© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Fantasias sexuais



Depois de passar por um blogue de uma senhora que fala mal dos políticos consoante o seu aspecto físico (cada um argumenta com as razões e a espessura com que foi apetrechado), constatei, entre outras pretensões que visam disfarçar todo um terroir fértil em vacuidade, que a dita exercita onanismo à razão de três por cada quatro posts. Nada contra, a hora e o local do recreio são quando e onde um indivíduo quiser. E se cada um o tem à medida das suas satisfações e das suas possibilidades, a mais não é obrigado. Ademais, há quem retire mais prazer dos dedos nas teclas, que rato em queijaria alheia. Pois bem, entramos no opaco mundo da fantasia.
 
Depois de aturada e exaustiva análise sobre os estudos publicados nas revistas mais emblemáticas, com base em inquéritos (é sempre assim), as fantasias sexuais femininas são tudo menos mansas. Ora, sigamos para o checkpoint:
 
1- Fazer sexo com um estranho;
2- Fazer sexo com dois homens ao mesmo tempo;
3- Ser amarrada e dominada viril e veementemente;
4- Passar por prostituta;
5- Fazer sexo com outra mulher.
 
Estas cinco fantasias são as que mais vezes surgem nos lugares cimeiros do imaginário feminino, muitas outras haverá (que as há, a Mulher é profícua em inventar divertimentos, mas o meu já escasso pundonor impede-me de mencionar), mas fiquemos por aqui que o sortido é tudo menos fino.
 
Penso ser incontestável que o sexo é sobretudo cosa mentale, construção cerebral libidinosa tout court, onde a fantasia, enquanto instrumento desencadeador, constitui plat de résistance. Mas não mais do que isso. Tal como o segredo – que deixa de o ser se dito –, a fantasia sexual deixa de a ser se realizada. Não sou de opinião que não se concretize nenhuma, mas que se pondere muito bem nas consequências, pois, lá está, o prazer advém sobretudo da imaginação e parcas vezes da realização. Fundamental, numa conjugalidade sólida e evoluída, poderá ser então outra coisa: assumir a fantasia perante o companheiro e, em conjunto, brincar em toda a sua plenitude. Afinal, entre quatro paredes, ou entre o céu e a terra, tudo pode ser feito. Pelos vistos, mesmo que o companheiro seja um ecrã com teclas.

13 comentários:

  1. Ó Paulo, dá vontade de começar por lhe perguntar: mas o que é que anda a ler?
    De resto, passo ao lado desse "ranking", devo fugir ao padrão, ou não sei...
    E concordo mesmo é com o seu último parágrafo.

    (Gosto muito da fotografia - o que é um "déjà vu" - em si mesma e também a ilustrar este post).

    Beijinho :)

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    1. Ora, Isabel, toda a gente, uma vez por outra, esbarra na ralé da web em geral e na da blogosfera em particular. Quanto às fantasias femininas, pois, elas andam escarrapachadas por aí, por insuspeitas publicações. Assumir é que deve ser mais difícil. Íntimas e recônditas prescindem de publicidade, mas estão por aí, repito... :-)

      Obrigado, beijinho :)

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  2. Não questiono as fantasias, mas questiono seriamente aquela listinha ali em cima. Tens a certeza que os responsáveis pelas revistinhas não eram todos gajos?

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    1. Não sei quem são os responsáveis pelas "revistinhas" femininas (Elle, Vogue, Collezioni Donna Haute Couture, Nova, Wish Report, Hapers Bazaar, Uma, Claudia, etc), mas os inquéritos são assinados por mulheres (embora nunca tenha descartado a tua hipótese). Mas mesmo que tenha sido por "gajos", eu sou homem, e mais velho que tu (fica sempre bem dizer isto): bem espremidas e com natural franqueza, os "meus" resultados não divergem substancialmente. Agora que deve ser difícil assumir, deve. Mas para nós, homens parceiros, torna tudo bem mais fácil.

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  3. Tirando a treta do sexo entre duas mulheres que é claramente uma das fantasias voyeuristas favoritas dos homens, todas as outras reduzem a mulher a objecto, ainda que fazer sexo com um estranho nem percebo porque está no rol das fantasias, já que é para isso que que existe a "one night stand". E tu que és homem e mais velho do que eu achas mesmo que passa pela fantasia feminina ser objecto? Eu ia mais pelo lado do príncipe encantado, do fulano podre de rico e, essencialmente, por uma mistura nebulosa de texturas, cheiros e sabores que incluisse um parceiro esforçado com o mapa completo para o ponto g e tudo que fica pelo caminho.

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    1. É claro que é complicado assumir esse tipo de fantasias, aposto que quem o fez se socorreu do anonimato. É claro ainda que quem lê facilmente diz que não senhor, há lá mulher que se preze que diga em público sim senhor a um delírio como o enumerado? Agora mais longe, parece-te que a sociedade estaria preparada para levar com uma sexualidade feminina exposta dessa forma? Não está, claro que não está, e a nível abrangente, ou seja, em ambos os géneros. A validade dos "estudos" pode ser relativa, mas a abrangência do tema vai daqui ao céu, passando pela terra e pelo pecado dos infernos. Cada cabeça sabe de si e revela-o, se bem o entender, sendo essa a base, quanto a mim, da conjugalidade evoluída de que falo. Quer a fantasia seja dele, quer a fantasia seja dela, quer a fantasia seja dos dois. Penso ser destituído de interesse se neles a Mulher é objecto, objectivo ou agente passivo - googla "fantasias sexuais femininas" e constata se os resultados divergem muito dos que mencionei. Quanto ao lado por onde ias, não creio que se configurem como fantasias sexuais puras e duras, mas desejos, wishful thinkings perfeitamente concretizáveis e, principalmente, dizíveis. Há, porém, coisas inconfessáveis, mesmo com o presente e saudável (?) exacerbamento da emancipação feminina. Beijinhos, Hipatia.

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  4. Fantasia sexuais pouco mansas?! Mas há algumas mansas?! ;)

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    1. :))

      Não desmerecendo os comentários anteriores, essa sua pergunta-resposta teve "pinta". Pinta e classe, Maria João ;)

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  5. Meu caro Paulo, o que me fez rir...
    Naquela lista verdadeiramente trabalhosa - porque fazer de prostituta, dar o corpo ao manifesto de dois homens e ser amarrada, exige uma ginástica corporal digna de registo - falta o erotismo. Aquele em que se percorre lentamente o corpo de alguém, aquele em que o pulsar do outro se encadeia no nosso, enfim, aquela fusão que resulta da exaltação final, essa passagem única para o outro lado da vida.
    Sexo e erotismo são coisas tão diferentes que, ao olhar aquela lista, penso na parca vida sexual que terão tido os seus autores!
    Mas creio - sei lá bem porquê - que o meu amigo sabe do que falo. Mera intuição feminina...
    A foto, ah! a foto, diz tudo o que a lista indica. Magnífica para ilustrar as "belles de jour".

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    1. :))

      Mas aquela lista é o resultado de vários inquéritos feitos a vocês mulheres sob anonimato e, neste caso, quem não "brinca em serviço", ou quem não se poupa nos pensamentos libidinosos esforçados, são vocês (em geral, claro). Sem dúvida que erotismo é outra coisa, um outro jogo com outro tipo de regras onde os preliminares destacam-se em particular... A foto é de um Chalet emblemático de Sintra, o Chalet da Condessa d'Edla. Uma casa arquitectada não exactamente para residência, se bem me faço entender... ;-)

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    2. Quando falei em autores referi-me a elas e ao pouco que terão sexualmente vivido para terem sonhos daquele nível. Vão morrer, coitadas, tão virgens quanto nasceram...
      Os/as frequentadores da casa da Condessa d'Edia deviam ser gente cheia de encanto, presumo. E de dinheiro!

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    3. Era uma casa de refúgio e recreio de D. Fernando II e de sua segunda mulher, Elise Hensler, Condessa d’Edla. Ela, de 24 anos, antiga cantora de ópera teria com certeza o seu encanto e D. Fernando, obviamente, o seu dinheiro. Hei-de escrever um post sobre o chalet e seu magnífico jardim. Testemunhas de um grande romantismo e amor. Como diz o nosso embaixador, as coisas são mais simples do que parecem... :-)

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  6. Ou, direi eu, como o amor e o dinheiro tornam tudo mais simples...

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