© Paulo Abreu e Lima

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Operação medo

Em breve vou submeter-me a uma cirurgia. Dizem-me que é coisa poucochinha, banal até. Já fui operado duas vezes. Uma às amígdalas, quando era moda nos anos setenta. Outra à vesícula, com aqueles buraquinhos que nos fazem na barriga e por onde entram espelhos e fiozinhos, há dez anos. Lembro-me bem desta última. Tinham acabado de me rapar os pelos do peito e abdómen, administrar um comprimido que nunca soube se tinha sido um ansiolítico ou não, quando entrei no bloco operatório e estava um frio que me rasgava os pulmões. Queixei-me mas não ligaram. Ouvi alguém avisar o anestesista que o paciente fumava e abri os olhos com firmeza para mostrar que era ruim de dormir. Em vão: já estava no recobro.

Agora é diferente. Tenho medo. Adiei esta intervenção até ao sofrimento diário, até me convencer do que uma dezena de especialistas já diagnosticara inevitável. Percorri tudo o que era alternativo e só faltava mesmo ter ido ao endireita rogar para que me sarasse a inflamação. Tenho medo de me esquecer das passwords e dos PINs, dos lábios carnudos do meu filho mais novo e do nariz perfeito da minha filha mais velha. Tenho medo que me cortem o milímetro a mais que me deixará incontinente, impotente e demente. Tenho medo de morrer no mesmo hospital onde desapareceu a minha avó. Também de olhos firmes e muito abertos. Tenho medo, raios, sou homem.

16 comentários:

  1. Meu caro Paulo
    Todos temos medo. Mas é melhor do que sofrer com dores.
    Vai com as minhas orações, que são especiais, porque S. José é meu padrinho de baptismo e eu vou-lhe pedir por si.
    E vai voltar a pegar nos seus filhos e a divertir-se com eles.

    Com um abraço e a benção da
    Helena

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  2. Paulo querido

    O medo é natural numa situação dessas.
    Perdemos o controle durante a anestesia. E essa sensação de não estar no comando dá medo mesmo. Além disso, a maturidade e o medo parece que caminham juntinhos.
    Tenha medo e não perca a fé. Opere-se com quem lhe passa ( apesar do medo) mais confiança.
    Estou aqui na torcida por você.
    Que lindo homem você demonstra ser!
    Beijo

    Lucia

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  3. Paulo,

    Vai correr bem, claro. Peace of cake, canja de galinha.

    De qualquer forma, quando for, avise para a gente torcer por si e, quando estiver bem acordado, dê aqui um alôzinho para a gente festejar.

    Apesar de ter percebido que não é já, já, vou já adiantando e desejando boa sorte. Até lá, divirta-se, Paulo, não fique a matutar no assunto que isso é do mais banal que existe, corre sempre bem.

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  4. Paulo, agora estou eu com medo, mas mando daqui um beijo muito carinhoso, e um abraço de conforto. Vai correr bem, descansa; e tens aqui quem torça por ti e pela tua rápida recuperação.
    Força, coragem, e muito boa sorte!

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  5. :)))
    ... mimalho...! :P
    Um nico de juízinho e uma pitada de calma, OK?
    Há quase três anos que te andas a 'mentalizar' para isto, que TEM de ser resolvido; devias dar pulos de alegria por estares perto da resolução.
    Acresce que eu já te assegurei que vai correr tudo lindamente, pelo que esparramares assim os teus fernicoques até me... cof, cof, digamos, 'desautoriza'!
    ;)
    Vai escrevendo os dados que aches cruciais - PINs e quejandos - só para te ocupares, que logo esqueces os receios) e dá uns belos bordejos com as crianças, para te saberem bem depois uns dias 'de recobro'...
    ;)
    Ai os homens, deuses, uma unha encravada já é um suplício!
    Podiam lá ter filhos!
    Pfffff...
    :))))

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  6. Como eu o entendo!
    Fui operada há um mês e meio e sentia o mesmo medo!
    Para minha alegria, a anestesista perguntou-me se queria anestesia total ou, algo que eu desconhecia, se preferia só ser anestesiada da cintura para baixo. Penso que se chama Raquianestesia.
    Com todos os meus medos e horrores a tudo o que é hospitais, consegui ficar feliz por não me adormecerem...não me obrigarem a entrar num estado do qual tinha horror de nunca acordar!
    Fiquei consciente, acordada e bem desperta …
    Se a sua operação não pode ser feita com esta anestesia … estou a ser de uma maldade indescritível! Se pode, espero estar-lhe a dar um pouco de paz nesse medo que só passa mesmo quando regressamos à nossa casa!
    Bom regresso a casa,

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  7. Fear NOT, my Friend.

    Everything 's going to be fine.

    Love

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  8. Muito obrigado pelos gentis e bonitos comentários. Acontece porém que não foi com o objectivo de os receber que escrevi aquilo lá em cima. Foi um desabafo curto só com sentido para quem é um homem com miúfa. Como eu.

    (Os comentários disseram bem mais de vós do que o post disse de mim. Mais uma vez, muito obrigado!)

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  9. :) Claro que tens. Todos temos, somos gente. Assumir a coisa assim é que já não é para todos... Tudo de bom, e muitos sorrisos.

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  10. Caro Paulo
    Eu enviei um comentário mas pelos vistos não chegou. Vai sob a minha protecção, o que é garantia de sucesso. Sou boa nestas coisas de pedir lá para cima. É que sou afilhada de S. José e ele tem-me em boa conta!
    Abreijo

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  11. Chegou, Helena: foi logo o primeiro!
    Mais uma vez e muito sentido, obrigado.
    Beijinhos,
    Paulo

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  12. Caro Paulo,

    Andei uns dias ausente da blogosfera e estou desactualizada... daí estar a ler e comentar com atraso.

    Também fui operada às amígdalas, quando começou a "moda" no final dos anos sessenta (tinha apenas 4 anos e é a minha memória mais antiga) e há dois anos fiz duas cirurgias maxilo-faciais (dentes do siso inclusos) - uma correu bem e a outra menos bem.

    Sou extremamente corajosa e resistente, mas tenho fobia a hospitais. Não se pode ter tudo!

    Tenho uma maneira muito própria de estar na fé católica por força das circunstâncias da vida, mas nunca passo por uma igreja sem fazer uma cruz na testa e as minhas únicas "cunhas" estão no Céu.

    Peço diariamente protecção aos meus santinhos de eleição e, tal como a Helena, também costumo ser agraciada com todas as bençãos.

    Acredite que tudo irá correr bem e todos estaremos consigo.

    Um abraço,

    Isabel BP

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  13. Muito obrigado pelas gentis palavras, Isabel BP. Sabe, na estrada, quando encontro um carro funerário com um defunto também faço sinal da cruz, como o meu pai - não interessa porquê.
    Na verdade, o meu maior receio é a anestesia. Tenho tanta consideração pelo médico cirurgião como pelo médico anestesista... enfim.

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  14. Só agora vi este post.
    Vai correr tudo bem, certamente.
    Nunca pasei por nada semelhante mas imagino que a ansiedade seja antural. Depois vai ficar bem

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