© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 12 de abril de 2013

precipício

 


 

Se fosse preciso, os livros ensinavam, dos clássicos aos de cordel. Há, contudo, quem nunca tenha percebido: a vida é um caminho que bifurca repetidas vezes, demasiadas vezes, e, a espaços, deixa mesmo de ser carreiro; só quedas sem repetição. Muitas magoam, outras não. Mas o que é isso da dor e do sofrimento? Balelas. O caminho continua, com ou sem elas. A destreza de o percorrer depende quase sempre de o que com ele levamos. Sim, porque nós próprios somos concomitantemente caminhos e quedas profundas, com eco, e há sempre alguém disposto a nos calcorrear e a cair nos braços – ou nas costas –, indiferente ao nosso alvedrio. Disse balelas? Não, muitas vezes somos mesmo só dor e angústia; mas outras, a ponte pedestre de toros entre as escarpas altas do Indiana Jones, que se estira e balanceia a cada passo. E aquele súbito desenlaçar das cordas é a nossa mais previsível e perfeita perdição.


14 comentários:

  1. Como me revejo nesta descrição dos percalços e socalcos da Vida. Até me parece que já tive mais de meia dezena de vidas, tais foram os safanões no marasmo ou as quedas livres sem paraquedas....

    Linda fotograia, decerto tirada num momento de reflexão profunda....God bless them and you!

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    1. Penso que todos nos revemos, Amiga. Inclusive, muitas vezes até continuamos a escolher o lado mais sinuoso da vida. Pelo menos enquanto for uma escolha...

      Obrigado, beijo.

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    2. É curioso que à medida que envelhecemos,a dicotomia entre o parar e o arriscar é cada vez mais funda e mais difícil se torna optar por uma das vias.

      Se paramos, entramos numa espiral depressiva a olhar para o umbigo, negando-nos oportunidades e experiências diferentes.

      Se nos lançamos numa aventura perigosa para a qual não há certezas, corremos o risco de falhar e de sermos censurados por ter ambições desmedidas.

      Mas mais vale morrer à procura do Graal do que estagnar no sofá do conformismo e do tédio, não achas?

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    3. Acho, Virgínia! Sempre à procura do Santo Graal... até porque à medida que envelhecemos, não só ficamos mais sábios, como mais imunes às censuras alheias. Parar, estagnar, é que não!

      Beijos!

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  2. Belo texto!
    Mas trata-se de água. Da que se esgueira sempre por onde haja um orifício, um caminho, um mar. E aí, sim, ramifica-se, explode, avança. A menos que algo muito mais forte a trave no imediato. Mas, só no imediato, porque se "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", o que não fará uma água violenta.
    Com os seres humanos é diferente. É sempre o custo benefício que determina a decisão. Há quem prefira os custos, que, a longo prazo, compensam. Há quem prefira os benefícios que são imediatos e, às vezes, bem dolorosos a prazo. Tudo na vida, afinal, é escolha, é opção...

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    1. Belo comentário!

      Este seu texto, Helena, encaixa-se na perfeição no meu que quase dá vontade de fazer um aditamento, ou um post a quatro mãos... :-)

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  3. Ora Paulo, os livros não ensinam a viver. Nem a escolher, a cair e a levantar. Somos nós e estão em nós os caminhos, e é cá dentro que acontecem. Sempre...

    ( Escuta uma coisa, essa fotografia, ou muito me engano, ou é a Fraga da Pena... Estou enganada?? :))

    Beijinho

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    1. Sempre cá dentro, CF! Engraçado, engraçado, é muitas vezes sermos nós próprios o caminho de alguém. Mentira: por vezes é trágico...

      (Fraga da Pena, sim senhora :))

      Beijinho

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  4. Esqueci de dizer que além do belo texto a foto é esplêndida e a banda sonora linda.
    Portanto o Paulo fez escolhas maiores!
    E esta?!

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    1. E esta foi para me vexar em público, não foi? :-))

      Muito obrigado, Querida Helena!

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  5. As quedas, maiores ou menores, deixando nódoas negras mais ou menos fundas, fazem parte da caminhada. O caminho, como diz, continua sempre. Com o tempo, aprendemos talvez a desenvolver cicatrizes que atenuam a dor das feridas, mas é a permanente oscilação entre o segurança incerta da "ponte pedestre" e o perigo insondável do abismo ali tão perto, que reside o encanto de cada passo.
    Por isso, o lema tem que ser, cada vez mais, digo eu, um dia de cada vez, sem pressa de nada, presente, presente, presente...

    (Belíssimo post, Paulo! Profundo e perturbador também...)

    Beijinho :)
    Isabel

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    1. Um dia de cada vez, sim, Isabel, mas de olhos direccionados em frente, que isto de andar a olhar sempre para o chão (presente) pode trazer dissabores bem mais adiante...

      (Muito obrigado, Isabel!)

      Beijinho:)

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  6. Que curioso. Ao contrário de CF foi nos livros que mais aprendi a viver. Na vida, pratiquei, escolhi, ganhei e perdi. Mas foi neles, nas sua folhas, que sempre me acolhi.
    Acolhimento que apaziguou dores, enalteceu valores, compensou esforços. Certos livros e alguma música, acompanhar-me-ão até ao fim dos meus dias.
    A Agustina, por exemplo, devo uma boa parte daquilo que sou. E quando visitei, há dias, Clarice Lispector, percebi que as palavras podem, afinal, abraçar-nos de forma quase sensual.
    Mas isto sou eu, cara CF. Foram muitos os livros e os autores que me ajudaram a descobrir os meus caminhos.

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    1. Cara Helena, nos livros sorvo ideias sem fim. Ensinamentos vividos por quem os viveu no corpo. Apreendo-os, claro. Despertam-me, acordam-me, são uma experiência semelhante a outros ensinamentos externos. Também tenho alguns que me pertencem, claro. Não sei se por me ensinarem ou sossegarem, se por me fazerem sentido, no seguimento do que já sou. Mas mesmo nesses, só depois de os concretizar cá dentro os sinto válidos ao ponto de saber exactamente do que falam. Uma coisa é o que leio, outra o que experimento em mim...

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