© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Às estrelas, deixem o Céu (i)


Fotografia nocturna de longa exposição (duração: 2:35 h)

Como no céu, na Terra há momentos únicos, praticamente irrepetíveis. Os crentes chamam-lhes milagres; os outros, coincidências. Os místicos vão pelo sortilégio e os pragmáticos ficam-se pela sorte. Contudo, nada é por acaso. Venham, digam-me que é a conjugação de Marte e Vénus na casa do Sol. Falem-me da combinação dos quatro elementos, da fortuna e da morte. Vá, convençam-me pelos bons e maus espíritos, quantos entraram e quantos penados de mim anseiam sair; mostrem-me ponteiros magnéticos e, por certo, seguirei justo caminho. Custa-me viver sob o jugo do acaso e da sorte, é coisa que me chateia, mas incerto mesmo é depender única e exclusivamente de mim e de todos os que me rodeiam. Porém, uma singela dissemelhança: aqui, entre nós pela Terra, as metades e os terços tendem a juntar-se; aglomeram-se pelas próprias naturezas e vontades, por causas que os movem e por dignidades que permanecem. Por aqui, o caminho mais próximo pode ser sinuoso e demorado, não vem com guias, mas, por mais doloroso que possa parecer, é único e irrepetível. Porque afinal é na grandeza Humana que se escondem os maiores milagres. Exactamente no epicentro da colisão de todos os cometas. Acreditem.

13 comentários:

  1. Acho que reúnes no post a nossa verdadeira essência, Paulo. A humanidade é isso mesmo, aglomera-se por naturezas e vontades, e em caminhos traçados com base nelas. E é único e irrepetível, sim, o que torna tudo ainda mais pleno. Mesmo na dureza dos caminhos...

    ( Puxa, gostei deste. Gosto sempre, mas deste gostei muito. Mereces sorrisos, olha... :))

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  2. Acreditamos, claro que sim! E concordamos, também, enquanto nos deleitamos com mais uma perfeita conjugação de texto, música e imagem.

    Muito bonito, para nos deixar de olhos e ouvidos presos aqui e o pensamento à solta, entre a Terra e o Céu...

    Beijinho :)

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    1. Até porque como diz Sheakespeare em Hamlet, "há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia"...

      Mais uma vez, obrigado e beijinhos, Isabel :)

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  3. Hoje entraste por uns caminhos bastante obscuros e insondáveis para mim, o do acaso e do destino, conceitos que me inquietam, mas nos quais acredito.

    Na nossa vida quase todos os momentos são irrepetíveis, de modo que, como diz o MEC no livro que estou a ler, para quê olhar para o semáforo vermelho que é sempre igual e não olhar para as árvores, jardins ou pessoas que se movem à nossa volta no momento em que paramos o carro? Quantos minutos da nossa vida se esvaem a olhar para o semáforo ou a ver se o autocarro lá vem?

    Cada vez acredito mais em viver os minutos de cada dia, como se estivesse pendurada nos ponteiros dum relógio gigantesco, sem ânsias de chegar, mas com um enorme desejo de abarcar plenamente tudo o que aquele minuto me traz.

    Na faculdade li os pré-socraticos que se preocupavam muito com o devir da existência humana. A frase que melhor retive e ainda hoje relembro constantemente é a de Heráclito: Nunca poderemos banhar-nos duas vezes na mesma água do rio.

    So be it, my Friend. And Shakespeare is right, obviously.

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    1. Já que estamos em terrenos entre a crença e a filosofia, lembrei-me de uma frase budista que reza mais ou menos assim: ao longe, na montanha, avistei um animal, mais próximo pareceu-me um vulto, à medida que vinha na minha direcção descobri que era um homem e quando o cumprimentei descobri que era o meu irmão.

      Todos os momentos são únicos e irrepetíveis, sim, mas uns bem mais do que os outros...

      E, agora, só para chatear o chato do Heráclito, contraponho: podemos sempre banhar-nos duas ou mais vezes na mesma água de um rio, basta que este chegue ao mar, porque as ondas sempre vão e voltam :) Não leve a mal esta minha embirração com os pré-socráticos mas, como sabe, para eles tudo é composto por movimento e eu, algo conservador, discordo. Está a ver na foto aquela estrela mais brilhante no centro? É fixa, é a Estrela Polar.

      Beijos,

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    2. Ela é fixa, sim, mas tudo gira à sua volta. A probabilidade de te banhares na mesma água que o mar enguliu e voltou a cuspir é mínima, assim como tirares uma foto exactamente igual das cascatas que há dias aqui puseste. Mesmo que vás lá à mesma hora, o panorama será diferente e a foto também. Quando dizes que há momentos mais irrepetíveis que outros referes-te apenas ao impacto que eles exerceram na tua mente, não aos momentos em si. Porque todos são irrepetíveis em absoluto. Não sou filósofa....apenas cogito, ergo sum.

      Bjo

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    3. Não é filósofa, mas podia ser, ora :)

      Claro que estou a falar do que sentimos e não dos acontecimentos per se. Por isso é que falo de milagres, de sortilégios e de sortes, tudo coisas da Terra, muito mais próprias a sentimentos humanos. Finalmente, e também por isso, falo da grandeza Humana, como único local que não obedece à física onde tudo pode acontecer.

      (Então não disse mal da fotografia, daquelas que demoram mais de duas horas e meia... :))

      Beijos

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    4. Podes não acreditar mas estive minutos a olhar para a foto. O céu estrelado é em si mesmo um mistério e uma certeza. Não se sabe donde veio, mas sabe-se que permanecerá para lá de nós, dos nossos momentos irrepetíveis, para lá dos nossos sentimentos grandiosos...

      No dia dos Museus, que é amanhã, sou capaz de ir a Serralves ver o céu à noite. Têm um programa especial para amantes de astronomia. Oxalá não chova e o céu esteja limpo, o que duvido, pois hoje choveu e só abriu à tarde.

      Não sou bajuladora, nem crítica compulsiva....:)

      As tuas fotos são como os milagres, acredita-se nelas mesmo sem saber como foram tiradas:)))

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    5. Amiga, já me ofereci várias vezes para passar um fim-de-semana aí no Porto, ou onde quiser, para fazermos um périplo fotográfico. Ambos gostamos de desafios e aprendemos muito um com o outro!

      Bjos,

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  4. Os pragmáticos não se ficam pela sorte, Paulo. Ficam-se pela lei das probabilidades. Ou a teoria do caos. Essas pelo menos, e ao contrário da mera sorte, têm algum ponto de sustentação :)

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    1. Mentira! Quem se fica pela lei das probabilidades ou teoria do caos são os Gasparáticos :)
      Os pragmáticos começaram com Pascal e Fermat com os jogos de sorte e azar, dando origem às teorias dos jogos e só depois mais tarde às probabilidades dos frangos. Sei do que falo, carago! :PP

      Bom fim-de-semana, olhos verdes!

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