© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 10 de maio de 2013

locais fora do mundo (ii)


 
Há locais que nos acompanham por onde quer que os nossos olhos teimem descansar. Lugares que se juntam, percorrem caminhos e voltam, voltam sempre, onde quer que estejamos. Não importa se são feios ou bonitos, imensos ou apertados, luminosos ou penumbrosos. Quem nunca já sentiu nostalgia por um determinado beco imundo grafitado? Por um corredor escuro com uma porta ao fundo, alta, de verniz estalado e maçaneta de louça? Por um ermo descampado no meio de um caniçal? Os lugares são como os cheiros, uma vez entranhados, nunca mais saem da pele.
 
Neste, misturam-se águas de duas milenares ribeiras, pinturas rupestres da idade do bronze, pontes romanas e urzes violetas. Uma aldeia de três ou quatro casas, sete ou oito habitantes mais duas crianças. No Verão fecham a comporta e usufruem de uma praia privativa. Sofrem a "interioridade"…? Talvez, mas pelo primor com que conservam as suas casas e o espaço envolvente, não me parece que tédio algum os demova, rumo a um qualquer recreio comercial. A verdadeira cultura de subsistência reside noutro lugar. Algures pelas prateleiras de cimento da grande cidade.
 



Foz d'Égua

Um insignificante senão: só há um caminho para chegar à aldeia. Um bocadinho titubeante para quem carregue uma bilha de gás, ou... esqueçam.

 

22 comentários:

  1. Ou para quem tenha uns saltos altos!... :)

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    1. Ninguém vai de saltos altos para aquele sítio, certo? :)

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    2. Eu a ti, não juraria. Mulher que é mulher, usa saltos em qualquer lugar...:)

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    3. Não duvido. Muitas até concorrem em maratonas de saltos agulha... Pleaaase :)

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  2. Há fotógrafos que não são deste mundo....

    palavras para quê?

    Obrigada !

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    1. Não, muitos locais é que fazem desses fotógrafos um brilharete...

      Bjos,

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  3. Concordo consigo, Paulo, nessa ideia de que certos lugares se nos agarram à pele e à vida e passam a pertencer-nos, de certo modo. Ainda que não voltemos lá, em sentido estrictamente físico.

    Não tinha percebido que "locais fora do mundo" era também uma saga.
    Mas alegro-me com isso, porque gosto destes passeios virtuais por um Portugal que me é desconhecido (ma faute) e se vai revelando aos poucos nas suas "histórias de encantar", tão cheias de bom gosto e contenção, que revelam mas escondem, para não nos retirar também, em querendo, o prazer de os descobrir.

    Beijinho :)
    Isabel

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    1. Se tivesse em arquivo mais de 25.000 fotos, quantas "sagas" faria, Isabel? :) Mas o "editorial" fotográfico vai mudar, vou dedicar-me mais a fotos de longa exposição. Verá a diferença.

      Os lugares valem muito mais por tudo o que neles foi vivido, sem dúvida.

      Beijinho:)

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  4. E a canção do filme Into the Wild ( belo filme....) rima tão bem com isto tudo, Paulo. Andas inspirado.

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    1. Obrigado.
      Afinal de contas, o que é isso da "civilização"...?

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  5. È curioso como já encontrei na vida Amigos como tu: apaixonados pela "wilderness", fotógrafos de primeira água, sensíveis à Beleza da Natureza virgem - ou quase.

    Um deles trabalhou comigo durante mais de dez anos, foi meu compagnon de route e tb era, paradoxalmente, muito mais novo do que eu ( tal como tu). Em certa altura descobri que ele era tudo o que eu queria ser e não podia por força das circunstâncias e da Vida, que foi difícil q.b.

    Reencontro em ti toda essa chama, que tanto me atrai, the "impossible dream", the one I dreamt!

    Please continua: sagas, lendas, sonhos acordados, lugares deste e doutros mundos, cascatas, pontes levadiças, moinhos abandonados, regatos cristalinos....

    A civilização matou-nos a todos, somos todos paraplégicos existenciais, falhos daquilo que primordialmente de veríamos ser.

    Into the wild é uma necessidade....quanto mais não seja pela lente e pela mente.

    Luv

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    1. Ui, que belo comentário. Belo e acertadíssimo!
      Muito obrigado, Amiga!
      Bjs

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  6. De facto, "encantatório" :) Dá vontade de ir... belíssimas fotos, Paulo.

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    1. É, de facto, encantador, Fátima. Vale uma visita!

      Obrigado :)

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  7. Não tenho jeito nenhum para fotografia, mas conheço alguns sítios que gostava de te ver visitar. Um bem aqui perto. Quando rumares a Norte, pede-me as coordenadas. Um outro, a Sul, ardeu o ano passado. Até tenho medo de o voltar a procurar. Mas vou ver se encontra as fotos de como era.

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    1. Peço-te a coordenadas, sim (desde que não seja nenhum poço... é que tudo o que vem de ti, trás água no bico :))

      O nosso país está dizimado pelos incêndios. Por vezes vejo paisagens que deviam ter sido fantásticas, completamente cor de cinza. Manda fotos!

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    2. Também tem poços, sim. Mas tem antes rio. Esta imagem anda pela net. se fores um bom menino, ainda te levo lá :)

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  8. Paulo
    Já lhe disse que não gosto de ser fotografada. Raras vezes me sinto eu e, por via dos livros, já muito bons fotógrafos tiveram de me aguentar... tentando captar o interior visto de fora. Tarefa quase inglória que vem, contudo, melhorando, à medida que vou envelhecendo. Começo a gostar de ver as manchas da idade ou as rugas daquilo que vivi. Paradoxos...
    Dito isto, agora vai o contraditório. Gosto muito, mas muito, de ver boas fotografias. Sejam de gente ou de locais, sobretudo, quando elas trazem consigo cheiros, luzes, sombras, ruídos, silêncios de tempos que vivi ou vivo.
    Este blogue está a tornar-se uma verdadeira "cópula" de imagem e som. Eu sei que você percebe muito bem o elogio que lhe estou a fazer. Não há uma só dissonância entre uma e outro. Perfeito!

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    1. Helena,

      Percebo e fico muito lisonjeado, principalmente vindo de si, de uma pessoa de inquestionável bom gosto.

      Mas vou mudar um pouco o registo: mais escrita e menos fotografia e música. Estas últimas ficarão ao critério (e à imaginação) de quem me ler.

      Abraço,

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  9. Paulo
    A minha opinião vale o que vale. Mas você escreve muito, muito bem. E sabe pensar.
    Logo, escreva porque nos vai dar muito prazer com isso. A mim dará com certeza.
    Gosto de o ler, mesmo quando discordamos!

    Abreijo

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    1. Helena,
      Mesmo quando discordamos (e é tão saudável que assim seja), impera um respeito muito grande por si e pela personalidade pública que, quer queira quer queira não, é. Um exemplo: por vezes leio ataques gratuitos ao seu filho Paulo Portas (persona política) sem qualquer base argumentativa política, apenas adjectivando-o com epítetos profundamente desrespeitosos para qualquer ser humano e fico piurso quando lhe vêm dar palmadinhas nas costas quando a própria Helena discorda legitimamente da actuação deste governo. Poderia discordar do seu filho (e nem é bem o caso), mas jamais o chamaria de "burro, estúpido e hipócrita". Primeiro porque seria mentira; segundo, porque é um "ataquezinho" pessoal desprovido de substância. E nenhuma mãe gosta de ver o seu filho vilipendiado assim gratuitamente, sem fundamento nem conhecimento. Sei que está vacinada, mas e o pundonor...? Foi só um exemplo.

      Quanto ao resto, mais uma vez, muito agradecido.

      Com carinho,
      Paulo

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  10. Obrigada Paulo.
    Pundonor tenho, decerto. Mas como exigi-lo aos outros, que não sabem o que isso é?!

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