minha própria vaidade. Portanto, as correspondências acabam por ser sempre minhas. É certo que o grau de impacto do elogio depende, em larga medida, de quem o profere e, também, da sinceridade e comprometimento que lhe são subjacentes. Há elogios que, pela sua doçura, nos confortam e nos ajudam a temperar a realidade. No entanto, um elogio é apenas um elogio. O que fazemos com ele, a forma como o interpretamos é que já é connosco. Somos nós que inventamos os nossos estados de espírito subsequentes e decidimos como viver essa espécie de afago do ego. E é preciso ter um certo cuidado com eles. Não podemos deixar que, por momentos, nos transformem no que não somos. Eu comovo-me diante de um elogio, mas todos os dias faço o exercício de me ver sem pretensões. Ouvi uma vez uma frase que nunca mais esqueci: a pessoa é na nudez do silêncio.
ResponderEliminarUm beijinho, Paulo
[não sei se tem olhos de lince, mas, pelo que consigo perceber, são bonitos, sim. Aceite o elogio :)]
Nós, portugueses, somos muito desconfiados, vemos num elogio uma obrigação de troca quase mercantil. Quem é vaidoso há-de sê-lo sempre, independentemente dos elogios. Apenas baixa a fasquia e entusiasma-se com qualquer um, não ligando a quem o profere. O perigo da lisonja está em nós próprios e na importância que damos a quem a disfere. Quanto ao resto, é levar na desportiva, sendo certo que uma boa dose de amor próprio nos inocula avisada sabedoria. Na nudez do silêncio (frase bonita) já experimentei quem apenas recebesse e nunca mos desse (mas isso é outra coisa que abordarei noutro post).
EliminarUm beijinho, caríssima Miss.
(Claro que aceito o elogio :) )
ResponderEliminarÉ um predador, mas com olhos certeiros, observadores e penetrantes. O uso de óculos é aqui irrelevante. De muito bom gosto a expressão :)
Até os poetas escreveram sobre eles, como Waly Salomão e cantores eternizaram o seu poema, como Maria Bethânia.
"Quem fala que sou esquisito hermético
É porque não dou sopa estou sempre elétrico
Nada que se aproxima nada me é estranho
Fulano sicrano e beltrano
Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
Experimento tudo nunca me iludo
Quero crer no que vem por ao beco escuro
Me iludo passando presente futuro
Revir na palma da mão o dado
Presente futuro passado
Tudo sentir de todas as maneiras
É a chave de ouro do meu jogo
De minha mais alta razão
Na seqüência de diferentes naipes
Quem fala de mim tem paixão."
Ainda assim o ego continua pequeno? ;)
Pára tudo. Eu, predador? Jamais. Sou um peixinho de águas quentes escondido nos corais. De vez em quando saio para comer umas algas e fazer bolhinhas. Ponto. Predador é o meu irmão que é tubarão.
EliminarO ego ficou ainda mais pequeno ante estes lindos versos perpectuados por Bethânia: quem fala de mim tem compaixão :)
Pode mesmo parar :) Paulo, o lince, tal como qualquer felino é um predador, embora não me pareça que tenha sido essa a base do elogio! Reitero o que já por aqui foi dito, só poderá estar em causa a beleza e intensidade dos teus olhos. Quando se trata de um elogio sincero e sentido não me parece de todo que esteja em causa, jamais, a compaixão, mas com toda a certeza outro tipo de sentimento. Beijinho
ResponderEliminarNão há que complicar. Um piropo é sempre bem-vindo. Conforme a disposição e o remetente, ou tem efeito ou não :)
ResponderEliminarOra nem mais, Maria João. Tão simples :)
EliminarSabe bem quando sentimos que é verdadeiro, agora uma parvoíce qualquer não aquece nem arrefece. E não é fácil dar elogios com o coração todo sem ser piegas, uma (quase) arte.
ResponderEliminar~CC~
Exacto. Uma arte entre o bom senso, o bom gosto e, porque não, o saudável humor.
EliminarQuando se recebe um elogio, agradece-se e sorrimos. :)
ResponderEliminarPartindo do princípio que se tomou chá, sim :)
EliminarE anda por aí tanta gente com "falta de chá"- Gostei do seu blog, escreve muito bem. :)
EliminarOlha um elogio. Obrigado :)
EliminarUm elogio convicto sabe sempre muito bem!
ResponderEliminarBoa tarde, Paulo :)
Sabe, se o emissor não for um bajulador, com uma agenda pérfida.
EliminarBoas, Maria :)
Se eu disser que, desde que este posto foi lançado, já o li varias vezes e tentei deixar ca um comentario,nao estarei a mentir...
EliminarE mais de dois meses depois, estupidamente consigo ter a mesma reação de ler e ficar sorrir com a ultima frase do texto. agora com a diferença que resolvi dizer isso mesmo: gosto da metáfora da ultima frase com ironia subjacente. Deixa me um sorriso pregado aos lábios por uns instantes, reportando a coisas ca minhas.
E continuo a gostar da escrita. Por isso, acabei por ter de deixar pelo menos, o sorriso neste comentario.
Viva, Alice.
EliminarQuero pedir desculpas por só hoje ter publicado o seu comentário - não tenho vindo aqui ao blogue, mas prometo inverter a situação. Quanto à frase que refere, fico muito contente que alguém mais atento tenha reparado na singela ironia subjacente... :-)
Um sorriso para si e um muito obrigado.