© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cascatas e cachoeiras portuguesas (i)

Quando catraio não percebia por que é que a água não corria toda de uma só vez e não se esgotava. Por vezes demorava horas a mirar à espera que tal acontecesse: alguém deixou soltar água do monte, há-de acabar na última gota. Mas esperava debalde. A sonoridade mantinha-se com a mesma cadência; a quantidade, com a mesma energia e as gotículas no ar colavam-se-me à cara. Com a benevolência dos sábios e a bonomia de outra idade, o meu tio Luís fazia-me pensar: já viste algum rio parado, que não corresse para o mar, ou para se juntar a outros rios, irmãos maiores? As cascatas não passam de rios ou ribeiras que correm na vertical em busca de novos parentes. Não param, ansiosas. Anos mais tarde havia de constatar, aturdido, ante a imponência das duzentas e setenta e cinco cataratas do rio Iguaçu; depois, ante as do rio Niágara. Dissiparam-se as dúvidas, mas manteve-se a inebriante contemplação por qualquer queda de água natural. Esse incontornável lastro de Vida.
 
Esta série pretende dar conhecimento de algumas cascatas portuguesas – muitas escondidas pela vegetação e fauna próprias daqueles acidentes.

Cascata da Pantanha, Canas de Senhorim, Viseu
 

9 comentários:

  1. Vi as cataratas do Niagara com -15º um espectáculo indescritível e que não registei - onde antes, registei, mas perdi os rolos que tinham sido indevidamente colocados um por cima de outro ( malefícios das máquinas antigas). Ficou-me na memória a força da corrente antes de chegar àquele momento fatídico em que se precipita com estrondo lá em baixo. Ali, a água ficava transformada em estátua ou estalagtite, como a mulher de Job, que ousou olhar para trás.

    Vi muitas outras cascatazinhas no país e ainda mais que a visão da água a cair, encanta-me o barulho que se desprende, aquele cantar constante, dolente e refrescante.

    Nos Açores vi muitas e fotografei-as...na Madeita, há o véu da Noiva, que é celebre.

    No jardim do meu vizinho têm uma fonte que pôem a correr aos domingos e à noite. Adoro aquele cantar...

    Bela foto....com aquele aveludado da água que se consegue com técnica e arte ... ( ou com fotoshop??). Já o vi em muitas fotos, parece que a água tem mais volume e não é feita de água, mas sim de leite!

    Bjo

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    1. Menina Virgínia, leia de uma vez por todas: eu nunca uso Photoshop! Usar Photoshop é enganar, aldrabar e mentir. O máximo que faço é assinar a fotografia (o que não adianta muito, pois basta que cortem a foto).

      A técnica é simples e é a mesma que utilizo para a fotografia nocturna: aumentar o tempo de exposição e reduzir a abertura de luz (já lhe dou os valores desta foto). O efeito é de movimento, o que vemos no espaço de um segundo inteiro.

      Gostei mais das cataratas de Iguaçu do que das de Niágara. A atmosfera é tropical e tem muito mais quedas de água, além de serem bem mais altas.

      Bjos,

      ISO: 100
      TE: 1/2 seg.
      F: 22

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  2. Não fiques ofendido, sou admiradora incondicional das tuas fotografias e sei que és um purista, como outros que conheço do Woophy , que levam meia hora a preparar cada foto que tiram e essas tornam-se preciosidades.

    Sim, adorava ir ao Iguaçu, fui ao Brasil, mas não me lembro de ver cataratas onde andei. Mas as mais lindas que vi até hoje ....até me esqueci de mencionar ....foram as de Ithaca no estado de NY , onde a paisagem é todas de lagos ( cinco que dizem ser os dedos dum Indio) e cascatas, qual delas mais bela e ressonante. Tenho fotos destas mas à antiga, guardadas algures num album dos EU.

    Thanks for your tips.

    Não aprecio muito a água assim leitosa, gosto dela mais solta e cristalina, mas isto é uma plebeia anonima a falar:)))

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    1. Menina Virgínia, eu não demoro meia hora a tirar uma fotografia... Mas também nunca tiro em modo automático, em que é só clicar e a máquina há-de fazer tudo por mim. Se eu quero uma determinada foto, sou eu que mando na máquina e não ela em mim. De qualquer forma, estou tão habituado a tirar em modo manual, ou seja, a ser eu a mandar na máquina que sou capaz de demorar menos tempo dos que apenas clicam.
      Outra coisa: há fotos de longa exposição que demoram horas a tirar (já aqui publiquei algumas dos rastos das estrelas), mas essas são as mais fáceis porque ficam no tripé enquanto fazemos outras coisas mais interessantes. Enfim, cada um faz o que quer e lhe apetece. Quanto à "água leitosa": mas se ela sai com pressão, cheia de espuma, como cristalizá-la...? Aí o photoshop pode ser ajuda preciosa... :))

      As cataratas de Ithaca ficam perto das do Niágara. Perto é como quem diz, ficam no mesmo estado.

      Beijos do nobre fidalgo à belíssima plebeia :P

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  3. Também tenho o fascínio da água, não sei por causa do meu signo, se por quê. Atrai-me e assusta-me, quase na mesma proporção. Sou capaz de ficar horas a contemplá-la, esquecida de tudo o resto. E adoro aquela ideia poética da água que corre como metáfora do fluir do tempo.

    Ficamos então à espera das outras cascatas portuguesas, escondidas em lugares maravilhosos que só o Paulo parece conhecer e nos vai revelando aos poucos, devagarinho, que é como tem que ser o que sabe mesmo bem.

    Amo a fotografia, que também é sempre uma surpresa boa. ;) Obrigada

    Beijinho :)

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    1. Também gosto muito de ouvir o "correr da água" (muitos SPA usam esse barulho para reconstruirem ambientes idílicos). Mais até do que o barulho das ondas que vêm e vão. O barulho do degelo nas montanhas, o ressurgimento da Vida, enfim, água doce que refresca e se bebe fresquíssima...

      Também gosto desta fotografia, mas a Virgínia diz que é Photoshop... :))

      Beijinho :)

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  4. Ai que exagerado, eu até puz um ponto de interrogação e duvidei que fosse PS!!!


    Fishing for compliments , é o que é. Vá ver a LUA e deixe-se de minhoquices, já lhe escrevi um mail a pedir desculpa por tão grosseiro erro. Era o mesmo que perguntar ao Carter Bresson se usava PS!!!:)))

    Bom, agora vou vender o meu projecto:))))

    Bjinhos contritos!

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  5. Paulo, já tomou banho numa cascata? Já se deixou acariciar pela energia que delas se solta? Se sim sabe a que me refiro e ao que nelas mais me seduz. Se não, vá aos nossos Açores - meu e seu - e entregue-se a essa explosão de eternidade. Não morra sem o fazer!

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  6. Claro que já, Helena. Sente-se a força da Natureza sobre todo o nosso corpo, como uma massagem revigorante que nos chega à alma. Sinto bem forte todos os quatro elementos e de nenhum receio, muito pelo contrário, deixo-me levar.

    Beijinhos,

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